Fobia / Dra Aline Rangel


5 de agosto de 2020 Todos

Pouco se fala sobre a morte em nossa cultura e pouco se sabe sobre ela. Afinal, como é morrer? O que há além da morte? Quando ou como irá acontecer? Essas perguntas, que seguem sem respostas, podem dar origem à angústia, preocupação e ansiedade, tornando comum o medo de morrer. É um medo instintivo, assim como todos os outros. Naturalmente buscamos evitar a morte e fazemos o possível para que isso não aconteça. A única certeza, no entanto, é de que a morte acontecerá. É inevitável. E é justamente por isso que fazer as pazes com esse medo é importante para encararmos com naturalidade o processo da morte, tanto a nossa como a de outros.

 

O que é o medo

Na época em que o homem vivia em cavernas e precisava caçar para se alimentar, o sentimento de medo era o que garantia sua sobrevivência. Imagine que, em suas caminhadas pelas florestas, ele notasse um arbusto que se mexia. Ali atrás poderia estar um coelho que seria seu almoço ou uma onça que faria dele sua refeição. O medo era um gatilho que gerava uma reação instintiva de atacar ou defender. Herdamos esse instinto. O medo é, então, importante por acender um alerta capaz de gerar proteção a uma potencial ameaça, que pode ser real – como a onça atrás do arbusto – ou pode ser consequência de uma experiência vivida anteriormente – como o medo de dirigir por ter se envolvido em um acidente durante a infância. Nesse caso, o acompanhamento de um profissional da saúde mental é bem-vindo para neutralizar o trauma adquirido pela vivência. O medo pode, ainda, estar presente apenas na nossa mente, como acontece com grande parte deles. Isso porque muitos dos medos são criações inconscientes para evitar situações que podem nos expor ao julgamento, à rejeição, ao fracasso e a tantos outros desconfortos que não queremos vivenciar.

Esse último tipo de medo, que possui uma raiz mais profunda e muitas vezes inconsciente, é um sentimento que está sempre projetado no futuro, pois é fruto de algo que desejamos impedir, causando sofrimento por algo que não está enraizado na realidade, mas dentro de nós mesmos. Vamos tomar como exemplo o medo de falar em público, um dos mais comuns na população, que pode estar atrelado ao medo de não ser aceito pelos ouvintes e não atender suas expectativas, gerando críticas. O medo de se relacionar amorosamente pode ser, na verdade, reflexo do medo de ser abandonado. O grande problema é que medos como esses tendem a ser obstáculos para uma vida realmente plena e uma série de oportunidades podem ser perdidas se não soubermos lidar com eles de maneira producente, além de gerarem uma série de sentimentos que colocam em xeque o nosso bem-estar. Com o medo da morte acontece a mesma coisa. Vamos conferir quais são as possíveis raízes por trás desse medo?

 

Encontrando a raiz do medo da morte

O desconhecido pode ser aterrorizante, eu sei. Esse é um dos principais fatores que tornam a ideia da morte tão assustadora, mas não é o único. De onde vem o seu medo? Já parou para pensar sobre isso? Essa reflexão é bem-vinda pois todo medo só pode ser superado aprofundando-se nos gatilhos que geram a sensação de ameaça.

É comum que pais e mães temam a morte por se preocuparem com seus filhos. É o seu caso? Muitos dizem que passam a adotar atitudes mais prudentes após se tornarem pais, pois o medo, na realidade, é de que deixem seus filhos sem provento ou proteção. Isso acontece sobretudo quando a criança ainda está na infância, mas pode perdurar por toda sua vida. Dessa forma, o filho passaria a viver sozinho no mundo sem alguém que o ame na mesma proporção que a mãe ou o pai. Esse sentimento pode se manifestar também em um medo de adoecer e deixar os filhos sem cuidado, mesmo que por um tempo. Há variações: o filho que tem medo de morrer e causar sofrimento aos pais, ou a esposa que teme a morte para não deixar o marido sozinho ou vice-versa. De qualquer forma, o medo é infligir luto e tristeza ao outro.

Há também o medo de não viver uma vida realmente satisfatória ou de chegar ao leito de morte sem ter deixado um legado. O medo, nesse caso, é da vida. É de não ter a oportunidade de viver bem, de não ter conquistado ou aproveitado o suficiente.

Muitos dizem que não temem a morte em si, mas a morte trágica ou a morte dolorosa. É o que acontece com você? O medo aí está mais atrelado à dor e ao sofrimento físico e emocional. Essa possivelmente seja uma variedade de medo que aflige a todos, pois é também natural que evitemos passar por experiências dolorosas. É isso que motiva muitas pessoas a acordar 6h da manhã para ir à academia e correr em uma esteira. Ou a se colocar nu frente a um médico para um exame constrangedor. Queremos viver com qualidade, saúde e energia e torcemos sempre para que a nossa experiência de morte seja tranquila e em paz. Muitas vezes, apenas o pensamento de uma morte terrível já é suficiente para provocar ansiedade ou angústia. É o seu caso?

Culturalmente não temos o hábito de tratar sobre a morte. Quando alguém traz esse assunto à tona é comum que seja interrompido. A própria palavra “morte” já é vista como sombria e tenebrosa, mas seja qual for a fonte do medo, é importante relembrar que a morte faz parte do processo de viver. É a conclusão de todos os nossos projetos humanos e o encerramento de todas as nossas relações. Pode parecer difícil encarar essa finitude, eu sei. Eu entendo. No entanto, essa é a realidade e, mais cedo ou mais tarde, todos teremos de enfrentá-la, o que torna esse diálogo ainda mais necessário.

 

Como superar o medo da morte

Eu entendo o medo de deixar um filho, afinal também sou mãe. E por mais que a morte seja um tabu, é importante tratar do assunto com as crianças. Engana-se quem pensa que elas não sabem absolutamente nada sobre o assunto, pois a morte é retratada em filmes, livros e desenhos, muitas vezes de forma simbólica e muitas vezes explicitamente, como em O Rei Leão, Up – Altas Aventuras ou Viva – A Vida é uma Festa.

Muitos imaginam que a coragem é o oposto do medo, mas na realidade é a fé. E assim como é necessário falar sobre a morte, é também necessário nutrir a crença de que tudo ocorrerá bem. Veja, por mais que busquemos agir sempre com cuidado e prudência, nem tudo está sob nosso controle. Se evitamos voar de avião por medo de acontecer um acidente, o medo nos faz fugir e faz com que deixemos de aproveitar uma viagem. Se tivermos a crença de que tudo ocorrerá bem no voo, nós encaramos. E é essa fé que devemos nutrir para podermos lidar com o medo de maneira saudável. Fé de que iremos e voltaremos em segurança do trabalho, de que não seremos vítima de violência na rua e de que, no fim do dia, estaremos mais uma vez ao lado daqueles que amamos, seja um filho, uma mãe, um pai, ou um parceiro amoroso.

Entendo também o medo de não viver uma vida plenamente satisfatória. Estamos a todo o tempo em contato com conteúdos que podem nos trazer a sensação de que estamos perdendo o melhor da vida, seja por meio de mídias sociais, filmes e outros formatos que nos expõem a uma vida glamurosa e repleta de experiências que parecem não fazer parte da nossa realidade. É preciso tomar o controle de nossa própria vida e fazer escolhas conscientes que nos permitam viver o melhor agora ao invés de se preocupar com o futuro de uma trajetória que pode levar décadas para se concretizar. Esteja consciente da sua finitude, mas viva o momento presente de maneira que suas ações tenham um significado pessoal para você. Cerque-se de pessoas que tornem sua vida mais colorida. Estipule objetivos que sejam importantes para você. Se seu sonho é conhecer alguma ilha na província da Indonésia, planeje-se para isso. Se seu sonho é abrir uma empresa, estude para isso. Trace metas realistas e entre em ação para que você esteja a cada dia mais próximo dessas conquistas. E então, quando se aproximar o momento da sua morte, você terá a plena certeza de que viveu exatamente da maneira como você queria.

Ninguém sabe o que acontece após a morte, e possivelmente ninguém jamais saberá, mesmo assim é possível aliviar o peso da possibilidade de morte – seja a sua própria ou a de terceiros – por meio de suas crenças pessoais ou sua espiritualidade. Mesmo que você não acredite em vida espiritual ou em vida após a morte e ache que ela seja o ponto final de qualquer ciclo, essa também é uma crença. Ao chegar no fim da vida, lembre-se de que você terá cumprido seu propósito por aqui. Você, sem dúvida alguma, terá impactado pelo menos uma vida e feito a diferença na trajetória de alguém. Você será lembrado. E isso é suficiente para ter vivido com significado.

Bronnie Ware é uma enfermeira da Austrália que acompanha pacientes que estão nas últimas semanas de suas vidas. Ela se tornou conhecida por registrar conversas com essas pessoas em seus leitos de morte e elencou alguns dos principais arrependimentos no livro Antes de Partir. Um dos mais comuns era justamente o desejo de ter aproveitado a vida do jeito que almejavam e não da maneira como os outros queriam. Então não espere para se arrepender disso quando já não houver mais tempo. Viva o hoje, viva da maneira que você deseja e como te faz feliz. Esteja presente na vida das pessoas que você ama e diga como se sente em relação a elas. Quando for o momento de se despedir da sua vida, você não levará consigo esse tipo de sentimento. E então, seguramente, você chegará lá com um único pesar: o de não poder retornar para viver sua boa vida toda novamente, mas com a certeza de que você viveu e valorizou cada instante.



15 de agosto de 2019 Todos

Desde os primórdios da história, com nossos ancestrais, adaptamos características para sobrevivência em diversos ambientes. Uma delas é o medo. Imagine a seguinte situação: você está parado na calçada enquanto aguarda o semáforo abrir para os pedestres. Nesse momento, um carro se aproxima com rapidez e sem controle em sua direção. Quais são seus sentimentos nesse instante? “Esse motorista é louco”, “não posso morrer”, “tenho que fazer alguma coisa”. 

Como seu corpo se comporta? Com calafrios, suor, choro e corrida imediata. A todas essas características chamamos “medo”. Ou seja, o medo consiste em uma resposta imediata a uma ameaça conhecida, externa e bem definida: o carro vai me atropelar. Ele foi desenvolvido ao longo da história humana, a fim de que nós possuíssemos o extinto de sobrevivência. Dessa maneira, conseguimos nos livrar de situações perigosas e nos manter em constante equilíbrio. E fobia? O que seria este essa sensação?

Fobia: temendo o incerto

Apesar de serem confundidos, fobia e medo são muito diferentes. A fobia consiste em um transtorno mental ansioso, que pode, inclusive, chegar ao ponto de incapacitar o indivíduo. Enquanto o medo é uma resposta a algo real, a ansiedade fóbica resulta de uma ameaça interna, vaga, conflituosa ou desconhecida. Como resultado, a pessoa pode sentir uma sensação desagradável, apreensão, dor de cabeça, inquietação e até pânico. Com o passar do tempo, o indivíduo começa a esquivar-se das situações que lhe causam fobia, contudo, nem sempre isso é possível. 

Exemplos de fobia

Fobia específica

  • Ansiedade frente a situações específicas, como Acrofobia (altura), Agorafobia (lugares abertos), Zoofobia (animais), Misofobia (sujeira e germes), Pirofobia (fogo), Xenofobia (estranhos).
  • Geralmente, o objeto da sensação específica está relacionado com uma situação em que a pessoa passou por intenso medo. Por exemplo, uma pessoa que foi atacada por um cão bravo, pode desenvolver fobia de cães.

Fobia social

  • Fobia de se embaraçar e de causar algum tipo de constrangimento ou gafe em situações sociais, tais como reuniões, apresentações orais, encontros amorosos, festas. A pessoa se sente constantemente julgada pelos outros e que seu comportamento, jeito de andar, falar, escrever, comer, é inferior ao das outras pessoas.
  • O sentimento fóbico é desproporcional à ameaça real e pode causar grande sofrimento e prejuízo no comportamento pessoal. As situações que causam fobia também passam a ser evitadas e a pessoa começa a se isolar.

Como saber se tenho medo ou fobia?

A primeira etapa é reconhecer os sentimentos que você apresenta e quais são as situações que os desencadeiam. Após isso, busque ajuda do médico psiquiatra, pois ele saberá fazer a avaliação completa. Geralmente, o tratamento é associado com medicamentos e terapia cognitiva comportamental. Após isso, a pessoa lida muito melhor com as fobias e passa a ter uma vida tranquila.

 

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!



6 de maio de 2018 Todos

Fobia é um medo anormal e irracional de situações, atividades, animais e, até mesmo, objetos. Esse problema afeta cerca de 20% da população mundial e pode trazer desdobramentos negativos para o indivíduo. Vale destacar que, pessoas que sofrem com fobias geralmente são cientes de seu transtorno e, por isso, fazem o possível para evitar situações de temor excessivo.

Existem vários tipos de fobias, que são divididas entre fobias simples e fobias complexas. As fobias simples são temores mais comuns e específicos, como o medo de insetos, répteis, aves, espaços fechados, altura, etc. Já as fobias complexas são perturbações de ansiedade mais incomuns, a exemplo da fobia social e agorafobia.

Apesar das fobias, normalmente, serem reconhecidas pelo próprio indivíduo, há portadores de transtornos fóbicos que passam a vida sem ter a fobia diagnosticada e tratada formalmente. Isso é preocupante, uma vez que, a depender do tipo e gravidade, a condição pode prejudicar fortemente a rotina de quem tem fobia. 

 

Como diagnosticar a fobia?

O diagnóstico se baseia na avaliação clínica do paciente, incluindo o seu histórico, relatos de medo e consideração de sintomas que caracterizam os transtornos fóbicos.

Os principais indícios de fobia são a presença persistente e acentuada de um medo excessivo; a antecipação e preocupação com situações ameaçadoras que nem aconteceram e podem nem acontecer; a reação imediata de ansiedade diante dos objetos, seres ou situações temidos; choro ou congelamento por causa do medo; aumento da frequência cardíaca; pressão arterial elevada drasticamente; suor e tremor incontroláveis; sensação constante de perigo, isolamento social; pensamentos negativos; falta de ar; necessidade irracional de fuga, aversão e repulsa; incapacidade de se manter perto do gatilho gerador do medo e, em casos mais graves, ocorrência de ataques de pânico.

Antes de o paciente receber um diagnóstico de fobia, é necessário avaliar outras condições de saúde mental que geram episódios de medo. Como exemplo de outros transtornos, encontramos as obsessões, a depressão, os delírios, as alucinações  e paranoias, a esquizofrenia, o transtorno do pânico e transtorno de ansiedade generalizada, o transtorno de ansiedade de separação, o transtorno do espectro autista, o transtorno de ansiedade esquiva, entre outros. Após essa avaliação generalizada, o especialista dirá, exatamente, se o tratamento será para fobia ou para outro conflito emocional ou transtorno psiquiátrico.

Como tratar as fobias?

Há diferentes formas de tratar as fobias, a começar pelo uso de medicamentos antidepressivos, ansiolíticos e sedativos. Eles podem ser muito eficientes quando a origem do medo está relacionada a desequilíbrios químicos e hormonais. A automedicação é contraindicada! Para garantir a segurança do tratamento farmacológico é indispensável contar com o acompanhamento psiquiátrico.

A medicação pode – e deve – ser conjugada com sessões de psicoterapia. O método psicoterápico é fundamental na superação de dificuldades comportamentais, cognitivas e emocionais da pessoa com fobia. Essa vertente do tratamento ajuda o paciente a lidar com seus temores, eliminando-os ou aprendendo a enfrentá-los.

Quer saber mais sobre fobias? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!




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