compulsão pornografia / Dra Aline Rangel

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Você domina códigos, projetos, algoritmos. Mas e quando não consegue dar conta de si mesmo?
Se você é um homem de alta performance, que trabalha com tecnologia, por exemplo, talvez já tenha se perguntado por que tem tanto sucesso profissional e, ainda assim, sente um certo vazio quando fecha o notebook. Muitos homens brilhantes vivem o que chamo de paradoxo do prazer solitário: recorrem à pornografia ou ao sexo virtual como forma de relaxamento, regulação emocional ou até preenchimento afetivo — sem perceber que estão, pouco a pouco, se afastando da possibilidade de conexão real.

Quando o uso de pornografia deixa de ser só um hábito?

Nem todo consumo de pornografia é um problema. Mas, em alguns casos, ele pode se tornar compulsivo. A Organização Mundial da Saúde reconheceu, desde 2018, o Transtorno do Comportamento Sexual Compulsivo (TCSC) na CID-11. O critério não é a quantidade de vezes que você se masturba ou assiste a conteúdo adulto — e sim o grau de sofrimento, prejuízo pessoal e impacto nas relações​.

Um estudo internacional estima que cerca de 5% da população mundial pode apresentar esse tipo de comportamento — e apenas uma minoria procura ajuda​,

Por que homens inteligentes e solitários podem ser mais vulneráveis?

Você pode ser altamente funcional no trabalho, mas emocionalmente desorganizado no campo afetivo. A ciência tem mostrado que fatores como impulsividade contextual, solidão, histórico de traumas e até a maneira como lidamos com prazer imediato (como nos jogos, pornografia ou comida) interferem na capacidade de adiar recompensas e manter comportamentos equilibrados​.

Além disso, o uso de pornografia é reforçado por um tripé difícil de combater: acesso fácil, anonimato e gratificação instantânea​No curto prazo, alivia. No longo prazo, isola.

“Mas eu não sou viciado, só uso para relaxar…”

Esse é um ponto importante. Nem sempre há um “vício químico” como se vê em substâncias. Muitas vezes, o que há é um padrão compulsivo que serve para abafar outras dores: ansiedade, estresse, medo de rejeição, traços depressivos ou um sentimento persistente de inadequação​.

Um sinal de alerta? Quando você não consegue parar, mesmo quando quer. Ou quando o consumo interfere nas suas relações reais, no seu sono, produtividade ou bem-estar emocional.

O ciclo da compulsão: por que o prazer pode afastar o afeto?

Muitos homens dizem: “Não me conecto com ninguém. Prefiro ficar na minha”. Mas o que começa como um refúgio pode se transformar em isolamento. A pornografia oferece excitação sem vulnerabilidade, orgasmo sem intimidade, satisfação sem reciprocidade.

A longo prazo, isso pode tornar mais difícil lidar com os ritmos, frustrações e imperfeições dos relacionamentos reais. O sexo real exige presença, diálogo, afeto — e não apenas performance. E isso assusta, principalmente quem cresceu sem aprender a expressar o que sente.

Existe tratamento?

Sim. A abordagem mais eficaz é aquela que não reduz o problema a uma “falta de força de vontade”, mas considera o contexto emocional, os padrões de pensamento, a história de vida e a relação com o próprio corpo e o desejo​Assessment and treatmen….

O tratamento pode envolver:

  • Psicoeducação sobre compulsão sexual, desejo e prazer;

  • Terapia sexual com foco em autoestima, intimidade e vínculo;

  • Avaliação psiquiátrica, quando há comorbidades como depressão, ansiedade, outros transtornos que cursem com impulsividade como o TDAH e/ou Transtorno Bipolar;

  • E sobretudo: um espaço seguro, sem julgamentos, para repensar a sexualidade como parte da saúde mental — e não como inimiga do afeto.

Um convite à reflexão

Talvez você se reconheça nesse texto. Talvez não. Mas se a sua sexualidade está se tornando uma forma de evitar, esconder ou anestesiar o que sente, vale a pena olhar para isso com mais cuidado.

Você merece uma vida em que o prazer não exclua o afeto.


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O transtorno de comportamento sexual compulsivo ou, simplesmente, compulsão sexual (CID-11: HA02) é caracterizado pela dificuldade persistente em controlar impulsos sexuais intensos, levando a comportamentos repetitivos, apesar das consequências negativas para o indivíduo. Assim como no impulso sexual excessivo, não há uma medida exata do que seria um “comportamento sexual normal”. O que define o transtorno é o impacto negativo desses comportamentos na vida cotidiana.

Exemplos de comportamentos compulsivos incluem:

  • Passar horas consumindo material sexual online, negligenciando tarefas diárias e responsabilidades.
  • Buscar relações sexuais repetitivas com diferentes parceiros, mesmo quando isso coloca em risco a saúde, o trabalho ou relacionamentos.
  • Utilizar o sexo como uma forma de evitar lidar com emoções difíceis, como estresse ou ansiedade, repetidamente, sem sucesso em controlar esse padrão.

Esse termo “comportamento sexual” age como um “guarda-chuva” que cobre diferentes tipos de expressões sexuais, desde pensamentos, fantasias e impulsos até ações repetitivas. O comportamento sexual torna-se problemático quando é compulsivo e a pessoa não consegue controlar a repetição, mesmo quando isso gera sofrimento e prejuízos à sua vida.

Essa explicação deve deixar claro que o problema não é a “quantidade” de atividade sexual em si, mas o “impacto negativo” que esse comportamento repetitivo e incontrolável gera.

Identificando seus gatilhos de “Vício Sexual

Muitas pessoas acreditam que “viciados em sexo” são provocados apenas quando encontram uma imagem erótica, como uma foto sugestiva ou veem uma pessoa vestida de maneira sensual. No entanto, na realidade, quase qualquer coisa pode ser um gatilho para o vício sexual.

Um gatilho é algo que desperta pensamentos e sentimentos de desejo, que resultam em fantasias e comportamentos sexuais. O gatilho pode ser de natureza sexual, mas também pode ser um evento desagradável ou uma memória infeliz. O desejo sexual e a necessidade de satisfazer esse desejo tornam-se uma forma de evitar pensamentos ou sentimentos difíceis de lidar. Eventos positivos também podem ser gatilhos para comportamentos sexuais.

A compulsão sexual pode ser considerado algo cíclico. Gatilhos geram fantasias sexuais, que levam a rituais, como visitar sites pornográficos ou contatar parceiros sexuais. A consumação do ato, que envolve o sexo e o orgasmo, é seguida por um distanciamento emocional, como racionalizações ou culpar outros pelo comportamento sexual. Em seguida, geralmente há uma onda de emoções negativas, como culpa, vergonha, ansiedade ou depressão. Esse desconforto emocional pode, então, desencadear um novo ciclo de compulsividade sexual.

Quando você está ciente dos seus gatilhos, pode preveni-los. Isso é especialmente verdade se você puder substituir uma atividade positiva e não sexual quando um gatilho ocorrer. Atividades positivas podem incluir conversar com um amigo próximo, ir à academia, reaproximar-se de relacionamentos sexuais “saudáveis” ou trabalhar, ou um hobby.

Identificando seus Gatilhos Internos e Externos

Liste os gatilhos internos que podem levar a um ciclo de atuação sexual. Gatilhos internos comuns incluem baixa autoestima, estresse, sentimentos de solidão e tédio, ou tristeza. Avalie a “força” do gatilho de 1 a 10, sendo: 1=Não muito forte, fácil de ignorar e 10=Muito forte, incontrolável. Também anote atividades positivas que você pode realizar quando enfrentar um gatilho.

GATILHOS INTERNOS                  FORÇA                 ATIVIDADES POSITIVAS

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Agora liste os gatilhos externos que podem levar a um ciclo de atuação sexual. Gatilhos externos comuns incluem o uso de drogas e álcool, discussões, críticas, dificuldades no trabalho ou na escola. Avalie a “força” do gatilho e liste atividades positivas para superá-lo.

GATILHOS EXTERNOS                   FORÇA                 ATIVIDADES POSITIVAS

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Assunto considerado tabu, a disfunção sexual masculina acarreta problemas significativos na vida particular e de casais. De modo simples, estamos falando de bloqueios que impedem uma resposta sexual adequada, da incapacidade persistente ou recorrente de manter uma ereção até o final da atividade sexual. Fatores orgânicos e psicológicos estão associados a esses desajustes.Trata-se de um quadro que afeta a vida de quase metade dos brasileiros.

Fatores psicológicos que contribuem para a disfunção sexual masculina

1) Estresse e ansiedade

Você sabia que o simples fato de pensar muito em como será o desempenho na cama altera o ato sexual? Muitos homens sentem-se obrigados a satisfazer todos os desejos do parceiro e entram numa verdadeira corrida que mina a naturalidade. Outras preocupações (trabalho, casa, família, filhos, dinheiro), quando se manifestam de maneira excessiva, também são verdadeiros entraves a uma vida sexual satisfatória. E não pense você que tal comportamento restringe-se aos mais velhos – rapazes jovens também são impactados.

2) Pornografia

Estudos já comprovam certo impacto negativo da pornografia na vida sexual das pessoas. O que acontece, às vezes, é uma comparação desleal. O que é capturado sob lentes, posições estratégicas e efeitos audiovisuais não pode ser cobrado com tanta veemência na vida real. Quando a mente humana é “enganada”, pode-se cair na tentação de esperar da (o) parceira (o) atitudes plásticas demais.

3) Não posso ser pai agora! E se eu pegar alguma doença?

Relacionar-se sexualmente com sua (o) parceira (o) com medo de contrair alguma infecção ou doença, além de lidar com a possibilidade de ser pai, são outras causas de disfunção erétil psicológica. Muitos homens chegam preocupados ao consultório, mesmo tendo feito uso de preservativos adequadamente. Neste caso, salienta-se a importância de conhecer a (o) parceira (o) e não abrir mão de métodos de barreira.

4) Distúrbios mentais, como o de personalidade

Patologias que deixam o cérebro deficitário funcional e estruturalmente, de certa forma, prejudicam o ato sexual. Pense, por exemplo, em alguém com problemas de autoestima, quando o mínimo “erro” cometido altera a percepção em relação ao outro e a si próprio. Neste caso, qualquer comentário (mesmo aqueles ditos sem intenção de depreciar) pode impedir a plenitude nos momentos mais íntimos. O mesmo acontece no estado depressivo, que provoca falta de vontade de agir.

5) Desgastes no relacionamento

Quando a vida a dois não vai bem, discussões, brigas e até mesmo palavras mal empregadas podem causar danos importantes ao desempenho sexual.

Soluções para disfunção sexual masculina

Em alguns casos, pode-se fazer necessário o uso ou ajustes de medicamentos (determinados antidepressivos, por exemplo, têm efeitos colaterais na libido). Em todas as nuances, a terapia é uma ótima aliada, pois é possível, entre outros benefícios, avaliar certos comportamentos, descobrir suas “raízes”, dissipar incômodos e, consequentemente, realizar-se sexualmente. Disfunções sexuais precisam ser tratadas. Não tenha medo de compartilhar essas coisas com sua (o) parceira (o) e com algum especialista. O diálogo continua sendo essencial.

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!

 




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