tratamento TDAH / Dra Aline Rangel

Compulsao-alimentar-TDAH-Aline-Rangel-1200x800.png

A compulsão alimentar é um transtorno caracterizado pelo hábito de comer grandes quantidades de alimentos em um curto período de tempo, com a sensação de descontrole diante da comida. É muito comum confundir compulsão com exagero. No final de semana, em festas, ao encontrar amigos para uma refeição, por exemplo,  é comum comer bastante. Esses exageros são totalmente normais.

No entanto, no Transtorno de Compulsão Alimentar Periódioca esse não é um exagero ocasional. Quem sofre com esse problema não escolhe comer grandes quantidades de comida e nãos os descreve como episódios agradáveis. Ele se caracteriza pela ingestão descontrolada de grande quantidade de alimentos, sem apetite e até quase sem mastigar, até que seja alcançada a plenitude.  O ato compulsivo é realizado independente da percepção que já deveria estar saciado do paciente que, após praticá-lo, na tentativa de libertar-se de um estado insuportável de mal estar, sente-se esgotado, constrangido e com intenso sentimento de culpa sem, no entanto, recorrer a atos compensatórios (vomitar por exemplo), como nos casos de bulimia nervosa.

Estudos estimam que 12 a 30% dos pacientes com transtorno da compulsão alimentar também têm TDAH*

Embora pareçam condições distintas, estudos mostram que tanto o TDAH quanto a compulsão alimentar compartilham uma característica neurobiológica central: a disfunção no sistema de recompensa do cérebro. Essa similaridade abre caminho para intervenções eficazes, como o uso da lisdexanfetamina, comercializada com o nome Venvanse ®, Lyberdia® aqui no Brasil, um medicamento que tem se mostrado promissor no tratamento de ambas as condições.

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento marcado por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Com prevalência variando de 5,9% a 10% em crianças e 2,5% a 7% em adultos, o TDAH afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com diferenças importantes entre os gêneros ao longo da vida.

TDAH e Compulsão Alimentar:

o que acontece no sistema de recompensa?

O sistema de recompensa desempenha um papel central na regulação da motivação, do prazer e da tomada de decisões. Tanto no TDAH quanto na compulsão alimentar, há uma disfunção nesse sistema, especialmente em relação à dopamina, um neurotransmissor crucial para o processamento de recompensas.

  • TDAH: Pacientes apresentam dificuldade em lidar com atividades que não oferecem gratificação imediata, o que leva a impulsividade e problemas de autorregulação.

  • Compulsão alimentar: No transtorno da compulsão alimentar, observa-se uma hipersensibilidade às recompensas alimentares, resultando em um ciclo de compulsão e reforço positivo contínuo.

Essa preferência por recompensas imediatas é comum em condições como transtornos por uso de substâncias e compulsão alimentar, dificultando o controle sobre comportamentos impulsivos.

Lisdexanfetamina no tratamento para a Compulsão Alimentar

A lisdexanfetamina é um pró-fármaco que se converte em dextroanfetamina no organismo, aumentando os níveis de dopamina e norepinefrina em áreas do cérebro relacionadas à atenção, controle de impulsos e recompensa. Ela é amplamente utilizada no tratamento do TDAH e também tem demonstrado eficácia no manejo da compulsão alimentar.

No TDAH, a intervenção com esta medicação está relacionada à melhora da impulsividade, da persistência de esforço e da tolerância a recompensas tardias.

Na compulsão alimentar, o seu uso está relacionado a uma redução da frequência de episódios de compulsão, maior controle sobre gatilhos, possível “normalização” da resposta de recompensa a alimentos.

Evidências sugerem modulação de circuitos cerebrais como a habênula lateral (sinalização de não-recompensa), o que pode ajudar a reduzir escolhas impulsivas e reequilibrar o ciclo de recompensa.

Importante: medicamentos não substituem psicoterapia, rotina estruturada, higiene do sono, manejo nutricional e atividade física. O melhor resultado vem da combinação de tratamento farmacológico + “cadenciamento dos hábitos” e crenças disfuncionais.

Importância da identificação da comorbidade TDAH + Compulsão Alimentar 

Para muitos pacientes é crucial e até “empoderador” descobrir que o TDAH está na raiz dos episódios de compulsão alimentar. Por isso, entender o TDAH, o que ele é e o que não é o primeiro passo no tratamento do transtorno de compulsão alimentar periódica.

É muito importante para os pacientes que têm essas condições comórbidas o quanto é difícil regular algo que é intrinsecamente recompensador para essa pessoa como a ingestão de alimentos, por exemplo, mas poderia ser quanquer outro comportamento impulsivo. A maioria dos pacientes fica aliviada ao entender que é o TDAH e não algum defeito interno profundo que contribui para a compulsão alimentar deles.

Sem aceitação e compreensão, o tratamento pode ficar comprometido, porque pessoas com compulsão alimentar lidam com uma carga enorme de vergonha.

TDAH, Compulsão Alimentar e tratamento

A relação entre TDAH e compulsão alimentar vai além das semelhanças nos sintomas. Ambos os transtornos compartilham disfunções neurobiológicas que afetam o dia a dia dos pacientes, aumentando o risco de comorbidades psiquiátricas. Intervenções que abordam essas disfunções, como o uso da lisdexanfetamina, têm se mostrado eficazes na melhora da qualidade de vida.

Aposte na terapia

É importante controlar ou reduzir os padrões de pensamento negativos que a pessoa tem sobre si mesma e sobre o seu transtorno de compulsão alimentar. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar a construir uma visão mais positiva em relação ao comer compulsivo. Por exemplo, em trabalho com um terapeuta, a pessoa pode aprender a não se sentir um fracasso e abandonar o plano de tratamento só porque “escorregou” ou teve uma “recaída” nas escolhas alimentares em um dia.

A terapia comportamental dialética (DBT) também é muito útil para pessoas com TDAH, que tendem a sentir as emoções de forma mais intensa do que outras pessoas. Comer emocionalmente quando estão entediadas, com baixa autoestima ou depois de uma briga com um colega de trabalho ou com o parceiro é um desafio central para quem tem TDAH.

O objetivo da DBT é criar um equilíbrio entre aceitar onde você está agora e, ao mesmo tempo, enxergar os benefícios de fazer pequenas mudanças, sem cair no desespero ao longo do caminho. A DBT também oferece às pessoas com TDAH ferramentas eficazes para controlar melhor suas emoções  e o impacto delas sobre a compulsão alimentar.

Investir em um tratamento adequado, que pode incluir psicoestimulantes, terapia comportamental e mudanças no estilo de vida, é essencial para o manejo desses transtornos. O impacto positivo da lisdexanfetamina no sistema de recompensa oferece uma abordagem inovadora para tratar não apenas os sintomas principais, mas também as comorbidades associadas.

 

 

O que acontece na primeira consulta com o psiquiatra?


Referências:

  1. Newcorn JH, Ivanov I, Krone B, Li X, Duhoux S, White S, et al. Neurobiological basis of reinforcement-based decision making in adults with ADHD treated with lisdexamfetamine dimesylate: Preliminary findings and implications for mechanisms influencing clinical improvement. J Psychiatr Res. 2024;170:19-26.
  2. Schneider E, Higgs S, Dourish CT. Lisdexamfetamine and binge-eating disorder: A systematic review and meta-analysis of the preclinical and clinical data with a focus on mechanism of drug action in treating the disorder. Eur Neuropsychopharmacol. 2021;53:49-78.
  3. Mondoloni S, Mameli M, Congiu M. Reward and aversion encoding in the lateral habenula for innate and learned behaviours. Transl Psychiatry. 2022;12(1):3.


1 de outubro de 2023 Dra Aline RangelTDAH

A Atomoxetina é um medicamento não estimulante utilizado no tratamento do TDAH em crianças com mais de 6 anos, adolescentes e adultos como parte de um programa de tratamento integrado, o qual também inclui intervenções psicológicas, educacionais e sociais, além dos medicamentos. É um inibidor seletivo da recaptação de norepinefrina, que ajuda a melhorar a concentração, a atenção e o controle dos impulsos nos pacientes com TDAH. Ao contrário de medicamentos estimulantes, a atomoxetina possui menos riscos de abuso.

Atomoxetina: um reforço e tanto no controle do TDAH

O êxito deste psicofámaco, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em julho de 2023, está associado ao fato dele atuar especificamente numa área do cérebro chamada córtex pré-frontal (CPF).  O CPF é uma região do cérebro que funciona como um “maestro”:  regula emoções, pensamentos e movimentos que termina de se desenvolver por volta dos 24 a 26 anos. No TDAH, é como se houvesse “um maestro que não rege tão bem os mais diferentes músicos que compõem a orquestra”. Essa falta de “harmonia entre os músicos” tem origens genéticas e pode se manifestar em crianças, jovens e adultos, faz com que o indivíduo convive com desatenção, hiperatividade e impulsividade frequentemente

A Atomoxetina funciona de maneira diferente dos psicoestimulantes. Ela atua como um inibidor seletivo de recaptação de noradrenalina (ISRN) e, ao invés de aumentar os níveis de dopamina e norepinefrina no cérebro, como fazem os psicoestimulantes, a Atomoxetina aumenta predominantemente os níveis de norepinefrina. Isso contribui para melhorar a atenção e o controle impulsivo.

Vantagens da Atomoxetina

Uma das vantagens importantes da Atomoxetina é o fato de não ser um medicamento estimulante. Isso se torna uma opção atraente para pacientes que não toleram bem os estimulantes ou que tenham questões relacionadas ao seu uso, como o potencial de abuso. Além disso, a Atomoxetina é uma opção de tratamento de longa duração, o que significa que uma única dose diária pode proporcionar benefícios ao longo do dia, eliminando a necessidade de múltiplas doses.

Considerações de Segurança e Efeitos Colaterais

Como com qualquer medicamento, a Atomoxetina não está isenta de efeitos colaterais. Os efeitos colaterais mais comuns incluem boca seca, náusea, aumento da frequência cardíaca, constipação, etc. É importante que os pacientes discutam os riscos e benefícios com seu psiquiatra antes de iniciar o tratamento com Atomoxetina. Além disso, o acompanhamento psiquiátrico contínuo é essencial para monitorar os efeitos colaterais e ajustar a dosagem se necessário.

Uma Nova Era no Tratamento do TDAH

O TDAH é uma condição neuropsiquiátrica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com impactos significativos em suas vidas. A chegada da Atomoxetina, o primeiro medicamento não-estimulante para o tratamento do TDAH no Brasil, é um marco importante que oferece novas perspectivas de tratamento. No entanto, é fundamental lembrar que o tratamento do TDAH é individualizado e requer uma abordagem multidisciplinar.

O diagnóstico precoce, a pesquisa contínua e o acompanhamento são elementos essenciais para garantir o sucesso do tratamento. À medida que continuamos a avançar na compreensão do TDAH e no desenvolvimento de novas opções terapêuticas, podemos olhar para o futuro com a esperança de proporcionar uma vida com mais foco, atenção e controle para aqueles que vivenciam o desafio do TDAH. A Atomoxetina é um passo promissor nesse caminho.

Agende sua consulta com a Dra. Aline Rangel




NEWSLETTER








    Sobre



    Médica graduada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro.


    Contato


    São Paulo – SP

    Rua Cubatão, 86 – 405 – Paraíso


    WhatsApp


    E-mail

                  aline@apsiquiatra.com.br

    Nosso material tem caráter meramente informativo e não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico, autotratamento ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte o seu médico.

    Copyright © 2023 – Todos os direitos reservados

    Política de Privacidade

    × Agende sua consulta