À medida que o coronavírus (COVID-19) continua a se espalhar no Brasil, ansiedade e apreensão estão se espalhando também. A capacidade de lidar com pensamentos e sentimentos avassaladores pode ser cada vez mais difícil em tempos de incerteza.
O estresse extremo pode desencadear muitos problemas de saúde mental – mesmo aqueles que você acha que nunca estaria vulnerável.
A lista de verificação a seguir pode ajudá-lo a determinar se suas preocupações com o coronavírus estão lhe causando sofrimento emocional. Não é um teste diagnóstico, ok?
Marque qualquer uma das seguintes opções que atualmente descrevem o que você está enfrentando.
___ Aumentei a frequência e / ou intensidade do uso de álcool ou substâncias ilegais.
___ Estou tomando mais do que a dose prescrita de medicamento para ansiedade, depressão etc.
___ Estou dormindo significativamente mais / menos que o normal.
___ Estou comendo significativamente mais / menos que o normal.
___ Não consigo me concentrar ou prestar atenção no trabalho ou nas tarefas em casa.
___ Estou mais preocupado, ansioso ou deprimido do que o normal.
___ Sinto-me oprimido e sem esperança.
___ Sinto-me sozinho e isolado.
___ Sou argumentativo ou confrontador com meus amigos e familiares.
___ Aumentei minhas atividades de autolesão (isto é, cortar-se, queimar-se).
___ Meus desejos por álcool, drogas, comida ou outros vícios aumentaram significativamente.
___ Parei de cuidar da minha higiene pessoal.
___ Estou gastando muito tempo lendo ou assistindo as notícias.
___ Comecei a me envolver em comportamentos de risco (uso de substâncias, sexo inseguro etc.).
___ Não sinto mais prazer em atividades que sempre gostei.
___ Estou pensando em suicídio ou me machucando seriamente.
___ Outro sintoma ou problema __________________________
___ Outro sintoma ou problema __________________________
Nota: Se você estiver em crise imediata e precisar de ajuda, ligue para 192, seu terapeuta, psiquiatra ou uma pessoa próxima em que confie.
CVV – Centro de Valorização da Vida : ligue 188
Se você marcou uma dessas frases, sua saúde mental pode ser afetada pelo medo e ansiedade sobre o coronavírus. Para procurar ajuda e suporte, fortaleça seu vínculo com pessoas amigas, faça video-conferências, faça uma caminhada em lugar seguro conversando com esta pessoa querida, tente manter mesmo trabalhando de casa uma rotina, cuida da sua alimentação, evite exposição excessiva sobre o tema, relembre projetos antigos que são possíveis de se realizar em casa, etc.
Se nada disso for suficiente, entre em contato com seu psiquiatra, terapeuta ou outro profissional de saúde.
Estamos nos mobilizando para atendimentos inclusive on-line.
A partir da semana que vem, publicarei dicas para práticas diárias e possíveis de fazer na sua casa para prevenção e promoção de saúde emocional. Acompanhe o blog.
Estamos todos no mesmo barco e não vamos deixá-lo afundar!
Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter, e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo.
Há uma série de questionamentos quando o assunto é antidepressivos. No Quora, um site de perguntas e respostas, o termo “antidepressivos” gera uma lista de mais de duas mil dúvidas a respeito do tema. Dentre elas, como esses medicamentos atuam no organismo, se realmente curam a depressão, se causam dependência, etc. Neste texto, busco esclarecer as perguntas mais recorrentes sobre o tratamento com medicamentos antidepressivos.
Comumente associa-se a palavra “antidepressivos” a medicamentos. No entanto, se pararmos para pensar analiticamente, existem muitos hábitos que são antidepressivos, pois também são capazes de aliviar os sintomas de depressão: atividade física e meditação, por exemplo.
O medicamento antidepressivo, por sua vez, é um remédio que pode ou não ser incluído no tratamento para depressão. Essa inclusão depende de muitos fatores: dos sintomas, da recorrência, da intensidade, etc. e devem ser utilizados apenas com prescrição médica. Ao analisar essas e outras variáveis, o psiquiatra pode optar pela intervenção farmacológica.
Os medicamentos antidepressivos atuam no sistema nervoso central, alterando e regulando os estados de humor do paciente. São responsáveis por melhorar a execução da vontade e reduzir a ocorrência de pensamentos pessimistas.
O nosso cérebro produz neurotransmissores, substâncias diretamente ligadas ao nosso humor e a outras funções físicas e psicológicas. Você possivelmente já ouviu falar em dopamina, serotonina ou noradrenalina. São os neurotransmissores mais conhecidos. Essas substâncias estabelecem uma comunicação entre os neurônios – fenômeno chamado de sinapse – e regulam o apetite, o sono, o humor e outros fatores. É por esse motivo que pessoas com sintomas depressivos podem passar a não comer ou dormir direito e apresentar tristeza constante.
Quando há algum tipo de instabilidade na rede neural, esses neurotransmissores deixam de ser produzidos na quantidade ideal, causando sintomas depressivos. Os medicamentos, portanto, buscam restabelecer a sinapse dos neurônios, ajustando a quantidade de neurotransmissores produzidos. Por esse motivo volto a ressaltar a importância de ter sempre uma prescrição médica para fazer uso dos medicamentos. Eles são prescritos para cada caso e pensados para estimular neurotransmissores específicos.
Com o passar do tempo, esse ajuste faz com que a insônia, a falta de apetite, a tristeza, a irritabilidade e outros sintomas sejam aliviados. Por esse motivo, não costumamos dizer que os medicamentos antidepressivos representam uma cura, mas que fazem parte de um tratamento. Existe a chance de os sintomas aparecem em outro momento da vida, motivo pelo qual devem ser mantidos os hábitos saudáveis e as mudanças positivas.
Assim como qualquer outra medicação, os antidepressivos apresentam alguns efeitos colaterais. Eles dependem muito da composição do medicamento, da dosagem e do paciente, afinal, é comum que algumas pessoas sintam os efeitos de maneira muito branda, enquanto outras são mais sensíveis a eles.
No geral, os efeitos secundários costumam se manifestar com mais recorrência no início do tratamento, período em que o paciente ainda está se adaptando. Alguns medicamentos podem causar náuseas, diminuição de libido, boca seca, entre outros. Ao conversar sobre esse assunto com seu psiquiatra, informe-se sobre possíveis efeitos colaterais. Eles podem surgir no início, mas nunca desista por causa deles. Lembre-se de que esses efeitos são passageiros e, dentro de alguns dias, você dará prosseguimento ao seu tratamento com mais conforto.
Alguns pacientes são resistentes ao tratamento com medicamentos antidepressivos. Recusam-se a tomá-los e relutam em inseri-los em seu dia a dia. Têm medo de que possam viciar, o que é um mito. Ou têm vergonha de expor esse tipo de tratamento aos familiares. Enfim… há muitas razões. Talvez o preconceito venha pois a ação do medicamento acontece na região cerebral, uma das áreas mais complexas do organismo, se não a mais complexa. E também porque não falamos tanto sobre esses fármacos como deveríamos. São medicamentos que passam por um longo processo de pesquisa, desenvolvimento e testes, assim como pelo crivo de qualidade e segurança da Anvisa.
Desde que surgiram, lá na década de 1960, esses remédios passaram por muito aperfeiçoamento e novos tipos foram e ainda vêm sendo criados. São seguros e eficazes quando tomados adequadamente. E em muitos casos são o empurrãozinho necessário para resgatar uma vida mais saudável, próspera e feliz!
Você gostaria de saber mais sobre depressão, ansiedade e demais assuntos? Então confira o meu blog, onde você encontrará uma série de textos sobre esse e outros temas. Se você está buscando apoio para lidar com alguma questão de ordem psíquica, entre em contato comigo! Eu posso ajudar você. Tamo junto! Abração.
Tristeza, irritação e desânimo fazem parte da vida de todos. Inclusive das crianças e dos adolescentes. Ficar separado dos pais, mudança de rotina, cobranças na escola… tudo isso pode gerar uma certa ansiedade nos mais jovens. O problema é quando esses sentimentos se tornam habituais. Aos poucos, nota-se algumas alterações no humor, na alimentação e no sono. Nota-se, também, que as atividades que proporcionavam prazer deixam de ser atrativas e que, eventualmente, a criança ou adolescente apresenta retraimento social. São sintomas clínicos típicos da depressão. Muitos acreditam que o transtorno depressivo não aflige os mais jovens, porém, ele não é restrito a uma faixa etária. O que fazer diante de um diagnóstico de depressão em uma criança ou adolescente? O tratamento é similar?
Quando uma criança ou adolescente apresenta algum sintoma característico da depressão, em geral não é dada muita atenção de início. Muitos pais notam mudança, mas acreditam ser uma fase, o que acaba resultando em um diagnóstico tardio, quando os sintomas já estão mais intensos. O que também agrava a situação é o fato de que, dependendo da idade, a criança ou adolescente ainda não possui recursos para reconhecer que está deprimido, pois ainda não tem um nível de consciência que permita nomear suas emoções, cabendo ao adulto fazer isso por ele. Por isso, é preciso ficar atento aos sinais apresentados.
A depressão infantil pode causar medo constante de ficar sozinho, sobretudo durante a noite, momento no qual a criança pode relatar pesadelos e, consequentemente, incapacidade de manter horas prolongadas de sono. A infância deve ser uma fase de exploração e lazer. Ao notar que a criança passa a evitar atividades lúdicas e recreativas e prefere ficar quietinha o tempo todo, por muitos dias ou até semanas, é o momento de ligar o alerta e considerar o acompanhamento de um profissional.
Durante a infância é comum que os sintomas se apresentem também de forma psicossomática. Em suma, a criança pode sentir queimação no estômago, falta de ar e outras reações no corpo. Já falei sobre as doenças psicossomáticas aqui no blog. Depois de terminar esta leitura, você pode começar a ler mais sobre a psicossomatização clicando aqui.
A adolescência, por sua vez, é um momento crítico no desenvolvimento pois apresenta uma série de desafios para o jovem. É nessa fase que acontecem mudanças nos hormônios e no corpo. Variações de humor são mais recorrentes, assim como forte pressão para ser aceito socialmente em grupos de amigos ou se encaixar em padrões pré-estabelecidos – sobretudo para as meninas, motivo pela qual elas são mais vulneráveis a apresentar alguns sintomas depressivos. Alguns dos mais comuns nas meninas são o isolamento, tristeza intensa, choro sem motivo aparente, baixa autoestima. Os meninos não costumam lidar com os sentimentos da mesma mesma maneira que as meninas, por isso, além dos mesmos sintomas, podem externalizar as emoções por meio de um comportamento agressivo, demonstrar irritabilidade e entrar em conflitos.
Adolescentes costumam ser um pouco mais inconsequentes e impulsivos e, por isso, podem recorrer ao álcool ou a outras drogas em busca de alívio a curto prazo ao sofrimento que sentem. Em alguns casos, podem considerar suicídio como alternativa, motivo pelo qual o diagnóstico precoce é fundamental.
Seja na infância ou na adolescência, em ambos os casos a escola será uma das mais importantes aliadas para os pais ou responsáveis. Ao notar mudanças comportamentais que possivelmente estão ligadas aos sintomas depressivos, é interessante recorrer à escola para obter mais informações sobre o comportamento da criança ou adolescente. Seu desempenho vem caindo ao longo das últimas semanas? Apresenta retraimento social e prefere se manter isolado dos demais? Está com dificuldade de aprendizado? Esses são outros sintomas importantes que podem facilitar a identificação. Diante de sinais como esse, a experiência de um profissional como o psiquiatra é primordial para realizar o diagnóstico e oferecer o tratamento mais indicado para o caso.
Felizmente os pacientes mais novos costumam responder bem ao tratamento. Desde 2005 presto serviços voltados ao adolescente e já atendi mais de mil jovens entre onze e dezessete anos. Ouvi muitas histórias e relatos e não há como afirmar que isso ou aquilo causa a depressão, pois cada pessoa tem um histórico e uma experiência de vida. Alguns pacientes relatam bullying, perdas e luto na família. Outras falam sobre mudança de casa ou de escola, família desestruturada, dificuldade em se aceitar. Há também a questão genética. Pesquisas afirmam que muitas pessoas possuem predisposição para o transtorno depressivo e pode “herdá-lo” de seus antecedentes, assim como acontece com a hipertensão, a diabetes, etc.
É importante ressaltar que, individualmente, nenhuma dessas causas define se o paciente apresenta um quadro depressivo ou não. Não é assim tão preto no branco. A depressão possui uma área muito cinzenta, afinal, as determinantes são variadas, assim como os sintomas, a intensidade, a frequência etc. Nem sempre os medicamentos são necessários no tratamento, mas quando são, a resposta é muito positiva. Muitas vezes mais positivas do que em adultos, fazendo com que o tratamento seja um pouco mais breve.
Eu sei que é muito doloroso ver um filho, um sobrinho ou um neto com depressão. Já acompanhei famílias enfrentando juntas esse transtorno, seja na infância ou na adolescência. Em alguns casos, há preconceito e/ou culpa por parte dos pais. Minha sugestão é: não se prenda a esses sentimentos e busque ajuda. Durante todos esses anos vi jovens com crises suicidas, crises de ansiedade, surtos psicóticos, comportamentos autolesivos… como disse, os sintomas são variados. Há algo, porém, que é comum: quando há apoio e compreensão da parte da família, a resposta ao tratamento é ainda mais rápida. Nesse momento, a união e o suporte familiar são mais do que pilares para uma recuperação efetiva. São uma prova de amor.
Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho aqui no meu blog. Abração. Tamo junto!
Ao falar sobre alguém com depressão, é comum imaginar uma pessoa extremamente triste que não consegue levantar da cama ou sair de casa. Em alguns casos isso acontece, é verdade. Porém, grande parte das pessoas diagnosticadas segue uma vida comum, pois o transtorno não é necessariamente incapacitante. A maioria, então, vai ao trabalho, dá risada, participa de reuniões e de rodas de conversa. A depressão costuma se manifestar com maior intensidade em sua vida privada, geralmente dentro de casa, onde aquela normalidade dá lugar a uma forte tristeza, crises de ansiedade e outros sintomas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 6% da população brasileira possui depressão. É possível, portanto, que você conheça alguém que foi diagnosticado com depressão, mas não faça ideia disso. E se a pessoa decidir não compartilhar essa informação com você, provavelmente você jamais saberá. Mas e se ela optar por dividir esse diagnóstico? Como agir, lidar e mostrar apoio?
O primeiro passo é entender do que se trata a depressão. É importante dedicar um tempo para ler, buscar relatos, se informar e se educar sobre esse transtorno. Não pretendo entrar em pormenores neste texto, pois há uma série de conteúdos que já publiquei sobre o tema, e você pode conferi-los clicando aqui.
Ao saber que um amigo, familiar ou colega está com depressão, muitas pessoas ficam sem saber muito bem como agir, o que dizer e o que não dizer. Porém, o mais importante em um momento como esse não é o dizer, mas o ouvir. Ouça ativamente e demonstre interesse genuíno no que o outro tem a dizer e em como está se sentindo. Evite interromper, dar sugestões, se comparar ou comparar com outra pessoa que passou por uma situação similar ou pior e, mesmo assim, superou. Você pode achar que está ajudando, mas comentários assim podem gerar desesperança, culpa ou uma cobrança muito grande.
Já comentei neste texto que a psicoterapia tem um poder terapêutico pois permite que o paciente coloque para fora suas dores, medos e inseguranças. Compartilhar alguns desses sentimentos com pessoas de confiança também proporciona um alívio, pois assim há a certificação de que não precisará passar por isso sozinho ou escondendo sua condição. Tenha em mente, porém, que compartilhar ou não é uma decisão individual que cabe apenas ao paciente. Respeite caso não haja interesse em falar, sobretudo no início.
Pesquisar e entender melhor sobre a depressão afastará você do julgamento. Você irá entender que algumas atividades – até mesmo as mais simples como caminhar na avenida, limpar a casa ou sair para tomar um sorvete – passam a ter um peso para quem apresenta o transtorno. A compreensão sobre essa condição tratá compreensão com o paciente.
Os tratamentos para a depressão variam, pois dependem dos sintomas apresentados, assim como de sua frequência, intensidade e outros fatores. Mas seja qual for o tratamento proposto, é importante segui-lo à risca e você pode encorajar o paciente a fazer isso.
Alguns pacientes se desanimam principalmente no início do tratamento, quando ainda não há uma melhoria muito perceptível. É aí que seu apoio será crucial. Pergunte sobre a evolução do tratamento, encoraje a sua devida continuidade e fique atento a possíveis sinais de agravamento. O ideal é que o psiquiatra esteja acompanhando o paciente de perto, mas caso você note irritabilidade constante, mudança comportamental ou pensamentos suicidas, seja aliado do profissional e tome alguma ação. Se possível, entre em contato com ele e divida sua opinião.
Muitos enfrentam a depressão tendo o terapeuta como a única fonte de diálogo, o que não é indicado. Um robusto corpo de pesquisas já comprovou que estar inserido em uma teia social contribui muito para o tratamento do transtorno depressivo. Isso pode ser um desafio para muitos pacientes, já que não se sentem inclinados a encontrar mais ninguém, e menos ainda a sair de casa para socializar. A sua presença, portanto, fará toda a diferença.
Lembre-se sempre de que para prestar apoio a alguém, você deve, antes, estar bem consigo mesmo. Cuide da sua saúde física e mental, reserve um tempo para você, para seus hobbies e para o seu trabalho. Estar disponível para fornecer amparo a alguém com transtorno depressivo é um ato de cuidado, uma demonstração de preocupação e uma grande prova de amor. O tratamento do seu amigo, parente ou colega certamente irá fluir muito melhor tendo sua paciência, compreensão e presença como pontos de apoio.
Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho aqui no meu blog. Abração. Tamo junto!
Ninguém gosta de receber diagnósticos. Do mais simples ao mais complexo dos casos, saber que você enfrentará uma doença nunca é uma boa notícia. Sobretudo se for um problema que não se vê sangrar e não se vê cicatrizar. Ou uma doença que não dá margem para indicar com precisão o período de tratamento. É o caso da depressão. Por se tratar de um transtorno invisível e imprevisível, o diagnóstico de depressão costuma ser ainda mais duro de receber, pois é repleto de dúvidas. Como será daqui pra frente?
É um cenário, também, repleto de esperança, afinal a depressão pode ser tratada. Não é possível estimar exatamente em quanto tempo, já que cada caso é um caso. Os sintomas e graus variam, assim como o tratamento para cada um deles. Há uma certeza, porém. De que agora, sabendo do que se trata, passamos a trilhar um caminho muito menos nebuloso. Daqui pra frente será muito melhor.
As reações ao diagnóstico podem ser muitas. Há quem fique espantado e sinta culpa, perguntando-se “por que isso está acontecendo justo comigo?”; há quem fique agoniado imaginando que sua vida jamais será a mesma. Eu já vi diferentes formas de receber a notícia ao longo da minha carreira como psiquiatra e, no geral, muitos pacientes que atendo respiram com um certo alívio e esperança, sabendo agora que aquilo que sentem tem um nome e uma solução. As conversas sobre transtorno depressivo estão acontecendo com mais frequência, o que tem tornado a recepção do diagnóstico um pouco melhor e menos dolorosa.
Uma vez diagnosticado o transtorno, é importante ter em mente que será preciso rigor e disciplina com o tratamento. Ele é comprovadamente eficaz, desde que seja precisamente seguido. Pode-se, em alguns casos, haver intervenção farmacológica e ter de incluir hábitos na rotina que irão contribuir para o bem-estar em geral, como exercícios físicos, mudanças nutricionais, proximidade com pessoas que ama, boas noites de sono, etc. O uso do medicamento não é recomendado a longo prazo e, após o término do tratamento, será importante manter esses bons hábitos para a manutenção de uma vida próspera e saudável.
As sessões de terapia serão grandes aliadas no processo terapêutico. Nelas haverá a oportunidade de discutir com o psiquiatra sobre a evolução do tratamento. Isso é importante pois no início podem acontecer ajustes no medicamento prescrito ou na dosagem recomendada, uma vez que leva um tempo para o paciente se adaptar. Além disso, o acompanhamento do profissional de psiquiatria oferece grande conforto e alívio em um momento delicado como esse. É comprovado que há um efeito terapêutico no simples fato de ter alguém com quem compartilhar suas dores, medos e inseguranças. Somando os bons hábitos à terapia e aos medicamentos, o prognóstico é bastante otimista.
Após receber o diagnóstico, culpar-se, envergonhar-se ou sentir raiva não vão ajudar. Em vez disso, é importante ter compaixão e compreensão consigo mesmo. Um paciente que fraturou o braço sabe que não é o momento de praticar um esporte. Isso não é esperado dele. Por outro lado, não vemos a depressão, o que faz com que muitas pessoas passem a se cobrar no início do tratamento. Os medicamentos levam um tempo para surtir efeitos mais perceptíveis, então a paciência, combinada ao comprometimento que eu citei mais cedo, será recompensada dentro de algumas semanas com uma notável redução dos sintomas depressivos.
Alguns dos sintomas mais comuns da depressão são a profunda letargia, cansaço extremo e tristeza sem motivo aparente. Se ainda não há vontade de sair de casa, tudo bem. Se sentir vontade de chorar, vá em frente. Não há problema nisso, desde que essa falta de ânimo, com o passar do tempo, dê lugar a uma maior vivacidade, ao interesse em fazer aquilo que gosta e que faz bem.
O relacionamento com o psicoterapeuta será como uma parceria, tanto antes, quanto durante e depois do tratamento. Conte com o profissional! Se há segurança em seu trabalho e em sua expertise, confie no tratamento proposto. O esperado é que o prazer de viver a vida seja restaurado ao longo de poucos meses. Haverá saída para a depressão enquanto houver busca por tratamento e fé nos resultados.
Conheça um pouco mais sobre a depressão lendo aqui no blog outros artigos sobre o tema. E conte comigo para solucionar suas dúvidas ou angústias. Tamo junto!
Meu objetivo neste texto não é explicar o que é a depressão ou quais são seus principais sintomas, pois já os fiz neste texto. Também não vou entrar na questão de tratamento, pois já escrevi sobre esse assunto neste outro texto. Quero comentar aqui sobre a escalada da depressão a um nível quase que epidêmico. O transtorno atinge hoje cerca de 320 milhões de pessoas no mundo e a previsão também não é animadora: a OMS (Organização Mundial da Saúde) prevê que a depressão será a doença mais comum do planeta dentro de dez anos. Dados como esses levantam a necessidade da conscientização. A campanha Setembro Amarelo vem, desde 2015, sendo uma importante maneira de levar informação a respeito da depressão, porém o preconceito e o estigma social continuam sendo reais.
Repare que estamos muito frequentemente expostos a situações estressantes, como no trabalho ou no trânsito. Estamos também vivendo um momento em que a ansiedade faz parte do dia a dia de grande parte da população – levantamentos recentes apontam o Brasil como o país mais ansioso do mundo. As relações superficiais, o sedentarismo, a supervalorização da aparência e da ideia de felicidade constante nas mídias sociais… tudo isso funciona como catalisador da depressão.
Há, portanto, uma tendência em pensar que a depressão é uma doença nova. Afinal, o número de casos vem aumentando consideravelmente ao longo das últimas décadas e é comum imaginar que isso se deva ao ritmo acelerado de nossas vidas, daí a impressão de que se trate de um transtorno que eclodiu neste século. Mas, na verdade, a depressão sempre existiu, só não se falava tanto sobre ela.
Considerado o pai da medicina, o grego Hipócrates já mantinha registros sobre uma doença de ordem mental que acometia a população e que possuía sintomas muito similares aos da depressão. Isso antes mesmo do nascimento de Cristo. Na época, esse fenômeno foi chamado de melancolia.
E embora a quantidade de diagnósticos esteja realmente aumentando e nossas vidas, de fato, sejam muito estressantes, é importante lembrar que há mais abertura hoje para falar sobre depressão do que havia trinta anos atrás. Hoje se vê muitos artistas e celebridades revelando que possuem o transtorno e, assim, fazendo com que o assunto seja tratado na mídia. Campanhas como o Setembro Amarelo também contribuem para a disseminação de informações relevantes sobre a depressão, reduzindo um pouco a resistência em buscar um tratamento efetivo junto a um profissional de psiquiatria.
A quarentena provocada pelo coronavírus foi responsável por um aumento de diagnósticos de depressão. Uma população um pouco mais deprimida será uma das heranças da pandemia, isso é verdade. A previsão da OMS, por sua vez, é apenas uma previsão. Não há como saber o que enfrentaremos nos próximos anos em relação à saúde mental, mas uma coisa é certa: casos de depressão vão continuar surgindo. Assim como vai continuar existindo a necessidade de falar sobre ela.
No Brasil, muitos ainda enxergam a depressão meramente como um momento de tristeza e não como uma doença grave. A maioria das pessoas entre 24 e 35 anos teria vergonha de revelar um diagnóstico de depressão para familiares ou colegas de trabalho, seja pelo medo de não serem compreendidas, seja por se sentirem constrangidas de alguma maneira. Acredita-se que o tabu seja maior entre os mais velhos, mas pesquisas como essas deixam claro que é um tema nebuloso entre todas as faixas etárias.
O grande problema em tratar assuntos importantes como tabu é justamente a desinformação, o que impede, no caso da depressão, o diagnóstico e um tratamento efetivo. Há muitas pessoas que relutam em buscar ajuda, pois não acreditam que estejam sendo acometidas por depressão – começando pelo fato de desconhecerem do que, de fato, se trata a doença.
A depressão é, sim, uma doença que causa profundo sofrimento não só ao paciente, mas em todos em seu convívio e que, em casos mais graves, pode chegar à morte. Porém, o mal do século, no fim das contas, talvez não seja a depressão, mas a ignorância em relação ao transtorno. Até certo ponto, podemos culpar essa ignorância por novos casos. A ela podemos atribuir o agravamento de muitos quadros. E podemos responsabilizá-la por alguns casos de suicídio.
Mais de 130 milhões de pessoas possuem acesso à internet no Brasil. Imagine como seria diferente se todas elas investissem um pouco do tempo para descobrir mais sobre o que é a depressão, como lidar com alguém que esteja enfrentando a doença e como apoiar.
Se você está aqui, significa que você quer saber mais sobre o assunto, quer se educar e se informar. Obrigada pelo seu interesse! Não sabemos como serão os próximos anos, mas certamente serão melhores – ou, no mínimo, um pouco menos preocupantes – se mais pessoas souberem onde estamos pisando.
E não deixe de conferir os próximos textos, que também irão tratar sobre o setembro amarelo e sobre o combate à depressão. Enquanto isso, aproveite para ler algumas publicações antigas que abordam o assunto:
A depressão é uma condição complexa, caracterizada essencialmente por uma sensação de mal-estar, de desconforto, de ansiedade e/ou de tristeza (humor disfórico). Apresenta sinais e sintomas cuja intensidade e duração prejudicam a qualidade de vida, resultando em prejuízo nas funções que desempenhamos nas diferentes esferas da nossa vida (auto-cuidado, cognição, relacionamentos sociais, trabalho, etc). Citei aspectos individuais de cada pessoa que nos procura, desta forma, o plano de tratamento da depressão também deve ser individualizado.
Portadores de depressão frequentemente descontinuam o tratamento, em função dos efeitos indesejáveis dos medicamentos. Aproximadamente um terço deles interrompe abruptamente o antidepressivo durante o primeiro mês; mais de 44% descontinuam ao longo dos três meses iniciais. Náusea e cefaléia são os principais efeitos que levam a descontinuação no primeiro mês. Nos segundo e terceiro meses, esses efeitos são fadiga, visão turva, dificuldade para adormecer, ansiedade, alterações do apetite e ganho de peso. Diminuição da libido, retardo da ejaculação, orgasmo e até anorgasmia podem ser referidos, especialmente quando interrogados de forma direta pelo psiquiatra. Essa fraca adesão responde por grande parte das das falhas do tratamento.
Tipo de relacionamento entre o médico e o paciente, características sociodemográficas, gravidade do quadro, efeitos adversos, nível educacional e tipo de personalidade do paciente, além do perfil do tratamento escolhido, são fatores que podem interferir de diferentes formas à adesão ao tratamento. Efeitos adversos, falta de de orientação do paciente e má qualidade da relação médico-paciente são os mais significativos.
O perfil de cada paciente deve ser avaliado, para nortear, entre outros aspectos, as escolhas do antidepressivo com maior probalidade de adesão.
A eficácia e a tolerabilidade dos antidepressivos já estão bastante documentadas, reconhecendo-se que eles não diferem em eficácia. A questão é para quem ele será prescrito. A tolerabilidade e o perfil farmacocinético, entendidos como “os efeitos colaterais”, são os fatores diferencias, para indicar-se este ou aquele, para cada caso.
Os pacientes devem receber informação sobre a hipótese diagnóstica, as possíveis causas e os mecanismos de ação dos tratamentos disponíveis. O plano de tratamento de incluir farmacoterapia, psicoterapia e outras intervenções, escolhidas após consideração cuidadosa dos fatores individuais (preferência e histórico do paciente, tratamentos anteriores, gravidade da doença, comorbidades, risco de suicídio, disponibilidade de métodos de tratamento, tempo de espera para psicoterapia e custos).
A remissão dos sintomas é a meta-padrão do tratamento da depressão do tratamento da depressão, objetivando-se: resolução dos sintomas emocionais e físicos; restauração da capacidade plena de funcionamento; retorno ao trabalho, aos hobbies e aos interesses pessoais; e retomada dos relacionamentos interpessoais.
Lamentavelmente, a depressão segue subdiagnosticada. Segundo pesquisa publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria, nossos serviços de cuidados primários (Unidades Básicas de Saúde principalmente) e serviços médicos gerais, 30% a 50% dos casos não são diagnosticados. A Associação Médica Brasileira avalia que os principais motivos para tal são o preconceito em relação à doença e o descrédito dos pacientes no tratamento. No caso dos médicos, os principais motivos são falta de experiência ou de tempo, descrença em relação à efetividade do tratamento, reconhecimento apenas dos sintomas físicos da depressão e avaliação dos sintomas de depressão exclusivamente como uma reação “natural”.
Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!
Veja outros artigos lá do Blog que possam lhe interessar:
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão e uma das doenças mais incapacitante do mundo. Hoje, ela já atinge milhões de pessoas ao redor do mundo inteiro. Em busca de soluções para tratar e diminuir a incidência do transtorno, estudos têm mostrado que, além dos tratamento usuais, como utilização de medicamentos e psicoterapia, a prática de atividade física tem sido eficaz para combater e prevenir a enfermidade.
Uma pesquisa da Universidade do Texas apontou que realizar atividade aeróbica ou treinos de resistência pode servir como remédio no tratamento da tristeza, cansaço, desânimo e melhorar a auto-estima de quem pratica.
O exercício físico constante e moderado tem efeitos benéficos na saúde em geral e, ao nível psicológico, pode reduzir a ansiedade, melhorar a autoestima e autoconfiança, melhorar a cognição e diminuir o estresse.
Além disso, a atividade física pode proporcionar melhor qualidade de vida, maior controle sobre o corpo, melhora da capacidade respiratória, aumento de estímulos ao sistema nervoso central, com melhoria da memória recente e de funções motoras, além do aumento das interações sociais, proporcionada pelo convívio com outras pessoas.
Durante a realização de exercícios físicos, o organismo libera dois hormônios essenciais para auxiliar no tratamento da depressão: a endorfina e a dopamina. Ambos têm influência sobre o humor e emoções.
Estudos apontam que a prática de exercícios físicos aeróbios de 20 a 40 minutos com frequência cardíaca entre 120 a 140 batimentos por minuto, duas vezes por semana tem a capacidade de liberar ainda outro hormônio B-endorfina.
Ele propicia um efeito tranquilizante e analgésico maior que a endorfina. Assim, a pessoa consegue beneficiar-se de um efeito relaxante e manter-se em um melhor estado psicossocial.
Exercícios ao ar livre, por exemplo, são muito benéficos, pois há maior sensação de aumento de energia e motivação, juntamente com diminuição da tensão, raiva e confusão mental. É comprovado que os praticantes de atividades ao ar livre têm maior prazer em repetir as atividades no dia seguinte.
Além disso, estudos retratam que o ganho de massa muscular ao realizar a atividade física leva ao aumento da proteína responsável pela transformação do estresse em bem-estar, sabe aquela sensação do “Done”.
Dessa forma, a atividade física, aliada à psicoterapia e ao tratamento farmacológico, é um instrumento importante, não somente como papel de reabilitação ou ocupacional, mas também terapêutico.
Além de treinos de resistência, como levantamento de peso e treino de força , há evidências científicas que apontam outras modalidades de atividades físicas capazes de melhorar os sintomas da depressão. São elas: ioga, exercícios aeróbicos e treinamento cardiovascular – qualquer exercício físico que aumenta a frequência cardíaca, como por exemplo, corrida, ciclismo e natação.
Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça algumas dicas para prevenção e promoção de saúde e bem estar neste link do Blog #apsiquiatra.
Médica graduada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Rua Cubatão, 86 – 405 – Paraíso
Nosso material tem caráter meramente informativo e não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico, autotratamento ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte o seu médico.
Copyright © 2023 – Todos os direitos reservados