O Outubro Rosa continua a ser uma iniciativa crucial, especialmente para as mulheres do século XXI que lutam para equilibrar uma série de responsabilidades, deixando pouco espaço para cuidar de sua saúde, incluindo a realizar exames de rotina essenciais para prevenção do câncer de mama, além de tantos outros associados ao sexo biológico feminino.
O outubro rosa é um movimento voltado para a conscientização de mulheres sobre a prevenção do câncer de mama. Durante todo este mês, atividades para conscientizar e incentivar a realização de exames de rotina e do autoexame são feitas ao redor do Brasil. Quando feita anualmente, a mamografia pode detectar a doença em seus estágios iniciais, elevando as probabilidades de cura. Outro benefício do outubro rosa é a união de mulheres que têm ou já tiveram câncer de mama. A troca de experiências e testemunhos acalma e pode levar à criação de redes de apoio, essenciais para o suporte emocional da mulher durante sua jornada contra o câncer de mama.
Aceitação do diagnóstico de Câncer de Mama
Não tem jeito, o diagnóstico de um câncer ainda vem associado à perspectiva de morte precoce ou, no melhor cenário, a um tratamento muito sofrido, efeitos colaterais do tratamento, ficar careca e ter as mamas mutiladas.
Lidar com uma condição de saúde grave é muito mais fácil quando se aceita conviver com ela. A aceitação liberta porque é o encontro com a verdade. Não há nada o que fazer, além de aceitar o que a realidade lhe propõe, correto? Essa atitude pode ser tomada com serenidade, ou abraçada com revolta. Quando o primeiro caso ocorre, contudo, o bem-estar e a resignação são maiores.
Câncer de Mama e Saúde Mental
Além das complicações físicas, o câncer de mama geralmente afeta a saúde mental. A ansiedade, medo, preocupação, tristeza e até depressão podem perdurar desde o diagnóstico até o fim do tratamento. O mesmo olhar de prevenção precoce em relação ao câncer de mama também é verdadeiro para a saúde mental. A maioria dos transtornos mentais têm uma melhor evolução quando identificados logo no início dos sintomas.
Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) analisou 233 pacientes. Desses, 55% eram diagnosticados com algum tipo de câncer e estavam em processo de quimioterapia (e 37% já estava na luta há mais de 3 anos). Assim, a pesquisa identificou que mais de 30% dos pacientes sofriam possivelmente de ansiedade e mais de 26%, de depressão. Em outras palavras, mais de um quarto dos entrevistados demonstraram sintomas psiquiátricos. A pesquisa concluiu que “a ansiedade e depressão são distúrbios prevalentes em pacientes oncológicos”. Além disso, “esses transtornos psiquiátricos afetam a adesão ao tratamento, a qualidade de vida e podem influenciar na evolução do câncer”.
A pesquisa ressaltou ainda que o câncer de mama se destaca quando se trata de transtornos mentais associados a diferentes tipos de câncer. Nas palavras dos pesquisadores: “A literatura aponta que o câncer de mama é o tipo com maior prevalência de comorbidades psiquiátricas e, em decorrência da predominância do mesmo no estudo, o câncer de mama aparece com a maior porcentagem de triagem positiva tanto para ansiedade quanto para depressão.”
Estratégias de enfrentamento do Câncer de Mama
Enfrentar o câncer de mama é uma jornada desafiadora, repleta de incertezas e temores que podem impactar significativamente a saúde mental das mulheres. As preocupações com a família e o futuro, juntamente com a angústia em relação às mudanças corporais, podem sobrecarregar emocionalmente muitas mulheres. No entanto, existem estratégias valiosas para ajudar mulheres e pessoas que acompanham o seu enfrentamento da doença a lidarem com esses conflitos e preservar a estabilidade emocional durante esse período difícil.
Comunicação Aberta
Compartilhar sentimentos e temores pode aliviar o peso emocional e proporcionar um senso de apoio e compreensão. Familiares e amigos também podem ser pilares emocionais importantes no decorrer do tratamento. Mantenha pessoas queridas por perto para sentir-se bem consigo mesma e fortalecer laços.
“Muito ajuda quem pouco atrapalha”
Se você é próximo a alguém que está neste processo, não compare a história da pessoa a de outra mulher, não diga que o tratamento “xypto” é melhor do que o que a mulher em questão está fazendo (caso você não seja um especialista na área ) ou que o médico “fulano” é melhor, por exemplo. Saber ouvir, neste caso, é muito melhor e mais efetivo do que falar.
Fazer por ela ao invés de mandar fazê-la é fundamental. A faxina que se faz na casa de uma mulher que está em tratamento de um câncer de mama pode ser, algumas vezes, mais benéfica pra ela do que acompanhá-la na sessão de quimioterapia. Ajude com a rotina de uma mulher: o cansaço decorrente da quimioterapia pode transformar afazeres simples, como cozinhar ou varrer o chão, em exercícios de extrema intensidade. Ofereça ajuda ou compartilhe alternativas, como pedir delivery de refeições, para simplificar a rotina diária da mulher.
Manter a rotina o mais “normal”possível
Não deixar de fazer coisas por medo ou vergonha. Se estava para iniciar um curso ou tinha uma viagem programada, não modifique esses planos se não apresentarem riscos à sua saúde. Converse com seu médico sobre as atividades que podem ser feitas para manter-se na ativa durante o tratamento. Interromper sua rotina abruptamente é como mandar uma mensagem de “desistência” para o cérebro.
Auto-cuidado, corpo e sexualidade
Tarefas simples como se vestir e tomar banho podem ser encaradas com estranheza a princípio. Permita-se acostumar com as mudanças calmamente, evitando se pressionar para agir com normalidade logo após a mastectomia ou outras modificações corporais. Entretanto, não deixe de vestir as peças que você adora nem descarte a sua “marca registrada” ao se arrumar.
Práticas de autocuidado, como exercícios físicos suaves, meditação e ioga são exemplos cientificamente reconhecidos como potencializadores de melhora. Essas atividades podem ajudar a aliviar o estresse e promover o bem-estar emocional e físico durante o tratamento.
Se você se sentir menos atraente e encontrar problemas para se relacionar ou ter momentos íntimos com sua(s) parceria(s), converse bastante para que ambos possam encontrar soluções para um possível impasse. Infelizmente, o medo de acabar com um casamento por causa dos possíveis prejuízos do tratamento para uma vida sexual saudável, que para muitos ainda é sinônimo de “ter relaçoes sexuais”, é uma das principais preocupações de muitas mulheres com câncer de mama.
Educação sobre tratamentos e evolução da doença
Buscar informações claras e precisas sobre os diferentes tratamentos disponíveis, seus efeitos colaterais e os resultados esperados principalmente com a equipe, clínica e/ou hospital onde está realizando o tratamento. O conhecimento informado pode reduzir a ansiedade e aumentar a sensação de controle sobre o próprio processo de cura. É importante ter uma relação de confiança com os profissionais que estão juntos durante o processo terapêutico do câncer de mama.
Acesso a recursos financeiros
Buscar informações sobre os direitos e benefícios disponíveis para pacientes oncológicos, como no Oncoguia. Isso pode incluir assistência financeira, licenças médicas, e programas de apoio governamentais e não governamentais. A garantia de estabilidade financeira pode ajudar a reduzir o estresse associado às preocupações econômicas.
Foco no presente
Viver um dia de cada vez, concentrando-se no presente e no momento atual. Isso pode ajudar a reduzir a preocupação com o futuro e promover uma abordagem mais positiva e consciente em relação à jornada do tratamento.
Grupos de apoio
Esses grupos oferecem uma comunidade de indivíduos que enfrentam desafios semelhantes e podem fornecer conselhos práticos e apoio emocional, como o Câncer com Leveza e Câncer com Bravura.
Cuidado da saúde mental
Os profissionais de saúde mental podem fornecer apoio especializado e estratégias de enfrentamento para lidar com os desafios emocionais associados ao câncer de mama. A idéia não é tratar o câncer de mama como sinônimo de um transtorno psiquiátrico, pelo contrário: bem-estar, prevenção e promoção de saúde mental também é trabalho de um psiquiatra no processo de tratamento do câncer de mama.