depressão pós parto / Dra Aline Rangel

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1 de julho de 2023 transtorno bipolar

O transtorno bipolar tem ganhado cada vez  consistência de se tratar de um “espectro” de humor em detrimento de dois pólos distintos de humor: a mania e a depressão. A depressão bipolar, ou seja, episódios depressivos que acontecem em portadores do transtorno bipolar (TB), tem sido um dos temas prioritários de pesquisas recentes em psiquiatria e neurociências. O subdiagnóstico da depressão bipolar faz com que muito pacientes com este transtorno sejam diagnosticados de forma equivocada como depressivos unipolares e, como consequência,  tratados inadequadamente e com várias repercussões em sua qualidade de vida. 

A apresentação clínica da depressão bipolar também é uma questão controversa, com discussões sobre um possível predomínio de sintomas atípicos (sonolência excessiva, aumento do apetite e da sensibilidade à rejeição), ou de sintomas melancólicos e de retardo psicomotor. Além disso, a questão relativa ao uso, ou não, de antidepressivos em seu tratamento tem sido objeto frequente de discussões. Temos, por um lado, relatos sobre o desenvolvimento de episódios hipomaníacos/maníacos (ciclagem) e um possível aumento na frequência dos ciclos em associação ao seu uso e, por outro, a descrição de um potencial benefício no uso de antidepressivos nos casos mais graves.

Sintomas da depressão bipolar versus depressão unipolar

A diferenciação entre a depressão unipolar, especialmente a depressão recorrente, e a depressão bipolar pode ser difícil. Eventuais sintomas clínicos sugestivos de que o portador integre o denominado “espectro bipolar” são de difícil detecção, além de sua especificidade ser questionável. O diagnóstico diferencial pode ser particularmente difícil em situações como, por exemplo, episódios depressivos em indivíduos hipertímicos (personalidade caracterizada por boa disposição, alta reatividade emociona, otimismo, entusiasmo, muita energia, e extroversão) e episódios mistos com predomínio de sintomas depressivos (1).

Kraepelin descreveu que os episódios depressivos integrantes da doença maníaco-depressiva apresentariam uma maior inibição da vontade e um menor grau de disforia do que a melancolia (2). Ao longo das últimas décadas, características clínicas como início mais precoce, instalação abrupta, maior frequência de episódios, maior número de episódios, maior frequência de sintomas psicóticos, incidência no puerpério e maior risco de suicídio foram relacionadas à depressão bipolar. A lentificação psicomotora, associada à hipersonia e à presença de sintomas psicóticos, poderia indicar uma “assinatura” da depressão bipolar segundo alguns pesquisadores (3).

A diferenciação entre episódios depressivos unipolares e bipolares é importante, pois o tratamento da depressão bipolar inclui, necessariamente, o uso de estabilizadores de humor, pelo risco de ciclagem para mania e de possível piora do curso e do prognóstico da doença.

O tratamento da depressão bipolar

Estabilizadores do humor

Os dados disponíveis em pesquisas científicas indicam que, entre os estabilizadores do humor clássicos, o lítio apresenta a maior eficácia antidepressiva e é a primeira opção para o tratamento de episódios depressivos leves e moderados em portadores de TB. A carbamazepina e o valproato não apresentam efeitos antidepressivos robustos, de acordo com os resultados até agora relatados (4).

Antidepressivos

Eficácia na fase aguda

A questão sobre o uso de antidepressivos no tratamento da depressão bipolar tem sido objeto de discussões recentes, mas poucos estudos com uma amostra da população significativa foram realizados até o momento. Não há evidências sobre a maior ou menor eficácia de diferentes  antidepressivos no tratamento da depressão bipolar. Atualmente, a escolha por uma ou outra substância reside no risco da associação com episódios hipomaníacos/maníacos. Segundo artigos de revisão e consensos de especialistas, os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs) e a bupropiona são considerados os antidepressivos de “primeira opção” para o tratamento da depressão bipolar. Os inibidores da monoamina-oxidase (IMAOs) e a venlafaxina figuram como alternativas, principalmente nos casos em que não se observa resposta satisfatória aos ISRSs ou à bupropiona. Os antidepressivos tricíclicos apresentam elevado risco de “ciclagem”, e seu uso deve ser evitado nestes casos/

Eficácia na fase de continuação e manutenção

A continuação do antidepressivo após a remissão do episódio agudo de depressão é outra questão controversa. Alguns autores sugerem sua continuação por um período de dois a seis meses ressaltando-se que episódios mais graves podem necessitar de uma fase de continuação mais longa. Outros, adotam uma postura mais restritiva, sugerindo a continuação por um período de três meses após a remissão. Esta questão polêmica envolve o risco da ciclagem, por um lado, e o de uma recaída depressiva quando da retirada do antidepressivo, por outro.

Mania associada ao uso de antidepressivos

Existem na literatura vários relatos da ocorrência de sintomas maníacos associados ao tratamento com antidepressivos. Indivíduos com um padrão de evolução “depressão-mania-eutimia”, com antecedentes de múltiplas exposições a antidepressivos, história de abuso ou dependência de álcool ou outras substâncias psicoativas e antecedentes de ciclagem, teriam maior risco de apresentar ciclagem associada ao uso de antidepressivos. Desta forma, neste perfil de paciente, o uso de antidepressivo deveria ser evitado. Ainda não existe um consenso em relação à duração do tratamento de continuação com antidepressivos. Essa decisão deve ser individualizada para cada portador, levando-se em conta, por exemplo, o padrão de recorrências, os antecedentes de ciclagem associada ao uso do antidepressivo e a gravidade do episódio. Entre os novos anticonvulsivantes, a lamotrigina é o que apresenta maior número de evidências de eficácia antidepressiva, inclusive no tratamento em monoterapia de episódios depressivos em bipolares tipo I.

Novos anticonvulsivantes

Lamotrigina

Entre os novos anticonvulsivantes, a lamotrigina é o que apresenta maior número de evidências de eficácia antidepressiva, inclusive no tratamento em monoterapia de episódios depressivos em bipolares tipo I, podendo ser a opção para o tratamento de episódios depressivos leves e moderados (5).

Antipsicóticos

Os medicamentos antipsicóticos são comumente utilizados no tratamento da depressão bipolar, especialmente durante os episódios depressivos com características psicóticas. Eles ajudam a estabilizar o humor e reduzir alucinações e delírios. Alguns antipsicóticos comumente prescritos incluem olanzapina, quetiapina, risperidona e lurasidona.

Psicoterapia

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a terapia interpessoal (TIP), entre outras, são eficazes para ajudar indivíduos com depressão bipolar a compreender e gerenciar sua condição. Elas se concentram em identificar gatilhos, desenvolver estratégias de enfrentamento e melhorar os relacionamentos interpessoais.

Eletroconvulsiva (ECT)

A ECT pode ser considerada em casos graves de depressão bipolar ou que não respondem a outras opções de tratamento.

Mudanças no estilo de vida

Manter uma rotina diária estável, adequada ao ritmo circadiano, dormir adequadamente, fazer exercícios regularmente, praticar técnicas de gerenciamento do estresse e ter um sistema de apoio sólido são fundamentais o cuidado efetivo da depressão bipolar.

 

O tratamento da depressão bipolar requer uma abordagem abrangente que envolva medicamentos, terapia e mudanças no estilo de vida. Medicamentos como o lítio, antipsicóticos e estabilizadores de humor, como a lamotrigina, desempenham um papel crucial no gerenciamento dos episódios depressivos.

No entanto, é importante lembrar que o plano de tratamento deve ser adaptado às  necessidades específicas de cada indivíduo. Ao combinar medicamentos com psicoterapia, terapias complementares e uma rede de apoio, pessoas com depressão bipolar podem alcançar estabilidade e melhorar sua qualidade de vida. É essencial consultar um profissional de saúde mental para elaborar um plano de tratamento eficaz que aborde os desafios únicos da depressão bipolar.

 


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(1) Akiskal, H. S., Bourgeois, M. L., Angst, J., Post, R., Möller, H. J., & Hirschfeld, R. (2000). Re-evaluating the prevalence of and diagnostic composition within the broad clinical spectrum of bipolar disorders. Journal of affective disorders59, S5-S30. (2) Maina, G., Bertetto, N., DOMENE BOCCOLINI, F., DI SALVO, G., Rosso, G., & Bogetto, F. (2013). The concept of mixed state in bipolar disorder: from Kraepelin to DSM-5. Journal of Psychopathology19, 287-295.(3) Ghaemi, S. N., Angst, J., Vohringer, P. A., Youngstrom, E. A., Phelps, J., Mitchell, P. B., … & Gershon, S. (2022). Clinical research diagnostic criteria for bipolar illness (CRDC-BP): rationale and validity. International Journal of Bipolar Disorders10(1), 1-16. (4) Manchia, M., Vieta, E., Smeland, O. B., Altimus, C., Bechdolf, A., Bellivier, F., … & Andreassen, O. A. (2020). Translating big data to better treatment in bipolar disorder-a manifesto for coordinated action. European Neuropsychopharmacology36, 121-136. (5) Calabrese, J. R., Bowden, C. L., Sachs, G. S., Ascher, J. A., Monaghan, E., & Rudd, G. D. (1999). A double-blind placebo-controlled study of lamotrigine monotherapy in outpatients with bipolar I depression. Journal of Clinical Psychiatry60(2), 79-88.



15 de agosto de 2019 Todos

O nascimento de uma criança compreende a ruptura de uma realidade na família, uma vez que os pais devem alterar as rotinas para cuidar do bebê. O fato de a criança ser dependente, a amamentação e a mudança de hábitos diários podem ser grandes desafios a serem enfrentados, principalmente pela puérpera (mãe no período pós-parto).

Desse modo, podem surgir alterações de humor, como tristeza, depressão, agitação, alterações do ritmo circadiano, do sono e da alimentação. Na verdade, as condições psicossociais são cada vez mais prevalentes. Contudo, na maioria das vezes elas são transitórias e não necessitam de tratamento especializado por longo período. Entenda melhor essas alterações e como preveni-las.

Disforia pós-parto

Também chamada de blue syndrome, trata-se de alterações do humor transitórias e autolimitadas, caracterizadas por choro fácil, tristeza e pouca vontade de fazer as coisas relacionadas com o filho, apesar da consciência de cuidado com o bebê. Consiste no transtorno pós-parto mais comum, afetando até 60% das puérperas. Geralmente, se inicia no terceiro dia e desaparece, de forma espontânea, no décimo quarto dia. Por isso, diz-se que a disforia pós-parto tem um curso benigno, isto é, de curta duração. 

Depressão pós-parto

A depressão pós-parto ocorre com maior frequência em mães adolescentes; nas que tiveram depressão ou ansiedade previamente; nas que têm pouco suporte social; e nas que passaram por algum evento traumático durante a gestação.

O quadro se inicia após quatro semanas do parto, com sintomas de insônia, instabilidade emocional, cansaço extremo, falta de vontade de realizar as tarefas e tristeza profunda. A depressão pós-parto tem a particularidade da interação mãe-filho, uma vez que ela pode se recusar a cuidar do bebê, além de apresentar comportamentos de negação ao filho, nos casos mais graves.

O diagnóstico é feito pelo médico psiquiatra, a partir da entrevista e identificação de fatores de risco. Devem ser excluídas outras desordens hormonais ou transtornos mentais diferentes, que também cursam com sintomas depressivos. O tratamento para essa condição é individualizado e pode abranger psicoterapia e medicação. Caso haja histórico pessoal ou familiar de transtornos depressivos ou psicóticos, é necessária a consulta precoce a um médico.

Prevenindo a depressão pós-parto

Melhor que remediar os sintomas depressivos é prevenir que eles aconteçam. O método para isso é, principalmente, cuidar da saúde mental da mãe e evitar os fatores de risco. Além disso, há outras dicas também importantes. Veja abaixo as principais recomendações:

  • alimente-se bem, com produtos naturais, se possível, e em quantidades satisfatórias;
  • evite alimentos com cafeína e álcool;
  • peça ajuda a alguém de confiança, a fim de que você consiga tempo para dormir;
  • faça exercícios físicos regularmente;
  • mantenha vínculos de amizade e se proporcione tempo para realizar hobbies;
  • evite o isolamento social;
  • conserve os pensamentos positivos;
  • não se furte de pedir ajuda aos profissionais: médicos e psicólogos;
  • medite: meditação guiada aumenta os circuitos neuronais que causam boas sensações;
  • apegue-se à sua fé e se aproxime da figura divina que você crê.

 

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!



15 de abril de 2019 Todos

Mais de 25% das mães brasileiras têm sinais de depressão pós-parto, como apontou a pesquisa sobre fatores associados à depressão pós-parto no Brasil, feita com cerca de 24 mil mulheres de todo o país pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fiocruz (RJ). Mais comum do que parece, essa forma de depressão é uma doença e precisa ser tratada assim que diagnosticada.

Sentir tristeza após o parto é normal, principalmente por causa da adaptação física e emocional à nova realidade, além das alterações hormonais bruscas que o corpo sofre. Porém, se a tristeza persiste, com uma intensidade maior, é preciso buscar ajuda. A depressão depois do nascimento do bebê começa algumas semanas depois do parto e deixa a mulher incapacitada, com dificuldade de realizar as tarefas do dia a dia. Ansiedade, irritabilidade, mudanças de humor, cansaço e desânimo persistentes estão no topo da lista de indícios, que também passam por diminuição de apetite e insônia.

Causas da depressão pós-parto

Não existe uma única causa conhecida para tal depressão. De acordo com o Ministério da Saúde, ela pode estar associada a fatores físicos, emocionais, estilo e qualidade de vida, além de ter ligação, também, com histórico de outros problemas e transtornos mentais. No entanto, a principal causa desse quadro é o enorme desequilíbrio de hormônios em decorrência do término da gravidez.

Outros fatores que podem causar ou ajudar a provocar a depressão pós-parto são: privação de sono, isolamento, alimentação inadequada, sedentarismo, falta de apoio do parceiro, falta de apoio da família, depressão, ansiedade, estresse, vício em crack, álcool ou outras drogas.

O diagnóstico desse quadro de depressão é basicamente clínico, feito com observação nos sintomas e na situação em específicos. Se não tratada adequadamente, a doença pode durar meses e até tornar-se em um distúrbio depressivo crônico. Além disso, a condição pode acarretar consequências para o bebê.

Desatenção, descumprimento do calendário de vacinação e dificuldade para amamentar são algumas das implicações instantâneas, mas as consequências do quadro depressivo na mãe podem ir além. Um estudo britânico realizado com 10 mil mães descobriu que as mulheres diagnosticadas com depressão depois do nascimento do bebê têm 2 vezes mais chances de ter filhos com problemas comportamentais e propensos a desenvolver transtornos psicológicos na adolescência.

Tratamento para a depressão pós-parto

O tratamento desse quadro é feito individualmente, de acordo com cada caso, com medicamentos antidepressivos combinados com psicoterapia. O aconselhamento e o apoio de família, parceiro(a) e amigos é fundamental, pois ajuda a tratar e a prevenir depressão, depressão pós-parto e depressão durante a gravidez.

Os medicamentos para depressão pós-parto são usados para reequilibrar as substâncias químicas no cérebro. Eles atuam para melhorar o humor, ajudar no sono e fazer com que a mulher se sinta menos irritável. Esse tipo de tratamento exige disciplina com horários e costuma levar de 2 a 4 semanas para fazer efeito. A psicoterapia deve ser feita por mais tempo, até que a mãe se sinta segura para voltar às atividades do dia a dia.

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