Uma pesquisa da Associação Americana de Psiquiatria (APA) revela que cerca de 2,7% da população mundial sofre de Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) – também conhecido como Síndrome do Hulk. O TEI é um distúrbio que gera comportamentos agressivos, com acessos de raiva descontrolada e agressões desmedidas motivadas por situações corriqueiras. A pessoa com esse transtorno de impulso costuma ter não apenas a saúde mental afetada, mas, principalmente, sua vida social.
Esse transtorno pode acarretar uma série de problemas, tanto para quem tem a doença, quanto para as pessoas que convivem com ela. A pessoa com TEI, geralmente, apresenta pouca tolerância à frustração, desenvolvendo uma inaptidão para gerenciar a raiva e a hostilidade, tornando-se instável afetivamente. A instabilidade emocional é muito presente em relacionamentos como de um namoro ou conjugal e não é incomum se apresentar como ciúmes patológico.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) , para cada três pacientes homens, uma paciente mulher tem o TEI. O transtorno atinge 3,1% da população no Brasil. Os estudos realizados pela APA apontam que as pessoas que sofrem da Síndrome do Hulk e possuem outros distúrbios mentais, como ansiedade e depressão, têm pelo menos quatro vezes mais prevalência em possuir a doença.
Como diagnosticar um TEI de um ataque de raiva
O diagnóstico do TEI é feito com base ao histórico do paciente e de relatos de familiares sobre sua conduta em situações diárias. É importante lembrar que o transtorno só se comprova quando há repetição dos comportamentos agressivos por certo tempo – o que indica se tratar de uma enfermidade crônica.
A principal característica de uma pessoa com esse tipo de transtorno é a tendência para a impulsividade sem medir as consequências das suas atitudes agressivas, além de serem instáveis afetivamente. É importante reforçar que toda essa agressividade não acontece de forma premeditada, ou seja, as pessoas não conseguem conter essas explosões de fúria.
Nas explosões leves podem ocorrer ameaças, xingamentos, gestos obscenos, ofensas, gritos, imprudências no trânsito, ataque de objetos e agressões físicas sem lesão corporal. Para ser caracterizado como um transtorno, essas reações precisam ter uma frequência média de duas vezes por semana, em um período, mínimo, de três meses. Já nos casos severos, podem ocorrer destruição de propriedades e patrimônios e ataque físicos mais sérios, com lesão corporal. Caso esses episódios ocorram mais três vezes durante o período de um ano, já pode ser considerado um quadro de transtorno.
Normalmente, as pessoas que possuem essa doença não conseguem avaliar as consequências de seus atos para si e para os outros. As crises podem ocorrer de forma mais grave, caso o indivíduo seja criticado ou impedido de agir durante as explosões de agressividade. Outra característica muito comum a esses pacientes é que logo após esses ataques, seja leve ou severo, aparecem sentimentos de arrependimento, vergonha, culpa e ou tristeza. É muito comum observar comportamentos auto-lesivos ou extremamente destrutivos contra si mesmo após um acesso de raiva. Essa experiência de sofrimento genuíno é que caracteriza o TEI e, ao mesmo tempo, dificulta tanto o diagnóstico e tratamento desta condição.
Qualquer forma de binarismo, costuma ser tóxica, excludente e reducionista mas com o TEI não é diferente. Assim como em outros transtornos psiquiátricos, onde o hedonismo, narcisismo patológico e condições atribuídas ao caráter (como compulsão sexual, dependência química e não-química, entre outros) geram confusão sobre como diferenciar o que é doença versus o que “cafajestagem”, é comum observar que, quem tem o transtorno e precisa de ajuda, tem dificuldade em buscar tratamento e aqueles que são “cafajestes de natureza” podem se justificar em diagnósticos mal feitos por profissionais pouco experientes neste tema.
Sintomas mais comuns no transtorno explosivo intermitente
- Agressões físicas e sem justificativa ou razão;
- Surtos de raiva repentinos;
- Pressão e batimentos cardíacos descontrolados;
- Arremesso de objetos durante a crise;
- Sudorese e tremores pelo corpo;
- Falta de paciência e irritabilidade;
- Falta de controle sobre as próprias ações;
- Culpa após o ataque.
Como tratar o transtorno explosivo intermitente
Ainda há muito que se pesquisar sobre este transtorno e abordagens terapêuticas eficazes. Algumas experiências, no entanto, já demonstraram que a forma mais eficiente para o tratamento, até o momento, é a utilização de medicamentos (antidepressivos e estabilizadores do humor principalmente) associado à psicoterapia. Essas intervenções ajudam o paciente a lidar com a agressividade, reduzindo a frequência dos episódios de explosões e diminuindo os prejuízos gerados por eles.
É importante ter clareza de que, para se estabelecer o diagnóstico adequado, os ataques agressivos não devem ser decorrentes de substâncias lícitas ou ilícitas, como álcool, medicamentos ou drogas. Nem mesmo por condições psicológicas, como transtornos depressivos, mania ou exaltação no contexto do transtorno bipolar ou de personalidade ou ainda condições médicas, como traumatismo craniano, doença de Alzheimer, entre outras.
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