dor crônica / Dra Aline Rangel

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Anedonia é a dificuldade ou incapacidade de uma pessoa em sentir prazer ou se motivar a realizar atividades que antes eram prazerosas. A anedonia como um sintoma, ou seja, como uma sensação sentida ou observada, é condição essencial para o diagnóstico do Transtorno Depressivo, juntamente com o humor triste, mas pode estar presente em outros transtornos psiquiátricos e condicões clínicas diversas. Infelizmente, muitas pessoas negligenciam o diagnóstico de depressão quando não há percepção de tristeza no paciente que está “gritando por ajuda”. Em geral, encontramos um indivíduo com o humor indiferente ou até irritado e, embora pareça funcional (trabalha, estuda, etc), tudo é feito com uma completa falta de prazer ou motivação, vitalidade e/ou percepção de recompensa – isso é a anedonia!

Classificação da anedonia

Como mencionado anteriormente, a anedonia é um sintoma e pode estar ligada a casos de depressão, depressão leve persistente (distimia), fibromialgia, fadiga crônica, esquizofrenia, etc. Ela pode ser classificada em dois tipos — social ou física. No primeiro, o paciente tem desinteresse no contato com a sociedade ou em realizar atividades com outras pessoas. Já no segundo, a pessoa apresenta uma incapacidade de sentir prazer no toque, contato íntimo ou em comer, por exemplo. Esta classificação é antiga em psiquiatria e tem mais uma finalidade didática.

Além de apresentar desinteresse em relação ao próximo, pacientes com anedonia têm indiferença em relação a si mesmo. O indivíduo parece estar emocionalmente vazio ou “congelado”, sem sofrer alterações de humor, independentemente do que aconteça ao seu redor. A disfunção ainda provoca uma sensação de desconexão com o mundo e eleva o risco de suicídio.

Tratamento da anedonia

Apesar da anedonia ser muito comum em pacientes com depressão, nem sempre uma pessoa deprimida apresentará o sintoma. De outra forma, ela pode estar presente em usuários de drogas e álcool, sobretudo durante as crises de abstinência, e também quem sofre de esquizofrenia, neurastenia. ou fadiga crônica, Mal de Parkinson, câncer, estresse pós-traumático, distúrbios alimentares e transtornos de ansiedade. Por se tratar de um sintoma e não um transtorno, pode ser tratada e curada. Na maioria dos casos, o tratamento tem como foco a doença base, como a depressão ou outra psiquiátrica.

A ajuda de um profissional especializado em saúde mental é fundamental para o tratamento desta condição. Numa consulta com um psiquiatra, por exemplo, o paciente poderá identificar as condições associadas  a esse sintoma, diagnosticar se existe um transtorno psiquiátrico associado, como a depressão. Se necessário, poderá ser prescrito medicamentos, como antidepressivos ou remédios direcionados para o problema psiquiátrico identificado.

Ainda, é importante se preocupar com a rotina da pessoa, incluindo boa alimentação, movimentar-se ou atividade física constante, sono regular e momentos de lazer. Técnicas de relaxamento e respiração, acupuntura e massagens também são alternativas recomendadas, pois ajudam a acalmar a mente, diminuindo os pensamentos negativos. Além disso, dão mais disposição e proporcionam a melhora da saúde como um todo.

É necessário “marcar hora” com as atividades que outrora lhe davam prazer. Fazer listas, um diário, registrar a emoção ou ausência desta na ocasião em que estiver vendo um perfil de série que goste, por exemplo, é uma técnica validada e recomendada, ainda que pareça “uma grande bobeira”. A ideia do tratamento é resgatar “as bobeiras da vida” também e reagir a elas.


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HPV é a sigla para Papilomavírus Humano, um vírus altamente contagioso que afeta a pele e as mucosas, incluindo a pele genital, o ânus, a boca e a garganta. Existem muitos tipos diferentes de HPV, e a maioria é inofensiva e não causa sintomas.

No entanto, alguns tipos de HPV podem causar verrugas genitais e podem levar ao desenvolvimento de câncer cervical, câncer anal e outros tipos de câncer. A infecção pelo HPV é comum e pode ser transmitida por contato sexual com uma pessoa infectada.

O HPV é geralmente detectado por meio de exames de Papanicolau e testes de DNA, que podem ajudar a identificar infecções por HPV que podem levar a câncer. Existem vacinas disponíveis para ajudar a prevenir a infecção pelo HPV, especialmente para meninas e meninos antes de se tornarem sexualmente ativos.

HPV e a Saúde Mental

A infecção pelo HPV pode ter um impacto negativo na saúde mental das pessoas afetadas, especialmente no que diz respeito ao câncer cervical e outros tipos de câncer associados ao HPV. O diagnóstico de uma infecção por HPV pode ser estressante e preocupante, e o risco de desenvolver câncer pode ser emocionalmente difícil.

O tratamento de verrugas genitais causadas pelo HPV, como a remoção cirúrgica, pode ser desconfortável e constrangedor, afetando a autoestima e a autoimagem das pessoas.

É importante abordar a saúde mental das pessoas afetadas pelo HPV em seu plano de tratamento. Isso pode incluir aconselhamento ou terapia para ajudar a lidar com o estresse e a ansiedade associados ao diagnóstico e tratamento da infecção por HPV.

Obter informações precisas sobre o HPV e seus efeitos na saúde, bem como adotar medidas preventivas para reduzir o risco de infecção pelo HPV, como a vacinação e o uso consistente de preservativos durante a relação sexual é o principal remédio “remédio” contra a infecção. Essas medidas podem ajudar a aliviar a preocupação e o estresse associados ao HPV e a melhorar a saúde mental geral das pessoas afetadas.

Fontes

https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1614-virus-causador-do-cancer-de-colo-uterino-e-recorrente-e-maioria-se-infecta-diz-febrasgo

Ferenidou, F., Salakos, N., Vaidakis, N., Paltoglou, G., Bakalianou, K., Papadimitriou, G., & Creatsas, G. (2012). The impact of HPV diagnosis on women’s sexual and mental health: preliminary findings. Clinical and Experimental Obstetrics & Gynecology39(1), 79-82.


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Endometriose é uma condição na qual o tecido que reveste o interior do útero (o endométrio) cresce fora do útero, geralmente na região pélvica. Isso pode causar uma variedade de sintomas, incluindo dor pélvica, períodos dolorosos, dor durante o sexo, infertilidade e problemas intestinais ou da bexiga.

A endometriose é uma condição crônica que afeta aproximadamente 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva, e embora não haja cura, há uma variedade de tratamentos que podem ajudar a controlar os sintomas. Esses tratamentos podem incluir medicamentos para alívio da dor, terapias hormonais, cirurgia para remover o tecido endometrial ou uma combinação dessas abordagens.

Impactos da Endometriose

É importante observar que a endometriose pode ser difícil de diagnosticar, pois os sintomas podem ser semelhantes aos de outras condições. Se você está experimentando dor pélvica ou outros sintomas, é importante conversar com seu médico, que pode ajudar a determinar se a endometriose pode ser a causa e recomendar o tratamento apropriado.

A endometriose pode ter um impacto significativo na saúde mental das mulheres que a vivenciam. A dor crônica e outros sintomas associados à endometriose podem causar estresse, ansiedade, depressão e problemas de sono, afetando negativamente a qualidade de vida.

Endometriose e a Sexualidade

A endometriose pode afetar a vida sexual das mulheres, pois pode causar dor durante a relação sexual (dispareunia) e diminuição do desejo sexual. Além disso, a dor crônica e outros sintomas associados à endometriose podem afetar a disposição e o interesse sexual das mulheres.

É importante que as mulheres com endometriose conversem com seus parceiros sobre como a condição pode afetar sua vida sexual e trabalhem juntos para encontrar maneiras de lidar com isso. Isso pode incluir experimentar diferentes posições sexuais para minimizar a dor, usar lubrificantes para ajudar a aliviar o desconforto e estabelecer uma comunicação aberta e honesta sobre as necessidades e preocupações de cada parceiro.

Além disso, a endometriose pode afetar a fertilidade, o que pode ser emocionalmente difícil para as mulheres que desejam engravidar. A preocupação com a fertilidade pode levar a sentimentos de tristeza, frustração e estresse.

Tratamento

O tratamento da endometriose pode ajudar a melhorar a dor e outros sintomas associados à condição, o que pode ter um impacto positivo na vida sexual das mulheres. É importante que as mulheres conversem com seus médicos sobre seus sintomas e possíveis opções de tratamento para ajudar a melhorar sua saúde sexual e qualidade de vida.

Fontes

Wang, Y., Li, B., Zhou, Y., Wang, Y., Han, X., Zhang, S., … & Ouyang, L. (2021). Does endometriosis disturb mental health and quality of life? A systematic review and meta-analysis. Gynecologic and obstetric investigation86(4), 315-335.

Facchin, F., Barbara, G., Saita, E., Mosconi, P., Roberto, A., Fedele, L., & Vercellini, P. (2015). Impact of endometriosis on quality of life and mental health: pelvic pain makes the difference. Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynecology36(4), 135-141.

Escuta minha dor

 


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Fevereiro Roxo é uma campanha de conscientização sobre a fibromialgia, uma condição de saúde que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A fibromialgia é uma síndrome de dor crônica que causa dores musculares, fadiga, insônia e outros sintomas. A campanha Fevereiro Roxo tem como objetivo aumentar a conscientização sobre a fibromialgia, fornecer informações sobre a condição e apoiar aqueles que sofrem com ela. É importante reconhecer a fibromialgia como uma condição real e validar as experiências das pessoas que sofrem com ela, para que possam receber o tratamento e o apoio adequados.

O que é a Fibromialgia?

Embora ainda não haja uma compreensão completa da fibromialgia, estudos mostram que as pessoas com a condição experimentam níveis significativos de dor crônica, fadiga e outros sintomas. A dor associada à fibromialgia é considerada uma dor central, o que significa que é causada por problemas no sistema nervoso central e não por lesões ou doenças nas articulações ou músculos. No entanto, a dor é real e afeta seriamente a qualidade de vida das pessoas que sofrem com a condição. É importante que as pessoas com fibromialgia recebam o diagnóstico e o tratamento adequados para ajudá-las a gerenciar sua dor e melhorar sua qualidade de vida.

Fibromialgia e Preconceito

A dor crônica e a fadiga associadas à fibromialgia são sérias e podem afetar significativamente a qualidade de vida das pessoas. O sofrimento é real e, infelizmente, ainda há muito desconhecido sobre esta condição, o que pode levar a dúvidas e descrenças.

Infelizmente, ainda existe preconceito em relação a pessoas com fibromialgia e outras condições de dor crônica. Algumas pessoas podem duvidar da existência da fibromialgia e acreditar que é uma desculpa para seus sintomas ou uma condição mental, em vez de uma condição física real. Isso pode levar a discriminação no local de trabalho, na escola ou em outros aspectos da vida social e pode afetar significativamente sua capacidade de realizar tarefas diárias e sua qualidade de vida.

Como ajudar alguém com Fibromialgia

Se você está procurando ajudar alguém que tem fibromialgia, aqui estão algumas dicas que podem ser úteis:

  1. Compreenda a condição: Aprenda tudo o que puder sobre fibromialgia, incluindo sintomas, tratamentos e como a condição pode afetar a vida da pessoa.
  2. Seja compreensivo: As pessoas com fibromialgia enfrentam uma dor constante e fadiga, então seja compreensivo com suas limitações e ajude-as a gerenciar sua dor.
  3. Seja paciente: A fibromialgia pode afetar a capacidade da pessoa de realizar tarefas cotidianas, então seja paciente e ajude-as a completar tarefas se precisarem.
  4. Ofereça apoio emocional: A fibromialgia pode levar a depressão e ansiedade, por isso ofereça apoio emocional e incentive-os a procurar ajuda se precisarem.
  5. Respeite seus limites: A fibromialgia pode tornar as tarefas cotidianas difíceis, então respeite os limites da pessoa e ofereça ajuda quando precisar.
  6. Encoraje a busca de tratamento: Encoraje a pessoa a procurar tratamento e a trabalhar com seu médico para encontrar a melhor abordagem de tratamento para suas necessidades.

Tratamento da Fibromialgia

Não há um tratamento único que seja o melhor para todas as pessoas com fibromialgia. O tratamento é personalizado e depende das necessidades individuais de cada pessoa. O objetivo é ajudar a aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida.

No entanto, existem tratamentos e estratégias que podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas com fibromialgia. Isso pode incluir medicamentos para dor, terapia física, terapia ocupacional, terapia comportamental e outras terapias. Além disso, mudanças no estilo de vida, como a prática de atividade física regular e a adesão a uma dieta saudável, também podem ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas com fibromialgia. Atenção: atividade física não é sinônimo de academia e/ou musculação e dieta saudável tampouco é igual a dieta restritiva. Movimente seu corpo.

É importante que as pessoas com fibromialgia trabalhem com seu médico e equipe de saúde para encontrar a melhor abordagem de tratamento para suas necessidades individuais. O apoio de familiares, amigos e outros membros da comunidade também pode ser extremamente valioso para as pessoas com fibromialgia, especialmente quando se trata de lidar com o impacto da condição na sua vida diária.

É importante lembrar que a fibromialgia é uma condição real e debilitante. As pessoas com fibromialgia merecem respeito e compaixão, e precisam de apoio e compreensão para lidar com sua dor e superar os desafios da vida cotidiana.

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A Neurastenia (neuro = cérebro, astenia= fraqueza), é um transtorno psicológico resultado do enfraquecimento do sistema nervoso central, culminando em cansaço física e mental. É um termo antigo, usado pela primeira vez por George Miller Beard, em 1869, para designar um quadro de exaustão física e psicológica, fraqueza, nervosismo e sensibilidade aumentada (principalmente irritabilidade e humor depressivo).Era um diagnóstico muito frequente no final do século XIX que desapareceu e foi revivido várias vezes durante o século XX sendo incluído no CID-10 pela OMS mas não pelo DSM-5. Sua prevalência está entre 3 e 11% da população mundial, sendo tão comum em homens quanto em mulheres.

Era um diagnóstico muito frequente no final do século XIX e foi revivido várias vezes durante o século XX, sendo incluído no CID-10 pela Organização Mundial da Saúde. Os Estados Unidos são campeões no ranking de prevalência da doença e chegaram até a batizá-la como “americanitis”, pois a consideravam como transtorno psíquico característico dos americanos.

Principais sinais e sintomas da neurastenia

Além do cansaço, pode ser causada por combinação de fatores genéticos e ambientais, rotinas estressantes ou problemas familiares. Entre os principais sintomas estão:

  • dor de cabeça;
  • esgotamento físico e emocional;
  • dores no corpo;
  • aumento da sensibilidade;
  • pressão e peso na cabeça;
  • zumbidos no ouvido;
  • tonturas;
  • alterações no sono;
  • cansaço excessivo;
  • dificuldade em relaxar;
  • dificuldade de concentração;
  • dormência e formigamento dos membros;
  • distúrbios gastrointestinais;
  • ansiedade ou depressão.

 Por apresentar sintomas parecidos com os de outros transtornos psicológicos, a neurastenia deve ser cuidadosamente analisada por um psiquiatra. Além disso, a rotina do paciente e o histórico de saúde também precisam ser verificados. Ainda, o médico pode realizar testes psicológicos, baseados nos sintomas e na duração, que deve ser superior a três meses.

No geral, o psiquiatra observará se o paciente apresenta:

  • exaustão persistente e angustiante após esforço físico ou mental menor;
  • sensação geral de mal-estar acompanhada por um ou mais sintomas — dores musculares, tonturas, dor de cabeça de tensão, distúrbios do sono, incapacidade de relaxar e irritabilidade;
  • impossibilidade de se recuperar por meio de descanso ou atividade prazerosa;
  • sono não reparador, muitas vezes, incomodado com pesadelos;
  • Algo não causado por distúrbios mentais orgânicos, mas sim por outros transtornos afetivos, transtorno do pânico ou transtorno de ansiedade generalizada.

Neurastenia ao longo dos séculos XIX, XX e XXI

A neurastenia foi um diagnóstico comum que teve origem no final do século XIX e permaneceu popular por mais de 60 anos. O diagnóstico tornou-se amplamente adotado porque fornecia uma nova perspectiva sobre as dificuldades dos pacientes. Argumentava-se que todos os casos de neurastenia compartilhavam um padrão comum de sintomas, um curso semelhante, uma via causal comum e uma tendência a responder a alguns tratamentos interessantes. Assim, por muitos anos, a neurastenia infiltrou-se no mundo médico e tornou-se um fenômeno diagnóstico generalizado.

A medicina moderna enfrenta dificuldades ao diferenciar uma doença clínica de um transtorno emocional. Na verdade, muitas vezes há algum grau de sobreposição e comorbidade (ocorrência de duas doenção ao mesmo tempo ou associadas) entre distúrbios clínicos e transtornos psiquiátricos. Corpo e mente estão entrelaçados e o estado mental de um paciente terá um impacto em sua condição física.

O diagnóstico de neurastenia perdeu importância e passou a se subdiagnosticado após 1920 devido à ênfase em uma abordagem mais científica para a medicina. No entanto, o diagnóstico de neurastenia permaneceu intacto. Durante a década de 1940, a neurastenia foi descrita como uma condição psiconeurótica viável classificada junto com histeria, ansiedade, compulsões e neuroses traumáticas. Mais recentemente, a neurastenia tem sido descrita como uma categoria diagnóstica viável em livros didáticos  e sistemas de diagnóstico da Organização Mundial de Saúde.

Ao longo da história da neurastenia, ficou claro que a maioria dos médicos se sentia mais confortável em fazer um diagnóstico de um problema médico do que em considerar os sintomas como enraizados emocionalmente. Como muitas vezes não havia uma causa orgânica identificável, os médicos às vezes se recusavam a tratar pacientes neurastênicos ou se contentavam em fornecer conselhos vagos para lidar com os sintomas da neurastenia. No entanto, recomendava-se “evitar tratar os sintomas neuróticos como se houvesse uma doença orgânica presente… administrar medicamentos e realizar operações claramente nunca pode remediar o que não está lá para ser remediado”.

Com o tempo, a causa provável da neurastenia passou a ser vista como um conflito psicológico em vez de uma “exaustão” do sistema nervoso . Houve uma ênfase em evitar prescrever longos períodos de repouso, pois isso poderia convencer os pacientes de que eles estavam incapacitados ou com deficiência grave. Ainda hoje, parece útil enfatizar as forças e a resiliência do paciente no caminho para a saúde, em vez de sua incapacidade e fraqueza. Além disso, o estado mental adoecido às vezes era o foco do tratamento em vez do conjunto de sintomas.  Assim, não foi surpreendente que os pacientes se beneficiassem de uma avaliação honesta e de uma atitude de apoio de seu médico. O estado mental do paciente precisava de tratamento além da condição física.

Os pacientes com neurastenia eram caracterizados pela expressão “dupla carga do neurastênico” devido ao sofrimento subjetivo e às reações sociais dos outros que podem não ter respeitado a realidade de sua experiência. Essa carga reforçou a opinião dos médicos de endossar uma base médica para a neurastenia. A neurastenia foi reconhecida como uma condição médica, tanto por pacientes quanto por médicos, reduzindo provavelmente o interesse por fatores psicológicos potenciais. A sobreposição significativa dos diagnósticos modernos e históricos relacionados ao sofrimento devido à fadiga sugere que há muito a ser compreendido sobre este quadro clínico-psicológico. Hoje, século XXI, observamos  novamente essa sobreposição de sinais e sintomas em casos contemporâneos de síndrome da fadiga crônica e fibromialgia.

Agende sua consulta com a Dr. Aline Rangel psiquiatra e sexóloga.

Qual é o tratamento indicado?

O tratamento tem como principal objetivo oferecer uma melhor qualidade de vida, reduzir os sintomas e promover uma rotina mais leve ao paciente. Na maioria das vezes, a melhor indicação é a psicoterapia combinada com o uso de medicamentos, que estimulam a produção e liberação de hormônios responsáveis pelo bem-estar.

Além disso, é importante que o paciente se comprometa a adotar novos hábitos de vida e que mantenha uma alimentação equilibrada e rica em fibras, legumes, verduras e frutas. Ainda, que evite uso de bebidas alcoólicas, comidas gordurosas e cigarro, por exemplo. É indicado também praticar atividades físicas regulares, o que ajudará a estimular a produção de hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar, ajudando a relaxar.

Por fim, pessoas com neurastenia devem evitar rotinas estressantes, reservando pelo menos um dia por semana para o descanso, de preferência em locais tranquilos, agradáveis e com bastante ar puro.

Ao explorarmos a história do diagnóstico da neurastenia, percebemos o quão complexo e multifacetado é o campo da medicina e da saúde mental. A neurastenia, que foi amplamente diagnosticada e discutida durante mais de seis décadas, foi gradualmente desaparecendo à medida que a medicina buscava uma abordagem mais científica. No entanto, é importante reconhecer que a experiência de sofrimento dos pacientes persistiu, mesmo que os sintomas fossem vagos e não específicos.

Hoje, vemos esses mesmos desafios na compreensão de condições como a síndrome da fadiga crônica e a fibromialgia. Embora esses diagnósticos tenham evoluído e sido reconhecidos de forma mais precisa, ainda existem semelhanças intrigantes com a neurastenia do passado. A sobreposição dos sintomas de fadiga, dores musculares e dificuldades cognitivas é evidente, assim como a busca por validação e compreensão da experiência subjetiva do paciente.

Nossa compreensão dessas condições está em constante evolução. À medida que avançamos, devemos aprender com os erros do passado e evitar cair em armadilhas de diagnósticos excessivamente amplos ou imprecisos. É fundamental reconhecer a interação complexa entre o corpo e a mente, entendendo que os fatores psicológicos e sociais desempenham um papel crucial nas manifestações físicas dessas condições.

 


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Referências: Overholser, J. C., & Beale, E. E. (2019). Neurasthenia. The Journal of Nervous and Mental Disease, 207(9), 731–739.




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    Médica graduada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro.


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