lisdexanfetamina / Dra Aline Rangel

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O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento marcado por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Com prevalência variando de 5,9% a 10% em crianças e 2,5% a 7% em adultos, o TDAH afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com diferenças importantes entre os gêneros ao longo da vida. Já o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCA), um distúrbio alimentar crônico, é caracterizado por episódios frequentes de ingestão exagerada de alimentos sem comportamentos compensatórios, atingindo cerca de 2,8% da população.

Embora pareçam condições distintas, estudos mostram que tanto o TDAH quanto o TCA compartilham uma característica neurobiológica central: a disfunção no sistema de recompensa do cérebro. Essa similaridade abre caminho para intervenções eficazes, como o uso da lisdexanfetamina (LDX) –  comercializada com o nome Venvanse ® aqui no Brasil – um medicamento que tem se mostrado promissor no tratamento de ambas as condições.

O sistema de recompensa no TDAH e na Compulsão Alimentar

O sistema de recompensa desempenha um papel central na regulação da motivação, do prazer e da tomada de decisões. Tanto no TDAH quanto no TCA, há uma disfunção nesse sistema, especialmente em relação à dopamina, um neurotransmissor crucial para o processamento de recompensas.

  • TDAH: Pacientes apresentam dificuldade em lidar com atividades que não oferecem gratificação imediata, o que leva a impulsividade e problemas de autorregulação.
  • TCA: No transtorno da compulsão alimentar, observa-se uma hipersensibilidade às recompensas alimentares, resultando em um ciclo de compulsão e reforço positivo contínuo.

Essa preferência por recompensas imediatas é comum em condições como transtornos por uso de substâncias e compulsão alimentar, dificultando o controle sobre comportamentos impulsivos.

Lisdexanfetamina: um tratamento promissor

A lisdexanfetamina (LDX) é um pró-fármaco que se converte em dextroanfetamina no organismo, aumentando os níveis de dopamina e norepinefrina em áreas do cérebro relacionadas à atenção, controle de impulsos e recompensa. Ela é amplamente utilizada no tratamento do TDAH e também tem demonstrado eficácia no manejo do TCA.

Benefícios da Lisdexanfetamina no TDAH:

  • Redução da impulsividade e da aversão a recompensas tardias.
  • Melhora na tomada de decisões e no controle de impulsos.
  • Efeitos consistentes ao longo do dia devido à sua ação prolongada.

Benefícios da Lisdexanfetamina no TCA:

  • Redução significativa nos episódios de compulsão alimentar.
  • Normalização da resposta de recompensa aos alimentos.
  • Melhora na regulação dopaminérgica, reduzindo o ciclo de compulsão e reforço positivo.

Estudos mostram que a LDX pode atuar diretamente na habênula lateral (LHb), uma estrutura do cérebro associada à sinalização de não recompensa. Essa regulação contribui para a normalização do sistema de recompensa em pacientes com TDAH e TCA, promovendo escolhas mais equilibradas e reduzindo os comportamentos impulsivos.

Conexão entre TDAH, Compulsão Alimentar e tratamento

A relação entre TDAH e TCA vai além das semelhanças nos sintomas. Ambos os transtornos compartilham disfunções neurobiológicas que afetam o dia a dia dos pacientes, aumentando o risco de comorbidades psiquiátricas. Intervenções que abordam essas disfunções, como o uso da lisdexanfetamina, têm se mostrado eficazes na melhoria da qualidade de vida.

Investir em um tratamento adequado, que pode incluir psicoestimulantes, terapia comportamental e mudanças no estilo de vida, é essencial para o manejo desses transtornos. O impacto positivo da LDX no sistema de recompensa oferece uma abordagem inovadora para tratar não apenas os sintomas principais, mas também as comorbidades associadas.


Referências:

  1. Newcorn JH, Ivanov I, Krone B, Li X, Duhoux S, White S, et al. Neurobiological basis of reinforcement-based decision making in adults with ADHD treated with lisdexamfetamine dimesylate: Preliminary findings and implications for mechanisms influencing clinical improvement. J Psychiatr Res. 2024;170:19-26.
  2. Schneider E, Higgs S, Dourish CT. Lisdexamfetamine and binge-eating disorder: A systematic review and meta-analysis of the preclinical and clinical data with a focus on mechanism of drug action in treating the disorder. Eur Neuropsychopharmacol. 2021;53:49-78.
  3. Mondoloni S, Mameli M, Congiu M. Reward and aversion encoding in the lateral habenula for innate and learned behaviours. Transl Psychiatry. 2022;12(1):3.



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    Médica graduada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro.


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