A depressão, uma condição que afeta milhões de brasileiros, ganha uma nova aliada no tratamento: a vilazodona, comercialmente conhecida como Aymee ® (Farmacêutica Libbs). Aymee é indicado para o tratamento da depressão (um estado de profunda e persistente infelicidade ou tristeza, acompanhada por uma completa perda de interesse em atividades diárias normais). Recém-chegada ao mercado brasileiro, essa molécula representa um avanço significativo para o manejo de transtornos depressivos, especialmente quando acompanhados de sintomas de ansiedade.
Embora ela traga inovações importantes no tratamento da depressão, é fundamental contextualizar sua utilização de forma responsável, evitando generalizações que possam levar a mudanças precipitadas em tratamentos que se revelaram bem bem-sucedidos na história de quem procura a ajuda de um psiquiatra.
O que é a Vilazodona?
A vilazodona é um antidepressivo classificado como SPARI (inibidor seletivo da recaptação de serotonina e agonista parcial de receptores 5-HT1A). Esse mecanismo duplo não apenas aumenta a neurotransmissão de serotonina, mas também reduz o tempo necessário para a ação clínica, potencialmente aliviando os sintomas mais rapidamente do que outros ISRS tradicionais.
Imagine uma ponte cheia de bloqueios representando as conexões neuronais na depressão. A vilazodona atua como um “gestor de tráfego”, desbloqueando o fluxo de serotonina (inibindo sua recaptação) e ajustando a “sinalização” nos receptores 5-HT1A, que regulam o humor e reduzem a ansiedade. Essa combinação permite que o cérebro recupere sua “regulação emocional”.
Eficácia clínica: o que os estudos mostram?
- Melhora rápida: Estudos randomizados indicam melhora significativa nos sintomas depressivos a partir da segunda semana, avaliada por escalas como a MADRS (Montgomery-Asberg Depression Rating Scale).
- Depressão ansiosa: Em pacientes com depressão acompanhada de sintomas de ansiedade, um subtipo mais complexo de tratamento, a vilazodona demonstrou redução notável em escores de ansiedade e somatização (HAM-A e subescalas de HAMD-17)
- Comparação com outros antidepressivos: Em estudos comparativos, a vilazodona foi tão eficaz quanto ISRSs tradicionais, como escitalopram, mas com vantagens no perfil de efeitos adversos.
Efeitos Adversos
A vilazodona tem um perfil de segurança bem estabelecido. Os efeitos adversos mais comuns incluem:
- Náusea (23%) e diarreia (28%), geralmente transitórios e observados nas primeiras semanas. Podem ser muito desconfortáveis mas são passíveis de manejo adequado.
- Insônia (6%) e dor de cabeça (13%) também foram relatados, mas em menor frequência.
Função Sexual
A função sexual foi avaliada em dois estudos. A Escala de Experiências Sexuais Arizona (ASEX) foi utilizada no Estudo 1 e as mudanças no Questionário de Função Sexual (CSFQ) foram utilizadas no Estudo 2. A mudança negativa ao partir do período basal, com pontuações mais baixas, indica melhora do funcionamento da ASEX e a mudança média > 2 pontos na pontuação total é considerada clinicamente significativa. Na CSFQ, uma mudança positiva, com pontuações crescentes, é indicativa de melhor funcionamento.
No Estudo 1, a mudança média dos quadrados mínimos (QM) a partir do período basal na pontuação total de ASEX ao término do tratamento para pacientes do sexo masculino tomando placebo ou cloridrato de vilazodona 40 mg foi -1,03 e 0,80, respectivamente. Para o sexo feminino, a mudança média de QM basal na pontuação total de ASEX ao Término do Tratamento foi de 0,07, para os pacientes tomando placebo e -1,14 para pacientes que tomam cloridrato de vilazodona 40 mg. Embora a diferença na média de QM entre placebo e cloridrato de vilazodona tenha sido estatisticamente significativa nos homens, não houve diferença entre cloridrato de vilazodona e placebo em mulheres. Não houve diferenças clinicamente importantes entre o cloridrato de vilazodona e o placebo em nenhum dos domínios ASEX.
No Estudo 2, mudanças na pontuação total média de CSFQ aumentaram em homens e mulheres, tanto para o grupo cloridrato de vilazodona, como para o placebo. As mudanças basais demonstraram nenhuma diferença estatística ou clinicamente significativa entre cloridrato de vilazodona e placebo sobre o funcionamento sexual.
MAS FICA O ALERTA:
Medicações que chegam como promessa de “mais moderna” e “menos efeitos colaterais” podem fazer com que pacientes e colegas psiquiatras menos experientes considerem uma mudança em esquemas terapêuticos efetivos, sobretudo no contexto de episódios recorrentes de depressão, depressões de difícil tratamento, com outros transtornos psiquiátricos associados e/ou resistentes a vários esquemas de tratamento prévios.
A automedicação pode trazer riscos. Medicamentos sob prescrição devem ser administrados sob orientação médica. Converse com o seu médico.
Referências:
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- Khan A, Cutler AJ, Kajdask DK, Gallipoli S, Athanasiou M, Robinson DS et al. A randomized, double-blind, placebocontrolled, 8-week study of vilazodone, a serotonergic agent for the treatment of major depressive disorder. J Clin Psychiarty 2011;72:441-7.
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