Homofobia / Dra Aline Rangel

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Embora amplamente invisível até recentemente, a população LGBTQ+ idosa representa uma parcela significativa (e crescente) tanto da comunidade LGBTQ+ quanto da população geral com mais de 65 anos. Enfrentando os mesmos desafios que atingem todas as pessoas à medida que envelhecem, esses indivíduos também lidam com uma série de barreiras e desigualdades únicas, que podem dificultar uma vida saudável e plena na terceira idade. O etarismo impacta de forma única homens gays e mulheres lésbicas, gerando desafios como o medo da solidão e da invisibilidade. Veja como a comunidade LGBTQIA+ enfrenta o envelhecimento e as barreiras impostas pelo preconceito de idade e orientação sexual.

O que é o Etarismo e como ele impacta a comunidade LGBTQIA+?

O etarismo é o preconceito contra pessoas mais velhas, promovendo a ideia de que a juventude é a fase mais desejável da vida. Na comunidade LGBTQIA+, o etarismo afeta homens e mulheres de maneiras diferentes. Para homens gays, a pressão estética é intensa, enquanto para mulheres lésbicas, o envelhecimento frequentemente leva a uma invisibilidade dupla – tanto como mulher quanto como lésbica. Em uma sociedade que as espera no papel de cuidadoras, muitas vezes o fato de serem lésbicas é ignorado, fazendo com que suas relações afetivas sejam desconsideradas por familiares e pela sociedade em geral​.

Muitos homossexuais relatam temores em relação à velhice que incluem o medo da solidão e a ausência de apoio familiar, uma vez que a maioria não tem filhos e enfrenta rupturas com parentes ao longo da vida. Mesmo em instituições, relatos mostram que o público homossexual mais velho enfrenta resistência e falta de compreensão. Em muitos casos, “retornar ao armário” acaba sendo uma condição para o acolhimento seguro, mesmo que seja sentido como um retrocesso doloroso​.

A solidão e o envelhecimento de pessoas lésbicas e gays

Homens gays frequentemente sentem que envelhecer significa “perder valor” na comunidade, alimentando a insatisfação e baixa autoestima. A falta de modelos positivos de homens homossexuais mais velhos apenas reforça essa perspectiva, e as redes sociais desempenham um papel na perpetuação do “ideal jovem”​. De outra forma, muitas mulheres lésbicas são tratadas como “tias” ou “amigas” por familiares, e suas relações são desconsideradas. Esse apagamento afeta profundamente a saúde mental e a autoestima das mulheres mais velhas, que muitas vezes acabam por internalizar a LGBTfobia e se isolam​.

É comum que muitas pessoas, sobretudo familiares mais próximos, não validem a vida amorosa e a constituição da “família homossexual”. Anula-se a orientação sexual da pessoa. São comuns frases como: ‘Faz tempo que você não traz aquela sua amiga, não é?’, ou ‘aquele amigo que está sempre com você’, desconsiderando o fato de que se trata de uma namorada ou namorado, por exemplo. Uma vez que aos olhos dos outros (família, amigos e/ou colegas de trabalhos, etc) o relacionamento dessa mulher lésbica ou homem gay não é válido, irão exigir que ela tenha toda disponibilidade do mundo para se submeter ao que eles desejarem. Muitos se vêem obrigados a serem os “cuidadores dos idosos” da família por não terem constituído uma “família Doriana”. Mas o mais impressionante disso é que muitas pessoas se veem nesse ‘dever moral’. As mulheres lésbicas, principalmente, tomam para si esta “missão”, muitas vezes por viverem uma vida inteira num conflito chamado homofobia internalizada.

A pressão estética e o medo de perder a juventude

O uso crescente de tratamentos estéticos, como botox e harmonização, entre homens gays reflete o valor desproporcional dado à juventude. Na comunidade lésbica, enquanto a pressão estética é menos intensa, muitas mulheres ainda sofrem ao ver sua identidade ignorada. Quando envelhecem, a expectativa social é de que as lésbicas mais velhas assumam um papel submisso de cuidadora, especialmente para familiares, mesmo que tenham uma vida plena e afetiva com suas parceiras.

Estratégias para enfrentar o etarismo e valorizar o envelhecimento

  1. Busque modelos positivos de idosos LGBTQIA+: Valorizar pessoas homossexuais mais velha s e conhecer histórias de resiliência pode ajudar a desmistificar o envelhecimento e o medo de “perder o valor” com o tempo.
  2. Fortaleça as conexões sociais: Participar de grupos LGBTQIA+ de todas as idades, que valorizem cada fase da vida, ajuda a reduzir o isolamento.
  3. Invista em saúde mental: O apoio psicológico e o apoio mútuo com pessoas que compartilham a mesma dor é fundamental para homens e mulheres que enfrentam o etarismo e a LGBTfobia (externa ou internalizada).
  4. Pratique o Autocuidado e Celebre a Experiência de Vida: Cuidar da saúde física e emocional sem ceder à pressão estética é essencial. Exercícios físicos e uma boa alimentação são maneiras de manter o bem-estar e valorizar o corpo em qualquer idade. Celebrar as conquistas e os desafios superados fortalece a autoestima e ajuda a comunidade LGBTQIA+ a enfrentar o preconceito etário.

Envelhecer é um processo natural, mas pode ser especialmente desafiador para mulheres e homens homossexuais devido ao etarismo e à falta de apoio familiar. Superar esses desafios envolve adotar uma postura de aceitação e criar redes de apoio que valorizem a experiência e a diversidade de vivências.

Se você é uma mulher lésbica ou um homem gay e se identificou com este texto, eu te convido a fazer parte de uma comunidade de mútua ajuda e a compartilhar a sua história. Mande um e-mail para mim e se apresente: aline@apsiquiatra.com.br


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27 de junho de 2024 Dra Aline RangelLGBTQIA+Todos

A homofobia internalizada acontece quando a própria pessoa  absorve os preconceitos da sociedade sobre a homossexualidade e passa a dirigir esse ódio, vergonha ou rejeição contra si mesma.

O fato de alguém ser homossexual não a impede de ser homofóbica. Quando a pessoa nega, desvaloriza ou sente vergonha da própria orientação sexual chamamos homofobia internalizada que é um problema muito mais comum do que se imagina e que impacta profundamente a saúde mental da população LGBTQIA+ ou qualquer dissidência sexual.

Nesses casos, o indivíduo tem dificuldade de se aceitar e de gostar de si justamente por ter uma orientação homoafetiva. Isso costuma ser resultado de uma forte carga negativa moral, religiosa, familiar e social sobre a homossexualidade, assimilada ao longo da vida.

A homofobia, em qualquer forma (externa ou internalizada), é extremamente prejudicial, tanto para quem pratica atitudes homofóbicas quanto para quem é alvo delas. Na homofobia internalizada, o alvo vira a própria pessoa.

Sintomas de homofobia internalizada

Reconhecer a homofobia internalizada é o primeiro passo para lidar com ela. Alguns sinais frequentes incluem:

  • Baixa autoestima e imagem corporal negativa;

  • Sentimento constante de insatisfação consigo;

  • Tendência ao perfeccionismo e a cobranças pessoais excessivas;

  • Depressão, ressentimento, hiper-reatividade emocional, raiva e vergonha;

  • Preconceito, crítica ou desprezo por homossexuais assumidos;

  • Desejo velado por pessoas do mesmo sexo, muitas vezes negado ou racionalizado;

  • Visão estigmatizada, moralista e intolerante da homossexualidade;

  • Reações exageradas diante de manifestações públicas de afeto entre pessoas do mesmo sexo;

  • Pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos ligados à sexualidade;

  • Tentativas de “mudar”, “curar” ou “corrigir” a própria orientação sexual;

  • Permanência em relacionamentos abusivos por medo de ficar só ou de ser “descoberto”;

  • Vida dupla: aparência de heterossexualidade para a sociedade, homoafetividade vivida às escondidas;

  • Práticas sexuais inseguras, muitas vezes associadas à culpa, risco e autopunição.

Esses sintomas podem variar de intensidade, mas, em geral, estão ligados a muita culpa, vergonha e sensação de não pertencimento.

Por que a homofobia internalizada é tão perigosa?

A homofobia internalizada aumenta o risco de diversos problemas de saúde mental, como:

  • Transtornos de ansiedade

  • Depressão

  • Abuso de álcool e outras drogas

  • Transtornos alimentares

  • Compulsão sexual

  • Comportamentos autodestrutivos e autoagressivos

  • Ideação suicida.

Quando a pessoa cresce ouvindo que sua orientação é “errada”, “imoral” ou “vergonhosa”, é comum que ela passe a acreditar nisso. Com o tempo, esse discurso passa a morar dentro dela, afetando autoestima, relações afetivas, sexualidade e projetos de vida.

Vida dupla, culpa e atitudes homofóbicas

Muitas pessoas que descobrem sentir atração por alguém do mesmo sexo escolhem, inicialmente, esconder seus desejos e reprimir sentimentos para evitar julgamentos da família, do meio religioso ou profissional. Para se enquadrar nos padrões sociais, algumas passam anos levando uma vida aparentemente heterossexual, enquanto vivem seus desejos homoafetivos às escondidas.

Em vários casos, além de usarem uma “máscara social”, essas pessoas também:

  • Reproduzem discursos homofóbicos;

  • Criticam gays, lésbicas e bissexuais assumidos;

  • Julgam expressões de afeto entre pessoas do mesmo sexo.

Esse comportamento, muitas vezes, revela um ódio projetado: ao atacar o outro, a pessoa tenta atacar e silenciar aquilo que reconhece em si mesma.

Quando procurar ajuda profissional?

Se você se identificou com os sintomas de homofobia internalizada  em si ou em alguém próximo  é muito importante buscar ajuda profissional.

Psicoterapia e, em muitos casos, acompanhamento com psiquiatra especializado em sexualidade humana e saúde mental da população LGBT+ podem ajudar a:

  • Desconstruir crenças negativas sobre a homossexualidade.

  • Trabalhar culpa, vergonha e medo de rejeição.

  • Fortalecer a autoestima e o amor-próprio.

  • Tratar ansiedade, depressão e outros quadros associados.

  • Construir relações afetivas mais saudáveis e autênticas.

Lembre-se: orientação sexual não é transtorno, nem doença.
O sofrimento não vem de ser LGBT, mas da violência simbólica e concreta que a pessoa sofre socialmente e internamente.

Autoaceitação: amar quem você é

Independentemente da orientação sexual, toda pessoa merece se enxergar de forma positiva, se amar e se aceitar.

A homossexualidade não é defeito, pecado ou doença. É uma das expressões possíveis da sexualidade humana. Não deve ser motivo de vergonha, culpa ou punição.

Trabalhar a autoaceitação, reconstruir a própria história e entender como o preconceito foi internalizado é um processo que leva tempo – mas é profundamente libertador. Com apoio adequado, é possível viver a sexualidade de forma mais livre, segura e coerente com quem você é.

Quer saber mais sobre homofobia internalizada? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!

O que acontece na primeira consulta com o psiquiatra?


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19 de junho de 2022 LGBTQIA+

Vários estudos identificam que jovens LGBTQIA+ apresentam graves comportamentos de risco à saúde e piores desfechos negativos de saúde para esta população em comparação com seus pares heterossexuais. Uma prevalência maior de jovens de minorias sexuais relata sofrimento emocional, depressão, automutilação, ideação suicida e tentativas de suicídio. Os problemas típicos encontrados pelos adolescentes durante seu desenvolvimento até a idade adulta podem ser desafiadores para qualquer jovem, mas os adolescentes LGBTQIA+ enfrentam um conjunto único de preocupações relacionadas à saúde como resultado do estigma que impede o seu acesso aos cuidados em saúde (hospitais, ambulatórios, profissionais de saúde, etc).

Pacientes transgêneros ​​relatam sofrer algum tipo de discriminação nos cuidados de saúde também, o que cria uma barreira às vezes intransponível, ao seu acesso aos cuidados de saúde. Lembro do meu primeiro contato numa enfermaria com uma mulher “trans”, ainda no ensino médio, internada numa enfermaria de homens. Uma mulher transgênero à espera de seu primeiro exame físico  desabafou: “quando eu caminhei em direção ao banheiro feminino, a enfermeira pulou e me disse para usar o banheiro compartilhado pelos homens. Senti vontade de sair e largar de mão o meu tratamento.” Ela tinha pancreatite aguda grave e considerou deixar de tratar-se pois tamanho era o sofrimento a cada ida ao banheiro masculino.

Profissionais da Saúde como promotores da saúde LGBTQIA+

Como profissionais da saúde, é essencial que compreendamos as disparidades e a discriminação que a população LGBTQIA+ encontra quando procura atendimento de saúde. Os profissionais precisam defender apaixonadamente e exibir um alto nível de competência cultural ao cuidar de todos os pacientes. Como promotores de saúde, quando os cuidados de saúde não são iguais, perdemos a oportunidade de prestar cuidados de saúde de qualidade. Também é fundamental que médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais e outros se sintam à vontade para discutir questões de sexualidade e orientação sexual com todos os pacientes, incluindo adolescentes, porque os adolescentes correm maior risco e podem não se sentir à vontade para iniciar essas discussões por conta própria.

Embora tenha havido mudanças significativas desde que este estudo foi realizado, dados de estudos baseados em pesquisas com médicos sugerem que muitos médicos têm atitudes negativas em relação a indivíduos LGBTQIA+, o que afeta a capacidade dos médicos de fornecer cuidados adequados a essa população de pacientes. Uma pesquisa nacional de médicos em 2001 revelou que 73% dos médicos pesquisados ​​relataram que se sentiriam à vontade para tratar pacientes LGB, 19% se sentiriam um pouco confortáveis ​​e 6% se sentiriam um pouco ou muito desconfortáveis ​​(Coker et al., 2010).

Tal como acontece com muitos tópicos delicados que devem ser abordados durante uma consulta médica, os pacientes devem ter garantia de confidencialidade Os cuidados de saúde não são cuidadosos quando 73% dos entrevistados transgêneros e 29% dos entrevistados lésbicas, gays e bissexuais relatam acreditar que serão tratados de maneira diferente pela equipe médica por causa de seu status LGBTQ+ segundo o Healthcare Equality Index 2022.

Política Nacional de Saúde LGBT

A Política Nacional de Saúde LGBT é um divisor de águas para as políticas públicas de saúde no Brasil e um marco histórico de reconhecimento das demandas desta população em condição de vulnerabilidade. Sua formulação seguiu as diretrizes de governo expressas no Programa Brasil sem Homofobia, que foi coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e que atualmente compõe o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3).

Igualdade ao cuidado à saúde para TODXS

Tal como acontece com a maioria das coisas, a honestidade é a melhor política. Abordando todos os pacientes de forma aberta e honesta, fazendo as perguntas necessárias, o gerente de caso pode afetar uma avaliação completa e adequada. Envolver pacientes LGBTQIA+ não deve ser diferente de envolver qualquer paciente. É nosso trabalho e responsabilidade ética não apenas ouvir, mas ouvir as necessidades, medos e desejos de nossos pacientes. Aceitar todos os nossos pacientes como os encontramos e deixar bagagem pessoal fora da relação profissional é nosso dever. Uma abordagem prática com um ambiente agradável e acolhedor sinaliza aos pacientes que eles estão no lugar certo e que você é a pessoa certa – aquela que finalmente os ouvirá.

É imprescindível a ação da sociedade civil nas suas mais variadas modalidades de organização com os governos para a garantia do direito à saúde, para o enfrentamento das iniquidades e para o pleno exercício da democracia e do controle social.

A garantia ao atendimento à saúde é uma prerrogativa de todo cidadão e cidadã brasileiros, respeitando-se suas especificidades de gênero, raça/etnia, geração, orientação e práticas afetivas e sexuais.

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Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder os seus comentários sobre esse assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!




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    Médica graduada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro.


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