lgbt / Dra Aline Rangel

pexels-cottonbro-studio-4098336-1200x800.jpg

A sexualidade humana é um dos temas que mais provocam polêmicas quando o assunto é a saúde. Apesar de ser considerado tabu e, consequentemente, ter sua discussão evitada em diversos grupos, é um assunto que deve ser discutido pela importância que apresenta na vida das pessoas e na sociedade como um todo. Contribuindo com essa discussão, neste artigo iremos abordar uma temática bastante extensa e complexa, mas que vale muito a pena ser compreendida: os transtornos sexuais. Quando falamos neste tipo de desvio, estamos tratando de transtornos que se incluem em 3 grandes grupos, conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, texto revisado (DSM5TR), 2022. São eles:

  • Disfunções sexuais;

  • Disforia de gênero;

  • Transtornos parafílicos.

Disfunções sexuais

As disfunções presentes no primeiro grupo dos transtornos são caracterizadas como uma perturbação clínica na capacidade ou de resposta sexual ou de experimentação do prazer sexual. A ajuda de um profissional é de extrema importância, pois é preciso determinar se a disfunção não é resultado de um estímulo sexual inadequado, evitando assim um tratamento desnecessário. Dentre os males deste grupo, temos:

  • Ejaculação retardada;
  • Transtorno do orgasmo feminino;
  • Transtorno erétil;
  • Ejaculação precoce;
  • Transtorno do interesse/ excitação sexual feminino;
  • Disfunção sexual induzida por substância/medicamento;
  • Transtorno da dor gênito-pélvica/ penetração;
  • Transtorno do desejo sexual masculino hipoativo;
  • Outras disfunções não especificadas.

Disforia de gênero

A disforia de gênero possui o subgrupo de transtornos mais amplamente discutidos atualmente, graças a conscientização sobre tais tipos de transtornos e das pessoas afetadas pelos mesmos. A disforia de gênero se divide em disforia de gênero em crianças, em adolescentes, em adultos, não especificada e especificada. Pessoas com este tipo de transtornos se identificam como transgêneros, isto é, como pessoas que, seja de forma transitória ou de forma permanente, se identificam com o gênero oposto ao de nascimento, ou como transsexuais, que são pessoas que passam por um processo de resignação social e sexual em termos de gênero.

Parafilias

Aqui temos os transtornos-tabu. As parafilias se caracterizam como um desejo sexual intenso e persistente, que não são voltados para carícias preliminares com parceiros humanos com características normais e maturidade ou que não incluem a estimulação genital. Os transtornos parafílicos incluem:

  • Voyeurismo (espiar pessoas em atividades privadas);
  • Exibicionismo (expor genitais em locais públicos ou para outras pessoas sem consentimento);
  • Frotteurismo (se esfregar em outras pessoas sem consentimento);
  • Masoquismo sexual (submeter-se à humilhação, dor ou sofrimento);
  • Sadismo sexual (submeter outras pessoas a humilhação, dor ou sofrimento);
  • Pedofilia (interesse sexual por crianças, considerado crime);
  • Fetichismo (utilização de objetos inanimados ou interesse sexual por outras partes do corpo que não as genitais);
  • Escatologia telefônica (telefonemas obscenos);
  • Necrofilia (interesse por cadáveres);
  • Zoofilia (interesse por animais);
  • Clismafilia (interesse por enemas);
  • Urinofilia (interesse por urina);
  • Cropofilia (interesse por fezes);

Entre outras parafilias não especificadas.

Todo transtorno sexual, seja parafílicos ou não, deve ser tratado e cuidado de maneira a garantir ao indivíduo maior qualidade de vida. Eles englobam uma ampla variedade de condições que podem impactar significativamente a vida das pessoas. O diagnóstico preciso é vital para identificar o distúrbio específico e suas causas subjacentes, permitindo que os profissionais de saúde desenvolvam planos de tratamento eficazes. É crucial fornecer às pessoas com transtornos sexuais o apoio e a assistência necessários para enfrentar seus desafios com dignidade e respeito. 


Você também pode se interessar:

Transtornos sexuais: saiba quais são e quais as formas de tratamento

Compulsão sexual ou “vício em sexo”: causas e tratamentos

 

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!


Captura-de-Tela-2022-06-27-às-14.27.18.png

27 de junho de 2022 LGBTQIA+Todos

O fato de uma pessoa ser homossexual não a isenta de ser homofóbica. A negação da própria orientação sexual é chamada homofobia internalizada, um problema mais comum do que se imagina.  Na homofobia internalizada, o indivíduo tem dificuldade para se aceitar e gostar de si mesmo pelo simples fato de ter uma orientação sexual homoafetiva. Isso acontece, muitas vezes, por causa da carga negativa que ela assimilou durante a vida inteira sobre a homossexualidade.

A homofobia  é extremamente prejudicial, tanto para quem pratica os atos homofóbicos, quanto para as pessoas que são alvos deles. 

Identifique os sintomas da homofobia internalizada

O primeiro passo para lidar com a homofobia internalizada é reconhecer o problema. Para tanto, é indispensável identificar os sintomas desse tipo de homofobia. São eles:

  • Baixa autoestima e imagem corporal negativa;
  • Sentimento de insatisfação consigo mesmo;
  • Tendências para o perfeccionismo e cobranças pessoais;
  • Depressão, ressentimento, hiper-reatividade, raiva e vergonha;
  • Preconceito e desprezo por homossexuais assumidos;
  • Desejo velado por pessoas do mesmo sexo;
  • Visão estigmatizada e intolerante do homossexualismo;
  • Ações automáticas e exageradas diante manifestações públicas de afeto entre homossexuais;
  • Pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos;
  • Tentativas de mudar a própria orientação sexual;
  • Permanência em relacionamentos abusivos;
  • Vida dupla (heterossexual para a sociedade, homossexual às escondidas);
  • Práticas sexuais inseguras.

Busque aconselhamento profissional

Quem descobre ter atração por pessoas do mesmo sexo por vezes decide esconder seus desejos e reprimir os sentimentos para evitar julgamentos. A fim de se enquadrar nos padrões sociais, alguns homossexuais podem optar por levar a vida como heterossexuais.

Além de usarem uma “máscara social”, eles passam a apresentar atitudes homofóbicas e manifestar o ódio por gays, o que na verdade revela o ódio por perceber seus próprios desejos homossexuais no outro. Se você tiver esse tipo de comportamento, ou perceber a homofobia internalizada partindo de alguém próximo, não hesite em buscar aconselhamento profissional.

Tenha em mente que a orientação sexual não é um transtorno, mas ela pode causar problemas psiquiátricos, portanto, o tratamento especializado é bem-vindo para evitar consequências negativas.

Ame-se e tente se aceitar

Seja homossexual ou não, é ideal que toda pessoa se enxergue de maneira positiva, se ame e se aceite. A homossexualidade não é um defeito ou doença, sendo assim, não deve ser encarado como algo vergonhoso.

É fato que o processo de aceitação não acontece da noite para o dia, até porque, o preconceito contra homossexuais, em muitos casos, está enraizado há muito tempo. Ainda assim, vale a pena tentar se libertar dos conceitos negativos contra si mesmo e contra a comunidade LGBT.

Uma das maneiras de lidar com a homofobia internalizada é se fortalecer como indivíduo para, então, conviver tranquilamente com seus próprios desejos e escolhas. Isso só é possível a partir do amor próprio e aceitação pessoal.

 

Você pode se interessar também pela leitura do texto abaixo:

Estereótipos de masculinidade afetam a saúde mental de homens gays

Quer saber mais sobre homofobia internalizada? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!


saude-lgbt-1.png

19 de junho de 2022 LGBTQIA+

Vários estudos identificam que jovens LGBTQIA+ apresentam graves comportamentos de risco à saúde e piores desfechos negativos de saúde para esta população em comparação com seus pares heterossexuais. Uma prevalência maior de jovens de minorias sexuais relata sofrimento emocional, depressão, automutilação, ideação suicida e tentativas de suicídio. Os problemas típicos encontrados pelos adolescentes durante seu desenvolvimento até a idade adulta podem ser desafiadores para qualquer jovem, mas os adolescentes LGBTQIA+ enfrentam um conjunto único de preocupações relacionadas à saúde como resultado do estigma que impede o seu acesso aos cuidados em saúde (hospitais, ambulatórios, profissionais de saúde, etc).

Pacientes transgêneros ​​relatam sofrer algum tipo de discriminação nos cuidados de saúde também, o que cria uma barreira às vezes intransponível, ao seu acesso aos cuidados de saúde. Lembro do meu primeiro contato numa enfermaria com uma mulher “trans”, ainda no ensino médio, internada numa enfermaria de homens. Uma mulher transgênero à espera de seu primeiro exame físico  desabafou: “quando eu caminhei em direção ao banheiro feminino, a enfermeira pulou e me disse para usar o banheiro compartilhado pelos homens. Senti vontade de sair e largar de mão o meu tratamento.” Ela tinha pancreatite aguda grave e considerou deixar de tratar-se pois tamanho era o sofrimento a cada ida ao banheiro masculino.

Profissionais da Saúde como promotores da saúde LGBTQIA+

Como profissionais da saúde, é essencial que compreendamos as disparidades e a discriminação que a população LGBTQIA+ encontra quando procura atendimento de saúde. Os profissionais precisam defender apaixonadamente e exibir um alto nível de competência cultural ao cuidar de todos os pacientes. Como promotores de saúde, quando os cuidados de saúde não são iguais, perdemos a oportunidade de prestar cuidados de saúde de qualidade. Também é fundamental que médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais e outros se sintam à vontade para discutir questões de sexualidade e orientação sexual com todos os pacientes, incluindo adolescentes, porque os adolescentes correm maior risco e podem não se sentir à vontade para iniciar essas discussões por conta própria.

Embora tenha havido mudanças significativas desde que este estudo foi realizado, dados de estudos baseados em pesquisas com médicos sugerem que muitos médicos têm atitudes negativas em relação a indivíduos LGBTQIA+, o que afeta a capacidade dos médicos de fornecer cuidados adequados a essa população de pacientes. Uma pesquisa nacional de médicos em 2001 revelou que 73% dos médicos pesquisados ​​relataram que se sentiriam à vontade para tratar pacientes LGB, 19% se sentiriam um pouco confortáveis ​​e 6% se sentiriam um pouco ou muito desconfortáveis ​​(Coker et al., 2010).

Tal como acontece com muitos tópicos delicados que devem ser abordados durante uma consulta médica, os pacientes devem ter garantia de confidencialidade Os cuidados de saúde não são cuidadosos quando 73% dos entrevistados transgêneros e 29% dos entrevistados lésbicas, gays e bissexuais relatam acreditar que serão tratados de maneira diferente pela equipe médica por causa de seu status LGBTQ+ segundo o Healthcare Equality Index 2022.

Política Nacional de Saúde LGBT

A Política Nacional de Saúde LGBT é um divisor de águas para as políticas públicas de saúde no Brasil e um marco histórico de reconhecimento das demandas desta população em condição de vulnerabilidade. Sua formulação seguiu as diretrizes de governo expressas no Programa Brasil sem Homofobia, que foi coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e que atualmente compõe o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3).

Igualdade ao cuidado à saúde para TODXS

Tal como acontece com a maioria das coisas, a honestidade é a melhor política. Abordando todos os pacientes de forma aberta e honesta, fazendo as perguntas necessárias, o gerente de caso pode afetar uma avaliação completa e adequada. Envolver pacientes LGBTQIA+ não deve ser diferente de envolver qualquer paciente. É nosso trabalho e responsabilidade ética não apenas ouvir, mas ouvir as necessidades, medos e desejos de nossos pacientes. Aceitar todos os nossos pacientes como os encontramos e deixar bagagem pessoal fora da relação profissional é nosso dever. Uma abordagem prática com um ambiente agradável e acolhedor sinaliza aos pacientes que eles estão no lugar certo e que você é a pessoa certa – aquela que finalmente os ouvirá.

É imprescindível a ação da sociedade civil nas suas mais variadas modalidades de organização com os governos para a garantia do direito à saúde, para o enfrentamento das iniquidades e para o pleno exercício da democracia e do controle social.

A garantia ao atendimento à saúde é uma prerrogativa de todo cidadão e cidadã brasileiros, respeitando-se suas especificidades de gênero, raça/etnia, geração, orientação e práticas afetivas e sexuais.

Quer saber sobre a sigla LGBTQIA+? Clique aqui.
Quer saber mais sobre o Mês do Orgulho LGBTQIA+ (junho)? Clique aqui.

Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder os seus comentários sobre esse assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!


Captura-de-Tela-2022-06-27-às-14.18.13.png

8 de dezembro de 2017 LGBTQIA+

A homossexualidade como “doença”

Desde a sua décima edição, a Classificação Internacional das Doenças da Organização Mundial de Saúde retirou da sua lista de Transtornos Psiquiátricos o “homossexualismo”, seguindo uma tendência mundial em considerar a homossexualidade como uma das variáveis de orientação sexual e não uma doença, como o sufixo “ismo” sugeria. Não sendo doença (ou Transtorno Psiquiátrico), a homossexualidade não demanda tratamento. Porém, com muita frequência, recebemos pais preocupados com a “escolha sexual” dos seus filhos, adultos com uma “homofobia internalizada” (ainda que assumidamente homossexuais) e adolescentes ou adultos jovens “em cima do muro” no que se refere a sua sexualidade, o que lhes causa bastante transtorno. Segundo Carmita Abdo, “é muito comum os homossexuais ou pessoas próximas procuram, à vezes, o auxílio de um profissional da saúde, no sentido de se reassegurarem ou mudarem de orientação sexual‘. 

A homossexualidade como fator de risco para conflitos emocionais

Há quase quarenta décadas, Marmor argumentava que, [apesar do homossexualidade não fazer parte do campo de ação do psiquiatra, apenas por ser homossexual, justificava-se a intervenção psiquiátrica, preventivamente indicada, para adolescentes e adultos que não estivessem fazendo identificações de papel de gênero “apropriadas”]. Isto porque a sociedade encarava a homossexualidade como um desvio de conduta.

O que observo, nos dias atuais, deixando de lado qualquer juízo encarado como “conservador” ou “liberal”, é que, se a atração sexual, a orientação sexual ou a indefinição desta, causa sofrimento, conflito ou quaisquer outros transtornos (doença ou não), um profissional especializado pode e deve ser consultado.

“Sair do armário”

Entender o desenvolvimento da sexualidade é tarefa difícil para a maioria das pessoas. Mudanças no corpo, atração e afetos dirigidos a outras pessoas, conhecimento e construção da identidade são trabalhos difíceis para qualquer pessoa, independente da orientação sexual desenvolvida. Não se trata de “sair do armário” e se revelar para as pessoas, pelo contrário: devemos entrar no “nosso armário”, ou seja, nas nossa emoções, pensamentos e crenças mais íntimas na construção de uma sexualidade ímpar, com auto-respeito e liberdade em expressá-la.

 

Você também pode se interessar pelo texto:

Cuidado em Saúde da população LGBTQIA+
Estereótipos de masculinidade afetam a saúde mental de homens gays

 

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter, e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo.

 




NEWSLETTER








    Sobre



    Médica graduada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro.


    Contato


    São Paulo – SP

    Rua Cubatão, 86 – 405 – Paraíso


    WhatsApp


    E-mail

                  aline@apsiquiatra.com.br

    Nosso material tem caráter meramente informativo e não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico, autotratamento ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte o seu médico.

    Copyright © 2023 – Todos os direitos reservados

    Política de Privacidade

    × Agende sua consulta