Dra Aline Rangel / Dra Aline Rangel

escola-tdah.png

13 de novembro de 2025 Dra Aline RangelTDAH

Não existem escolas “especializadas” para TDAH, mas sim escolas que se adaptam para atender às necessidades de alunos com o transtorno, conforme garantido pela Lei nº 14.254/2021. A escola ideal é aquela que oferece um ambiente com adaptações pedagógicas, suporte socioemocional, flexibilidade nas avaliações e um ambiente físico com menos distrações. É crucial que a escola trabalhe em parceria com a família e os profissionais de saúde (médicos, psicólogos, psicopedagogos) que acompanham a criança.

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição neurológica que afeta a capacidade de manter a atenção, o controle dos impulsos e o nível de atividade. Estudantes com TDAH podem enfrentar desafios significativos no ambiente escolar, que muitas vezes é estruturado de maneira a privilegiar o aprendizado de alunos sem essas dificuldades.

Além de psiquiatra, sou mãe de uma adolescente com TDAH, tia de um menino com dupla excepcionalidade (superdotação e TEA) e cresci com um primo autista e com deficiência intelectual, hoje com 46 anos. Esses são meus “títulos de especialista” mais importantes ao abordar esta temática da neurodivergência: conheço a dor das famílias, das escolas e dos professores.

Circulei em várias escolas das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro como profissional, mãe, tia e prima desde os anos 1980. Particularmente, sou muito empática com professores do ensino fundamental (anos iniciais) da rede pública que são a ponta mais potente e igualmente mais vulnerável nessa rede pedagógica envolvida no suporte às crianças com TDAH e outras condições associadas ao neurodesenvolvimento.

A legislação brasileira e as orientações do Ministério da Educação garantem o atendimento educacional especializado e a inclusão de alunos com TDAH nas escolas regulares, conforme estabelecido na Lei nº 14.254/2021. Isso significa que as escolas devem oferecer suporte e adaptações para as necessidades desses estudantes, como a capacitação de professores e a oferta de um Plano Educacional Individualizado (PEI). 

Direitos dos alunos com TDAH (Lei nº 14.254/2021)

  • Acompanhamento integral

As escolas públicas e privadas devem garantir um acompanhamento integral para os estudantes com TDAH, que pode incluir a presença de um auxiliar de sala, dependendo do caso.

  • Capacitação de professores

Os sistemas de ensino devem capacitar os professores para que possam identificar os sinais do TDAH e de outros transtornos de aprendizagem de forma precoce e oferecer o apoio necessário.

  • Plano educacional individualizado (PEI)

As escolas têm a obrigação de fornecer o PEI para estudantes com TDAH, que é um plano de estudos personalizado para atender às suas necessidades.

  • Atendimento em rede

O atendimento educacional deve ser realizado em parceria com profissionais da rede de saúde, caso haja necessidade de intervenções terapêuticas. 

Felizmente, nos dias atuais, profissionais da saúde e da educação estão mais próximos, existe legislação que garanta direitos a crianças e adolescentes que vivam com o TDAH e outras condições associados ao neurodesenvolvimento, bem como acesso a informações e plataformas de suporte pedagógico, como a Twinkl,  para família, professores e toda equipe pedagógica envolvidos no suporte ao aluno.

 

Características de uma escola para alunos com TDAH

  • Estratégias pedagógicas adaptadas

    • Aulas mais interativas e que incentivem a participação ativa.
    • Utilização de recursos visuais (gráficos, vídeos) e materiais lúdicos .
    • Atividades que permitam movimento para ajudar na concentração.
    • Flexibilidade nas avaliações, como mais tempo para as provas ou a realização em um ambiente separado.
  • Suporte emocional e comportamental

    • Profissionais capacitados para acolher e oferecer suporte emocional.
    • Comunicação contínua e próxima com a família para alinhar as estratégias de ensino-aprendizagem.
  • Adaptações no ambiente físico

    • Redução de distrações visuais e sonoras na sala de aula.
    • Disposição da carteira em local que facilite a concentração do aluno.
  • Parceria e comunicação

    • A escola deve trabalhar em conjunto com os pais e a equipe terapêutica (psicólogos, psicopedagogo, médicos) para implementar as melhores estratégias de aprendizagem.
    • Os professores, com a ajuda de especialistas, podem criar práticas que otimizem a absorção de conteúdo e melhorem o desempenho.

O que buscar para escolher a escola para uma aluno com TDAH?

  • Busque escolas que já têm um histórico com crianças com TDAH.

  • Algumas instituições já possuem uma abordagem pedagógica mais inclusiva e adaptada.

  • Verifique se a equipe pedagógica e os professores têm formação específica sobre o TDAH e estratégias de inclusão.

  • Converse com a equipe da escola sobre a existência de um plano de apoio individualizado: para o aluno com base nas recomendações pedagógicas, médicas e terapêuticas.

  • Exija que a escola cumpra a legislação. A Lei nº 14.254/2021 garante direitos como o direito à adaptação do ensino e treinamento para professores, que não devem ser negados.

Comunicação é a principal estratégia de construção da escola ideal!

Na prática, além de capacitações diversas, recursos inclusivos, etc, a comunicação é a melhor estratégia de adaptação e inclusão de um aluno neurodivergente.  É muito comum a culpabilização dos outros ou transferência de culpa para quem é vítima em casos mais complexos. Escola “culpa” família, família “culpa” escola e assim por diante, criando um ciclo vicioso em que ninguém ajuda ninguém tampouco o aluno nas suas necessidades individuais pedagógicas e emocionais.

A “melhor escola especializada em TDAH” é, na verdade, uma utopia. Entretanto, quando escola, aluno, família, profissionais envolvidos se ouvem, trocam e se respeitam, seja no melhor colégio particular da cidade de São Paulo à escola municipal da sua cidade de poucos habitantes, essa “melhor escola” pode ser construída para aquele aluno em especial.

 


Fui mencionada no artigo intitulado: “12+ Ideias de Atividades para Crianças com TDAH em Casa ou na Escola” publicado no site da plataforma educacional Twinkl. Do site do editor, você também pode baixar gratuitamente um pacote de recursos educacionais para alunos com TDAH.

A Twinkl é uma editora britânica fundada em 2010, presente hoje em mais de 200 países.  Seu principal objetivo é apoiar professores, pais e profissionais da educação oferecendo recursos pedagógicos prontos para usar, sempre com base em princípios de inclusão, acessibilidade e valorização da diversidade.

Transparência: Não há patrocínio ou pagamento envolvendo promoção de marcas. A colaboração se restringe ao recebimento de materiais especializados para análise técnica e uso educativo, além de citação do meu trabalho em colaboração editorial.

O que acontece na primeira consulta com o psiquiatra?


contabilidade-medico-aline-rangel-1200x800.jpg

11 de novembro de 2025 Dra Aline RangelSem categoria

Um CNPJ médico é o registro de um médico como Pessoa Jurídica (PJ), que permite a ele atuar formalmente, emitir notas fiscais, ter enquadramento tributário próprio e prestar serviços a clínicas, hospitais ou pacientes particulares. Para abrir um CNPJ, o profissional precisa ter o CRM ativo, reunir a documentação necessária (como cópias do RG, comprovante de residência e IPTU) e registrar a empresa na Junta Comercial, Receita Federal e no Conselho Regional de Medicina (CRM).

Trabalhar como autônomo (pessoa física – PF) ou abrir um CNPJ (pessoa jurídica – PJ)?

Mais cedo ou mais tarde, praticamente todos nós, médicos ou profissionais da área de Saúde, nos vemos diante desse dilema, que depende basicamente do perfil, da fase da carreira e dos objetivos de cada um.

Além da nossa formação técnica, hoje somos exigidos a pensar como empresários com pouca ou nenhuma formação sobre temas referentes à contabilidade para médicos e aprendermos um extenso vocabulário contábil: tipo de empresa, como abrir a empresa, licenças, alvarás, impostos, sociedade, sócios, pró-labore etc. E essas informações são essenciais tanto para o trabalho num plantão médico quanto no atendimento em consultório médico particular, passando por clínicas, hospitais e até a criação da nossa própria clínica médica.

De modo geral, abrir uma empresa na área médica (“virar PJ”)  é um passo estratégico para quem busca ampliar oportunidades e conquistar mais autonomia. A primeira transição costuma vir com a abertura de um CNPJ individual, à medida que o volume de atendimentos e parcerias como autônomo aumenta. 

Se você ainda tem receio de fazer esse movimento, é importante saber que, quando bem planejado e com o suporte de uma contabilidade especializada, ele pode propiciar uma série de benefícios. Isso inclui eficiência tributária, segurança financeira e liberdade para que o médico possa concentrar-se no aprimoramento de sua carreira e no cuidado dos pacientes.

As 10 principais dúvidas sobre como abrir CNPJ médico respondidas por contadora

Para explicar os principais pontos das etapas envolvidas na transição de pessoa física (PF) para pessoa jurídica (PJ) e do processo de abertura de um consultório médico ou clínica médica, conversei com a contadora Eduarda Cristina de Souza  (PR-083163/O), da Contabilizei (CNPJ: 20.182.807/0001-08), escritório que oferece contabilidade especializada para médicos e profissionais de saúde. Conversamos sobre os temas principais relacionados à contabilidade para médicos e profissionais da saúde, que muitos colegas profissionais da saúde me pedem opinião e listei os 10 principais abaixo:

  1. Quando o médico ou profissional da saúde decide abrir sua própria clínica ou consultório, qual é o primeiro passo do ponto de vista da contabilidade?
  2. É preciso abrir um CNPJ exclusivo ou dá para usar o mesmo CNPJ da atuação como médico?
  3. Abrir a clínica sozinho ou com sócios? Quais cuidados tomar?
  4. Regime tributário: o que saber para optar pelo Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real?
  5. Como as clínicas costumam formalizar parcerias com outros médicos e profissionais de saúde?
  6. Como funciona o pagamento dos sócios?
  7. Existe forma de reduzir impostos legalmente?
  8. Quais licenças e autorizações uma clínica precisa ter para operar legalmente?
  9. Quais os erros mais comuns na abertura de clínicas médicas, e como evitá-los?
  10. Qual a importância da contabilidade para minha prestação de serviço e/ou no meu negócio?

Com mais 20 mil clientes no setor de saúde, a Contabilizei oferece um suporte especializado, tecnologia e conhecimento aprofundado das particularidades do segmento. Essa combinação permite apoiar milhares de médicos na abertura e gestão de suas empresas, acompanhando de perto cada etapa, da formalização à expansão do negócio. 

No nosso bate-papo, ela explicou de forma clara e prática quais são as decisões que mais pesam nesse processo — da escolha do tipo de empresa e regime tributário mais vantajoso à regularização de licenças e otimização de impostos.

Confira a seguir os principais trechos da nossa conversa.

Quando o médico decide abrir sua própria clínica ou consultório, qual é o primeiro passo do ponto de vista contábil?

Eduarda: O primeiro passo é entender o modelo de negócio que o médico pretende estruturar — se vai atuar sozinho, em sociedade com outros profissionais ou se o consultório ou clínica oferecerá diferentes especialidades e serviços.

Isso define o tipo de empresa, o regime tributário e as licenças necessárias. Uma contabilidade especializada pode fazer essa análise inicial gratuitamente, orientando o médico desde o planejamento até o registro do CNPJ. Também é possível simular diferentes cenários tributários para identificar o enquadramento mais vantajoso, sempre com foco na rentabilidade e economia legal de impostos. 

É preciso abrir um CNPJ exclusivo ou dá para usar o mesmo CNPJ da atuação como médico?

Eduarda: Depende do formato do consultório ou da clínica. Se a estrutura for diferente do atendimento individual, o ideal é abrir um novo CNPJ, pois o código de atividade (CNAE) e as exigências legais mudam. A escolha do CNAE é crucial, pois impacta diretamente no enquadramento fiscal e, consequentemente, no valor dos impostos a serem pagos.

É importante que esse processo seja conduzido com o apoio da contabilidade — da análise do modelo de negócio à migração segura para o novo formato de empresa, para garantir conformidade e economia tributária.

O que difere na escolha entre abrir a clínica sozinho ou com sócios? Quais cuidados tomar?

Eduarda: Caso atuem sozinhos, médicos podem abrir uma Sociedade Limitada Unipessoal (SLU). Nesta modalidade, o patrimônio pessoal do profissional fica legalmente separado do patrimônio da empresa. Ou, se tiverem sócios, podem optar por uma Sociedade Simples Limitada, uma das mais seguras e recomendadas. 

Há também a Sociedade Simples Pura, formada por profissionais que exercem a mesma atividade intelectual, como médicos, com a diferença de que aqui a responsabilidade dos sócios é ilimitada.

O contrato social precisa refletir corretamente as responsabilidades e participação de cada um. Uma contabilidade especializada pode orientar em uma decisão que reflita a melhor estrutura societária para garantir segurança jurídica e equilíbrio na gestão.

Quanto ao regime tributário: como saber em que casos vale mais a pena optar pelo Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real, no caso específico de uma clínica médica?

Eduarda: Essa escolha é crucial para garantir eficiência e economia de impostos. Ela depende basicamente do faturamento, da folha de pagamento e do tipo de serviço prestado. 

O Simples Nacional costuma ser o regime mais vantajoso para micro e pequenas empresas da área da saúde, especialmente quando o faturamento é menor. Ele permite uma arrecadação simplificada e, em muitos casos, alíquotas reduzidas conforme o enquadramento no anexo correto.

Já o Lucro Presumido tende a ser indicado para clínicas com faturamento mais elevado e estrutura consolidada, enquanto o Lucro Real é uma opção voltada a negócios com custos operacionais mais altos ou receitas variáveis, oferecendo maior precisão na apuração dos tributos.

 O contador deve te ajudar neste serviço. Na Contabilizei, realizamos simulações personalizadas para identificar o regime que gera a menor carga tributária possível — sempre dentro da lei. Isso é parte do nosso diagnóstico tributário especializado para médicos.

Como as clínicas costumam formalizar parcerias com outros médicos e profissionais de saúde?

Eduarda: Existem  várias formas de formalizar essas parcerias. As mais comuns são os contratos de prestação de serviços entre pessoas jurídicas, as sociedades médicas e, em alguns casos, a contratação via CLT. Cada modelo traz impactos tributários e trabalhistas diferentes, por isso, é importante alinhar com o contador a estratégia mais adequada ao porte e perfil da clínica, garantindo segurança jurídica e eficiência financeira.

Como funciona o pagamento dos sócios? Existe forma de reduzir impostos legalmente?

Eduarda: Sim! O pró-labore é o valor mensal pago aos sócios, sobre o qual incidem INSS e IRRF. Já a distribuição de lucros, quando devidamente comprovada na contabilidade, é isenta de imposto. O segredo está em planejar e equilibrar esses valores adequadamente. 

Uma contabilidade especializada pode ajustar o pró-labore de forma inteligente e orientar sobre a melhor forma de registrar as retiradas, garantindo economia e conformidade fiscal. A ferramenta da Contabilizei, por exemplo, conta com um motor automático para uso do Fator R, que monitora mês a mês variações no faturamento e no pró-labore, fazendo os ajustes necessários para que o médico pague sempre o menor imposto possível. 

Além disso, nossa equipe de especialistas acompanha cada caso individualmente, atuando de forma preventiva e corretiva sempre que há alterações que demandem ajustes. 

Quais licenças e autorizações uma clínica precisa ter para operar legalmente?

Eduarda: Além do registro no CRM Pessoa Jurídica, a clínica precisa obter o alvará da Vigilância Sanitária, o cadastro no CNES, a inscrição municipal e realizar a entrega anual da DMED à Receita Federal. Todos esses documentos são obrigatórios para o funcionamento legal e evitam problemas com fiscalização. 

Neste ponto, o trabalho de uma contabilidade especializada é orientar sobre prazos, documentos e exigências específicas de cada município para garantir a regularidade da clínica desde o primeiro dia. Esse suporte inclui, por exemplo, acompanhamento próximo para declaração da DMED e para garantir o cumprimento das normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que variam conforme o tipo de serviço prestado. 

Qual a importância da contabilidade nesta nova etapa do negócio?

Eduarda: É fundamental. A migração para um CNPJ de clínica não é apenas uma questão burocrática, mas uma decisão estratégica. Um bom planejamento contábil, com o apoio de contadores preparados e especializados, que conheçam a fundo as particularidades do segmento, ajuda o médico a estruturar o negócio com segurança, evitando erros que podem gerar multas, retrabalho ou prejuízo financeiro.

A contabilidade também orienta sobre como organizar o fluxo de caixa, definir o pró-labore, administrar contratos e aproveitar benefícios fiscais. Um suporte contínuo, com uma equipe de especialistas acompanhando todas as etapas, da abertura à gestão contábil e fiscal,  pode proporcionar ao médico uma economia considerável de tempo e dinheiro.

Quais os erros mais comuns na abertura de clínicas médicas e como evitá-los?

Eduarda: Os mais frequentes costumam ser o uso incorreto do CNAE, a escolha errada do regime tributário e a falta de licenças obrigatórias. Outro erro comum é tentar fazer tudo sozinho, sem apoio contábil, o que pode gerar multas e perda de benefícios fiscais. 

A melhor forma de evitar problemas é contar com uma contabilidade especializada para médicos, que entenda as particularidades do setor de saúde e consiga atuar de forma preventiva e estratégica. Na Contabilizei, usamos tecnologia para identificar riscos antes que virem erros, enquanto o acompanhamento próximo de especialistas garante segurança fiscal, confiabilidade e eficiência tributária em cada etapa do processo.

Agradeço muito pela conversa, Eduarda! Por experiência própria sei que abrir uma clínica médica é um passo grande na carreira e que o apoio de profissionais que entendem as particularidades da área faz toda a diferença.

Sou cliente da Contabilizei e posso dizer que o suporte de uma contabilidade especializada trouxe muito mais confiança para fazer esse movimento, além de tranquilidade para minha rotina. Toda a parte burocrática — da transição de CNPJ às obrigações fiscais e licenças — é acompanhada de perto por especialistas, prontos para prestar suporte sempre que necessário, orientando e identificando prontamente as cada oportunidade de economizar com impostos.

Transparência: Este conteúdo foi produzido em colaboração editorial com a contadora Eduarda Cristina de Souza (PR-083163/O) da Contabilizei (CNPJ: 20.182.807/0001-08). Não recebi pagamento, comissão ou desconto para publicá-lo.

 

O que acontece na primeira consulta com o psiquiatra?


Compulsao-alimentar-TDAH-Aline-Rangel-1200x800.png

A compulsão alimentar é um transtorno caracterizado pelo hábito de comer grandes quantidades de alimentos em um curto período de tempo, com a sensação de descontrole diante da comida. É muito comum confundir compulsão com exagero. No final de semana, em festas, ao encontrar amigos para uma refeição, por exemplo,  é comum comer bastante. Esses exageros são totalmente normais.

No entanto, no Transtorno de Compulsão Alimentar Periódioca esse não é um exagero ocasional. Quem sofre com esse problema não escolhe comer grandes quantidades de comida e nãos os descreve como episódios agradáveis. Ele se caracteriza pela ingestão descontrolada de grande quantidade de alimentos, sem apetite e até quase sem mastigar, até que seja alcançada a plenitude.  O ato compulsivo é realizado independente da percepção que já deveria estar saciado do paciente que, após praticá-lo, na tentativa de libertar-se de um estado insuportável de mal estar, sente-se esgotado, constrangido e com intenso sentimento de culpa sem, no entanto, recorrer a atos compensatórios (vomitar por exemplo), como nos casos de bulimia nervosa.

Estudos estimam que 12 a 30% dos pacientes com transtorno da compulsão alimentar também têm TDAH*

Embora pareçam condições distintas, estudos mostram que tanto o TDAH quanto a compulsão alimentar compartilham uma característica neurobiológica central: a disfunção no sistema de recompensa do cérebro. Essa similaridade abre caminho para intervenções eficazes, como o uso da lisdexanfetamina, comercializada com o nome Venvanse ®, Lyberdia® aqui no Brasil, um medicamento que tem se mostrado promissor no tratamento de ambas as condições.

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento marcado por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Com prevalência variando de 5,9% a 10% em crianças e 2,5% a 7% em adultos, o TDAH afeta milhões de pessoas em todo o mundo, com diferenças importantes entre os gêneros ao longo da vida.

TDAH e Compulsão Alimentar:

o que acontece no sistema de recompensa?

O sistema de recompensa desempenha um papel central na regulação da motivação, do prazer e da tomada de decisões. Tanto no TDAH quanto na compulsão alimentar, há uma disfunção nesse sistema, especialmente em relação à dopamina, um neurotransmissor crucial para o processamento de recompensas.

  • TDAH: Pacientes apresentam dificuldade em lidar com atividades que não oferecem gratificação imediata, o que leva a impulsividade e problemas de autorregulação.

  • Compulsão alimentar: No transtorno da compulsão alimentar, observa-se uma hipersensibilidade às recompensas alimentares, resultando em um ciclo de compulsão e reforço positivo contínuo.

Essa preferência por recompensas imediatas é comum em condições como transtornos por uso de substâncias e compulsão alimentar, dificultando o controle sobre comportamentos impulsivos.

Lisdexanfetamina no tratamento para a Compulsão Alimentar

A lisdexanfetamina é um pró-fármaco que se converte em dextroanfetamina no organismo, aumentando os níveis de dopamina e norepinefrina em áreas do cérebro relacionadas à atenção, controle de impulsos e recompensa. Ela é amplamente utilizada no tratamento do TDAH e também tem demonstrado eficácia no manejo da compulsão alimentar.

No TDAH, a intervenção com esta medicação está relacionada à melhora da impulsividade, da persistência de esforço e da tolerância a recompensas tardias.

Na compulsão alimentar, o seu uso está relacionado a uma redução da frequência de episódios de compulsão, maior controle sobre gatilhos, possível “normalização” da resposta de recompensa a alimentos.

Evidências sugerem modulação de circuitos cerebrais como a habênula lateral (sinalização de não-recompensa), o que pode ajudar a reduzir escolhas impulsivas e reequilibrar o ciclo de recompensa.

Importante: medicamentos não substituem psicoterapia, rotina estruturada, higiene do sono, manejo nutricional e atividade física. O melhor resultado vem da combinação de tratamento farmacológico + “cadenciamento dos hábitos” e crenças disfuncionais.

Importância da identificação da comorbidade TDAH + Compulsão Alimentar 

Para muitos pacientes é crucial e até “empoderador” descobrir que o TDAH está na raiz dos episódios de compulsão alimentar. Por isso, entender o TDAH, o que ele é e o que não é o primeiro passo no tratamento do transtorno de compulsão alimentar periódica.

É muito importante para os pacientes que têm essas condições comórbidas o quanto é difícil regular algo que é intrinsecamente recompensador para essa pessoa como a ingestão de alimentos, por exemplo, mas poderia ser quanquer outro comportamento impulsivo. A maioria dos pacientes fica aliviada ao entender que é o TDAH e não algum defeito interno profundo que contribui para a compulsão alimentar deles.

Sem aceitação e compreensão, o tratamento pode ficar comprometido, porque pessoas com compulsão alimentar lidam com uma carga enorme de vergonha.

TDAH, Compulsão Alimentar e tratamento

A relação entre TDAH e compulsão alimentar vai além das semelhanças nos sintomas. Ambos os transtornos compartilham disfunções neurobiológicas que afetam o dia a dia dos pacientes, aumentando o risco de comorbidades psiquiátricas. Intervenções que abordam essas disfunções, como o uso da lisdexanfetamina, têm se mostrado eficazes na melhora da qualidade de vida.

Aposte na terapia

É importante controlar ou reduzir os padrões de pensamento negativos que a pessoa tem sobre si mesma e sobre o seu transtorno de compulsão alimentar. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar a construir uma visão mais positiva em relação ao comer compulsivo. Por exemplo, em trabalho com um terapeuta, a pessoa pode aprender a não se sentir um fracasso e abandonar o plano de tratamento só porque “escorregou” ou teve uma “recaída” nas escolhas alimentares em um dia.

A terapia comportamental dialética (DBT) também é muito útil para pessoas com TDAH, que tendem a sentir as emoções de forma mais intensa do que outras pessoas. Comer emocionalmente quando estão entediadas, com baixa autoestima ou depois de uma briga com um colega de trabalho ou com o parceiro é um desafio central para quem tem TDAH.

O objetivo da DBT é criar um equilíbrio entre aceitar onde você está agora e, ao mesmo tempo, enxergar os benefícios de fazer pequenas mudanças, sem cair no desespero ao longo do caminho. A DBT também oferece às pessoas com TDAH ferramentas eficazes para controlar melhor suas emoções  e o impacto delas sobre a compulsão alimentar.

Investir em um tratamento adequado, que pode incluir psicoestimulantes, terapia comportamental e mudanças no estilo de vida, é essencial para o manejo desses transtornos. O impacto positivo da lisdexanfetamina no sistema de recompensa oferece uma abordagem inovadora para tratar não apenas os sintomas principais, mas também as comorbidades associadas.

 

 

O que acontece na primeira consulta com o psiquiatra?


Referências:

  1. Newcorn JH, Ivanov I, Krone B, Li X, Duhoux S, White S, et al. Neurobiological basis of reinforcement-based decision making in adults with ADHD treated with lisdexamfetamine dimesylate: Preliminary findings and implications for mechanisms influencing clinical improvement. J Psychiatr Res. 2024;170:19-26.
  2. Schneider E, Higgs S, Dourish CT. Lisdexamfetamine and binge-eating disorder: A systematic review and meta-analysis of the preclinical and clinical data with a focus on mechanism of drug action in treating the disorder. Eur Neuropsychopharmacol. 2021;53:49-78.
  3. Mondoloni S, Mameli M, Congiu M. Reward and aversion encoding in the lateral habenula for innate and learned behaviours. Transl Psychiatry. 2022;12(1):3.


22 de abril de 2025 Dra Aline RangelTDAHTodos

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um transtorno de origem neurobiológica caracterizado por três sintomas principais: hiperatividade, falta de atenção e impulsividade. De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, o problema atinge em torno de 3 a 5% da população infantil do Brasil. Em geral, ele pode persistir na vida adulta.

Os primeiros sinais desse transtorno normalmente aparecem na fase escolar, em que a criança apresenta dificuldades de aprendizado e nos relacionamentos com outras crianças, pais e professores.

Há várias abordagens envolvidas no tratamento, as mais comuns são a medicação, a terapia e a mudança no estilo de vida. O ideal é que o acompanhamento seja feito por uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, pediatras e psiquiatras.

Listamos algumas dicas que podem ser úteis para ajudar pais e responsáveis a melhor a vida de crianças com TDAH

Dicas úteis para ajudar pais e responsáveis a melhorar a vida de crianças e adolescentes com TDAH

1 – Planejar o tempo


Passar muito tempo fazendo atividades que exigem muita concentração, como estudos e lição de casa, é extremamente exaustivo para quem tem TDAH. Por isso, uma das formas de evitar o cansaço é intercalar atividades que sejam prazerosas com as obrigações do dia-a-dia.

2 – Organizar a rotina


Adicionar técnicas de organização na rotina dos pequenos, como criar um espaço tranquilo para os estudos e incentivar o uso de calendários, agendas, post-it, cronogramas e lembretes, são algumas atividades essenciais.

3 – Finalizar atividades

A criança com o transtorno tem dificuldade de completar tarefas porque há outros estímulos dentro do ambiente que chamam a atenção, dificultando o foco. Por isso, é importante ensiná-la a não interromper as atividades, estabelecendo um período certo para a tarefa que não seja muito prolongado.

4 – Descansar

A hiperatividade pode fazer a garotada se cansar rapidamente. Por este motivo, é importante incluir na rotina dos pequenos momentos de descanso, como um cochilo durante o dia.

5 – Incentivar a prática de atividade física

Exercícios físicos são extremamente benéficos. Eles aumentam a disciplina, melhoram o humor e a capacidade cognitiva. Algumas atividades recomendadas são dança, ginástica, futebol, natação e luta.

6 – Dar feedbacks

Elas precisam de um retorno sobre suas atitudes com mais frequência. Comportamentos positivos devem ser incentivados e comportamentos negativos devem ser orientados.  

7 – Estimular amizades

Por meio do contato com outras crianças, é possível aprender algumas regras de sociabilidade e estabelecer limites para atitudes. Crianças hiperativas, por falarem tudo o que vem à cabeça, sem filtrar, podem aprender a se relacionarem melhor. Já as que são mais desatentas tendem a ser mais introspectivas e, no convívio com outras, terão um estímulo para se relacionar.

8 – Fazer brincadeiras com jogos e regras

Essas brincadeiras desenvolvem a atenção e permitem que ela se organize por meio de regras e limites. Desse modo, ela aprende a participar e a compreender momentos de vitória, empate e de derrota.

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!

Escola especializada em aluno com TDAH: como buscar e escolher

O que acontece na primeira consulta com o psiquiatra?


Burnout_aline_rangel.png

Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.  A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho.

Desde 2022, a Organização Mundial da Saúde reconhece o burnout como um transtorno relacionado ao estresse crônico no trabalho, descrito na CID-11. Mas para as mulheres, o burnout vai além do ambiente profissional. É o peso invisível de conciliar carreira, maternidade, vida social, autocuidado e a constante cobrança de ser “boa o suficiente”.

Sintomas de burnout

  • Exaustão física e emocional constante

  • Sensação de distanciamento mental ou desconexão

  • Sentimento persistente de ineficácia ou incompetência

  • Irritabilidade, desânimo e perda de motivação

Burnout não é frescura. Não é preguiça.
É um colapso físico e emocional que precisa de atenção profissional.

Fadiga Crônica: cansaço além do normal

Se você:

  • Dorme bem, mas acorda exausta,

  • Sente que pequenas tarefas viraram desafios gigantes,

  • Carrega uma sensação permanente de esgotamento,

Seu corpo está pedindo ajuda.

A fadiga crônica em mulheres pode indicar burnout feminino, depressão, ansiedade, transtornos do sono ou até doenças autoimunes — todas condições que precisam de avaliação médica cuidadosa.

Síndrome da Impostora: a insegurança que consome

Mesmo após conquistas impressionantes, você sente que “não merece” o sucesso que tem?
Que está enganando todo mundo e, a qualquer momento, será “descoberta”?

Esses sentimentos definem a síndrome da impostora, descrita pelas psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes em 1978, após estudarem mulheres de alto desempenho que:

  • Atribuíam suas vitórias à sorte ou esforço desproporcional,

  • Sofriam com ansiedade e perfeccionismo,

  • Viviam com medo de serem “expostas” como uma fraude.

A síndrome da impostora em mulheres potencializa o burnout e reforça ciclos de autoexigência e exaustão.

Psiquiatria e o feminino: cuidar antes de quebrar

A psiquiatria não é apenas um espaço para “dar remédio” — é um espaço de prevenção, escuta e fortalecimento emocional.

O acompanhamento psiquiátrico pode:

  • Identificar sinais precoces de burnout em mulheres,

  • Apoiar decisões de carreira, maternidade e vida pessoal,

  • Tratar fadiga crônica, ansiedade e transtornos relacionados,

  • Fortalecer a autoestima e ajudar a enfrentar a síndrome da impostora.

Você não precisa chegar ao limite para pedir ajuda.

Um convite à pausa: seu bem-estar também importa

Este texto, escrito neste dia dedicadp à mulher, é uma homenagem a todas nós que, muitas vezes, carregamos o mundo nas costas e, mesmo assim, duvidamos do nosso próprio valor.

✨ Você não precisa provar nada para merecer descanso.
✨ Você tem o direito de cuidar de si.
✨ Você não está sozinha.

Se o seu corpo está gritando, se a exaustão virou rotina, se a sensação de não ser “suficiente” te persegue… talvez seja hora de colocar a sua saúde emocional em primeiro lugar.

Perguntas Frequentes sobre Burnout em Mulheres

O que é burnout em mulheres?
O burnout em mulheres é um estado de esgotamento físico, mental e emocional causado por estresse crônico, que afeta de forma desproporcional mulheres que acumulam múltiplas funções, como trabalho, maternidade e autocobrança pessoal.

Quais são os sintomas mais comuns do burnout feminino?
Os principais sintomas incluem fadiga extrema, distanciamento emocional, sensação de incompetência, irritabilidade, insônia, dores físicas sem causa aparente e queda no rendimento profissional.

Qual a diferença entre cansaço normal e burnout?
Enquanto o cansaço normal melhora após o descanso, o burnout persiste, mesmo após noites de sono ou férias. É um esgotamento profundo, que impacta corpo, mente e emoções de forma duradoura.

Como a síndrome da impostora contribui para o burnout em mulheres?
A síndrome da impostora faz com que mulheres minimizem suas conquistas e sintam que nunca são boas o suficiente, levando a padrões de autoexigência extrema que aumentam o risco de esgotamento emocional e burnout.

Quando devo procurar ajuda psiquiátrica para burnout?
Se o cansaço é constante, se você sente que perdeu o prazer no trabalho ou na vida pessoal, se há sintomas físicos ou emocionais frequentes, é importante buscar ajuda de um psiquiatra. A intervenção precoce pode prevenir o agravamento do quadro.


pexels-andrea-piacquadio-3760790-1200x800.jpg

23 de fevereiro de 2025 Dra Aline RangelTodos

Uma pesquisa da Associação Americana de Psiquiatria (APA)  revela que cerca de 2,7% da população mundial sofre de Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) – também conhecido como Síndrome do Hulk. O TEI é um distúrbio que gera comportamentos agressivos, com acessos de raiva descontrolada e agressões desmedidas motivadas por situações corriqueiras. A pessoa com esse transtorno de impulso costuma ter não apenas a saúde mental afetada, mas, principalmente, sua vida social.

Esse transtorno pode acarretar uma série de problemas, tanto para quem tem a doença, quanto para as pessoas que convivem com ela. A pessoa com TEI, geralmente, apresenta pouca tolerância à frustração, desenvolvendo uma inaptidão para gerenciar a raiva e a hostilidade, tornando-se instável afetivamente. A instabilidade emocional é muito presente em relacionamentos como de um namoro ou conjugal e não é incomum se apresentar como ciúmes patológico.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) , para cada três pacientes homens, uma paciente mulher tem o TEI. O transtorno atinge 3,1% da população no Brasil. Os estudos realizados pela APA apontam que as pessoas que sofrem da Síndrome do Hulk e possuem outros distúrbios mentais, como ansiedade e depressão, têm pelo menos quatro vezes mais prevalência em possuir a doença.

Como diagnosticar um TEI de um ataque de raiva

O diagnóstico do TEI é feito com base ao histórico do paciente e de relatos de familiares sobre sua conduta em situações diárias. É importante lembrar que o transtorno só se comprova quando há repetição dos comportamentos agressivos por certo tempo – o que indica se tratar de uma enfermidade crônica.

A principal característica de uma pessoa com esse tipo de transtorno é a tendência para a impulsividade sem medir as consequências das suas atitudes agressivas, além de serem instáveis afetivamenteÉ importante reforçar que toda essa agressividade não acontece de forma premeditada, ou seja, as pessoas não conseguem conter essas explosões de fúria.

Nas explosões leves podem ocorrer ameaças, xingamentos, gestos obscenos, ofensas, gritos, imprudências no trânsito, ataque de objetos e agressões físicas sem lesão corporal.  Para ser caracterizado como um transtorno, essas reações precisam ter uma frequência média de duas vezes por semana, em um período, mínimo, de três meses.  Já nos casos severos, podem ocorrer destruição de propriedades e patrimônios e ataque físicos mais sérios, com lesão corporal. Caso esses episódios ocorram mais três vezes durante o período de um ano, já pode ser considerado um quadro de transtorno.

Normalmente, as pessoas que possuem essa doença não conseguem avaliar as consequências de seus atos para si e para os outros. As crises podem ocorrer de forma mais grave, caso o indivíduo seja criticado ou impedido de agir durante as explosões de agressividade. Outra característica muito comum a esses pacientes é que logo após esses ataques, seja leve ou severo, aparecem sentimentos de arrependimento, vergonha, culpa e ou tristeza. É muito comum observar comportamentos auto-lesivos ou extremamente destrutivos contra si mesmo após um acesso de raiva. Essa experiência de sofrimento genuíno é que caracteriza o TEI e, ao mesmo tempo, dificulta tanto o diagnóstico e tratamento desta condição. 

Qualquer forma de binarismo, costuma ser tóxica, excludente e reducionista mas com o TEI não é diferente. Assim como em outros transtornos psiquiátricos, onde o hedonismo, narcisismo patológico e condições atribuídas ao caráter (como compulsão sexual, dependência química e não-química, entre outros) geram confusão sobre como diferenciar o que é doença versus o que “cafajestagem”, é comum observar que, quem tem o transtorno e precisa de ajuda, tem dificuldade em buscar tratamento e aqueles que são “cafajestes de natureza” podem se justificar em diagnósticos mal feitos por profissionais pouco experientes neste tema.

Sintomas mais comuns no transtorno explosivo intermitente

  • Agressões físicas e sem justificativa ou razão;
  • Surtos de raiva repentinos;
  • Pressão e batimentos cardíacos descontrolados;
  • Arremesso de objetos durante a crise;
  • Sudorese e tremores pelo corpo;
  • Falta de paciência e irritabilidade;
  • Falta de controle sobre as próprias ações;
  • Culpa após o ataque.

Como tratar o transtorno explosivo intermitente

Ainda há muito que se pesquisar sobre este transtorno e abordagens terapêuticas eficazes. Algumas experiências, no entanto, já demonstraram que a forma mais eficiente para o tratamento, até o momento, é a utilização de medicamentos (antidepressivos e estabilizadores do humor principalmente) associado à psicoterapia. Essas intervenções ajudam o paciente a lidar com a agressividade, reduzindo a frequência dos episódios de explosões e diminuindo os prejuízos gerados por eles.

É importante ter clareza de que, para se estabelecer o diagnóstico adequado, os ataques agressivos não devem ser decorrentes de substâncias lícitas ou ilícitas, como álcool, medicamentos ou drogas. Nem mesmo por condições psicológicas, como transtornos depressivos, mania ou exaltação no contexto do transtorno bipolar ou de personalidade ou ainda condições médicas, como traumatismo craniano, doença de Alzheimer, entre outras.

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!

O que acontece na primeira consulta com o psiquiatra?

 


Captura-de-Tela-2025-04-16-as-20.50.53.png

Você domina códigos, projetos, algoritmos. Mas e quando não consegue dar conta de si mesmo?
Se você é um homem de alta performance, que trabalha com tecnologia, por exemplo, talvez já tenha se perguntado por que tem tanto sucesso profissional e, ainda assim, sente um certo vazio quando fecha o notebook. Recebo em meu consultório muitos homens brilhantes que vivem num paradoxo do prazer solitário: recorrem à pornografia ou ao sexo virtual como forma de relaxamento, regulação emocional ou até preenchimento afetivo — sem perceber que estão, pouco a pouco, se afastando da possibilidade de conexão real.

Quando o uso de pornografia deixa de ser só um hábito?

É preciso deixar claro que nem todo consumo de pornografia é um problema, ok? Mas, em alguns casos, ele pode se tornar compulsivo. A Organização Mundial da Saúde reconheceu, desde 2018, o Transtorno do Comportamento Sexual Compulsivo (TCSC) na CID-11. O critério não é a quantidade de vezes que você se masturba ou assiste a conteúdo adulto — e sim o grau de sofrimento, prejuízo pessoal e impacto nas relações​.

Um estudo internacional estima que cerca de 5% da população mundial pode apresentar esse tipo de comportamento — e apenas uma minoria procura ajuda​.

Por que homens inteligentes e solitários podem ser mais vulneráveis?

Você pode ser altamente funcional no trabalho, mas emocionalmente desorganizado no campo afetivo. A ciência tem mostrado que fatores como impulsividade, solidão, histórico de traumas e até a maneira como lidamos com prazer imediato (como nos jogos, pornografia ou comida) interferem na capacidade de adiar recompensas e manter comportamentos equilibrados​.

Além disso, o uso de pornografia é reforçado por um tripé difícil de combater: acesso fácil, anonimato e gratificação instantânea. ​No curto prazo, alivia. No longo prazo, isola.

“Mas eu não sou viciado, só uso para relaxar…”

Esse é um ponto importante. Nem sempre há um “vício químico” como se vê em substâncias. Muitas vezes, o que há é um padrão compulsivo que serve para abafar outras dores: ansiedade, estresse, medo de rejeição, traços depressivos ou um sentimento persistente de inadequação​.

Um sinal de alerta? Quando você não consegue parar, mesmo quando quer. Ou quando o consumo interfere nas suas relações reais, no seu sono, produtividade ou bem-estar emocional.

O ciclo da compulsão: por que o prazer pode afastar o afeto?

Muitos homens dizem: “Não me conecto com ninguém. Prefiro ficar na minha”. Mas o que começa como um refúgio pode se transformar em isolamento. A pornografia oferece excitação sem vulnerabilidade, orgasmo sem intimidade, satisfação sem reciprocidade.

A longo prazo, isso pode tornar mais difícil lidar com os ritmos, frustrações e imperfeições dos relacionamentos reais. O sexo real exige presença, diálogo, afeto — e não apenas performance. E isso assusta, principalmente quem cresceu sem aprender a expressar o que sente.

Existe tratamento?

Sim. A abordagem mais eficaz é aquela que não reduz o problema a uma “falta de força de vontade”, mas considera o contexto emocional, os padrões de pensamento, a história de vida e a relação com o próprio corpo e o desejo​Assessment and treatmen….

O tratamento pode envolver:

  • Psicoeducação sobre compulsão sexual, desejo e prazer;

  • Terapia sexual com foco em autoestima, intimidade e vínculo;

  • Avaliação psiquiátrica, quando há comorbidades como depressão, ansiedade, outros transtornos que cursem com impulsividade como o TDAH e/ou Transtorno Bipolar;

  • E sobretudo: um espaço seguro, sem julgamentos, para repensar a sexualidade como parte da saúde mental — e não como inimiga do afeto.

Um convite à reflexão

Talvez você se reconheça nesse texto. Talvez não. Mas se a sua sexualidade está se tornando uma forma de evitar, esconder ou anestesiar o que sente, vale a pena olhar para isso com mais cuidado.

Você merece uma vida em que o prazer não exclua o afeto.


aline_rangel_vilazodona.jpg

A depressão, uma condição que afeta milhões de brasileiros, ganha uma nova aliada no tratamento: a vilazodona, comercialmente conhecida como Aymee ® (Farmacêutica Libbs). Aymee é indicado para o tratamento da depressão (um estado de profunda e persistente infelicidade ou tristeza, acompanhada por uma completa perda de interesse em atividades diárias normais). Recém-chegada ao mercado brasileiro, essa molécula representa um avanço significativo para o manejo de transtornos depressivos, especialmente quando acompanhados de sintomas de ansiedade.

Embora ela traga inovações importantes no tratamento da depressão, é fundamental contextualizar sua utilização de forma responsável, evitando generalizações que possam levar a mudanças precipitadas em tratamentos que se revelaram bem bem-sucedidos na história de quem procura a ajuda de um psiquiatra.

O que é a Vilazodona?

A vilazodona é um antidepressivo classificado como SPARI (inibidor seletivo da recaptação de serotonina e agonista parcial de receptores 5-HT1A). Esse mecanismo duplo não apenas aumenta a neurotransmissão de serotonina, mas também reduz o tempo necessário para a ação clínica, potencialmente aliviando os sintomas mais rapidamente do que outros ISRS tradicionais.

Imagine uma ponte cheia de bloqueios representando as conexões neuronais na depressão. A vilazodona atua como um “gestor de tráfego”, desbloqueando o fluxo de serotonina (inibindo sua recaptação) e ajustando a “sinalização” nos receptores 5-HT1A, que regulam o humor e reduzem a ansiedade. Essa combinação permite que o cérebro recupere sua “regulação emocional”.

Eficácia clínica: o que os estudos mostram?

  • Melhora rápida: Estudos randomizados indicam melhora significativa nos sintomas depressivos a partir da segunda semana, avaliada por escalas como a MADRS (Montgomery-Asberg Depression Rating Scale)​.
  • Depressão ansiosa: Em pacientes com depressão acompanhada de sintomas de ansiedade, um subtipo mais complexo de tratamento, a vilazodona demonstrou redução notável em escores de ansiedade e somatização (HAM-A e subescalas de HAMD-17)​
  • Comparação com outros antidepressivos: Em estudos comparativos, a vilazodona foi tão eficaz quanto ISRSs tradicionais, como escitalopram, mas com vantagens no perfil de efeitos adversos​.

​Efeitos Adversos

A vilazodona tem um perfil de segurança bem estabelecido. Os efeitos adversos mais comuns incluem:

  • Náusea (23%) e diarreia (28%), geralmente transitórios e observados nas primeiras semanas. Podem ser muito desconfortáveis mas são passíveis de manejo adequado.
  • Insônia (6%) e dor de cabeça (13%) também foram relatados, mas em menor frequência​.

Função Sexual

A função sexual foi avaliada em dois estudos. A Escala de Experiências Sexuais Arizona (ASEX) foi utilizada no Estudo 1 e as mudanças no Questionário de Função Sexual (CSFQ) foram utilizadas no Estudo 2. A mudança negativa ao partir do período basal, com pontuações mais baixas, indica melhora do funcionamento da ASEX e a mudança média > 2 pontos na pontuação total é considerada clinicamente significativa. Na CSFQ, uma mudança positiva, com pontuações crescentes, é indicativa de melhor funcionamento.

No Estudo 1, a mudança média dos quadrados mínimos (QM) a partir do período basal na pontuação total de ASEX ao término do tratamento para pacientes do sexo masculino tomando placebo ou cloridrato de vilazodona 40 mg foi -1,03 e 0,80, respectivamente. Para o sexo feminino, a mudança média de QM basal na pontuação total de ASEX ao Término do Tratamento foi de 0,07, para os pacientes tomando placebo e -1,14 para pacientes que tomam cloridrato de vilazodona 40 mg. Embora a diferença na média de QM entre placebo e cloridrato de vilazodona tenha sido estatisticamente significativa nos homens, não houve diferença entre cloridrato de vilazodona e placebo em mulheres. Não houve diferenças clinicamente importantes entre o cloridrato de vilazodona e o placebo em nenhum dos domínios ASEX.

No Estudo 2, mudanças na pontuação total média de CSFQ aumentaram em homens e mulheres, tanto para o grupo cloridrato de vilazodona, como para o placebo. As mudanças basais demonstraram nenhuma diferença estatística ou clinicamente significativa entre cloridrato de vilazodona e placebo sobre o funcionamento sexual.

MAS FICA O ALERTA:

Medicações que chegam como promessa de “mais moderna” e “menos efeitos colaterais” podem fazer com que pacientes e colegas psiquiatras menos experientes considerem uma mudança em esquemas terapêuticos efetivos, sobretudo no contexto de episódios recorrentes de depressão, depressões de difícil tratamento, com outros transtornos psiquiátricos associados e/ou resistentes a vários esquemas de tratamento prévios.

A automedicação pode trazer riscos. Medicamentos sob prescrição devem ser administrados sob orientação médica. Converse com o seu médico.

O que acontece na primeira consulta com o psiquiatra?


Referências:

  1.  Gbreel, M. I., Al-Kafarna, M., Almaghary, B. K., Elsnhory, A. B., Sabra, H. K., Adwan, M., … & Almadhoon, H. W. (2022). Efficacy and Safety of Vilazodone treatment for Major Depressive Disorder (MDD): A 3390 patients’ meta-analysis of randomized controlled trials.
  2. Jiang, Y., Qu, Y., Du, Z., Ou, M., Shen, Y., Zhou, Q., … & Zhu, H. (2024). Exploring adverse events of Vilazodone: evidence from the FAERS database. BMC psychiatry24(1), 371.
  3. Khan A, Cutler AJ, Kajdask DK, Gallipoli S, Athanasiou M, Robinson DS et al. A randomized, double-blind, placebocontrolled, 8-week study of vilazodone, a serotonergic agent for the treatment of major depressive disorder. J Clin Psychiarty 2011;72:441-7.
  4. Rickels K, Athanasiou M, Robinson DS, Gibertini M, Whalen H, Reed CR. Evidence for efficacy and tolerability of vilazodone in the treatment of major depressive disorder: a randomized, double- blind, placebo- controlled trial. J Clin Psychiatry 2009;70:326-33.
  5. Santi, N. S., Biswal, S. B., Naik, B. N., Sahoo, J. P., & Rath, B. (2024). A randomized controlled trial comparing the effects of vilazodone, escitalopram, and vortioxetine monotherapy on the metabolic parameters in patients with major depressive disorder. Cureus16(8), e67941.

 


novembro-azul_toque_aline_rangel-1200x1200.png

O movimento internacional Novembro Azul, comemorado em todo o mundo, nasceu do “Movember”, que é a junção das palavras “moustache” (bigode, em inglês) e “november” (novembro), na Austrália. A ideia rapidamente se espalhou e hoje é celebrada em diversos países, inclusive o Brasil, para lembrar aos homens a importância de cuidar da saúde, especialmente a prevenção do câncer de próstata.

Aqui no Brasil, o Instituto Lado a Lado pela Vida realiza, desde sua fundação em 2008,  iniciativas para promover a mudança de comportamento dos homens. Em 2011, o Instituto lançou o Novembro Azul no país, com o objetivo de conscientizar e orientar os homens acerca da sua saúde; estimular uma importante mudança de hábitos, e também trabalhar por um melhor acesso da população masculina à saúde de forma integral. Atualmente, é o maior movimento em prol da saúde do homem no país. Em 2024, a campanha está pautada na mensagem “Saúde do Homem: Cada Passo Conta”, mostrando como podemos sair do labirinto da dúvida com informação e cuidado.

E olha, para isso, nada de desculpas ou mitos! Fazer o exame de próstata não é “uma dedada” que “vai deixar de ser homem” ou trazer qualquer conotação sexual. A cartilha do Ministério da Saúde alerta que, em casos suspeitos, o exame do toque retal é um método de avaliação importante e absolutamente clínico – e nada tem a ver com brincadeiras de “virar gay”! O exame de toque reta é uma ferramenta essencial para a saúde masculina e prevenção do câncer de próstata, assim como tantas outras que usamos no dia a dia sem questionar.

Saúde Integral do Homem

A saúde do homem, porém, vai além da próstata. Ela envolve também cuidar da saúde mental, algo que infelizmente ainda é negligenciado por muitos. Desde jovens, os homens são educados a “não chorar”, “ser forte” e “segurar as pontas”, e isso leva muitos a não buscarem ajuda mesmo quando necessário. Sem tratamento, os problemas emocionais podem prejudicar não só o próprio homem, mas também aqueles ao seu redor.

A proposta do Novembro Azul, portanto, é mais do que um lembrete para cuidar do físico; é um convite para que os homens cuidem da saúde integral, incorporando a saúde mental ao seu autocuidado. Para superar o estigma, precisamos promover uma educação emocional desde cedo – antes mesmo que eles tenham bigode!

Um novo olhar para a Saúde Masculina

Os desafios culturais e o estigma de “ser macho” muitas vezes dificultam que os homens busquem apoio emocional. São condicionados a evitar mostrar fraqueza e acabam reprimindo suas próprias emoções, o que gera problemas de saúde mental que, em muitos casos, poderiam ser tratados desde cedo.Cuidar da saúde mental é, sim, cuidar do corpo. Ansiedade, estresse e depressão, por exemplo, têm impactos no sistema imunológico e aumentam o risco de doenças crônicas. Além disso, a saúde emocional é crucial para manter bons relacionamentos, melhor desempenho profissional e uma vida social mais saudável.

Estratégias para promover a Saúde do Homem

  1. Educação e Conscientização: É preciso ensinar aos homens a importância de reconhecer seus sentimentos e procurar ajuda quando necessário. Quebrar o estigma da vulnerabilidade e tornar as informações sobre saúde mental acessíveis é fundamental.
  2. Expressão Emocional e Apoio Social: Estimular uma cultura onde os homens sintam-se à vontade para falar sobre o que sentem é essencial. Grupos de apoio e terapia são excelentes para criar um espaço seguro onde eles possam se expressar.

O Novembro Azul não se trata só de lembrar do exame de próstata, mas de promover um cuidado integral do homem. Desde o físico até o emocional, a saúde do homem deve ser valorizada o ano todo. E para aqueles que ainda têm receio do exame de próstata, lembrem-se: o médico está ali para ajudar, não para “mexer com a sua masculinidade”. Afinal, a verdadeira força está em cuidar de si e viver uma vida longa e saudável – com ou sem bigode!


gay_idoso_aline_rangel.png

Embora amplamente invisível até recentemente, a população LGBTQ+ idosa representa uma parcela significativa (e crescente) tanto da comunidade LGBTQ+ quanto da população geral com mais de 65 anos. Enfrentando os mesmos desafios que atingem todas as pessoas à medida que envelhecem, esses indivíduos também lidam com uma série de barreiras e desigualdades únicas, que podem dificultar uma vida saudável e plena na terceira idade. O etarismo impacta de forma única homens gays e mulheres lésbicas, gerando desafios como o medo da solidão e da invisibilidade. Veja como a comunidade LGBTQIA+ enfrenta o envelhecimento e as barreiras impostas pelo preconceito de idade e orientação sexual.

O que é o Etarismo e como ele impacta a comunidade LGBTQIA+?

O etarismo é o preconceito contra pessoas mais velhas, promovendo a ideia de que a juventude é a fase mais desejável da vida. Na comunidade LGBTQIA+, o etarismo afeta homens e mulheres de maneiras diferentes. Para homens gays, a pressão estética é intensa, enquanto para mulheres lésbicas, o envelhecimento frequentemente leva a uma invisibilidade dupla – tanto como mulher quanto como lésbica. Em uma sociedade que as espera no papel de cuidadoras, muitas vezes o fato de serem lésbicas é ignorado, fazendo com que suas relações afetivas sejam desconsideradas por familiares e pela sociedade em geral​.

Muitos homossexuais relatam temores em relação à velhice que incluem o medo da solidão e a ausência de apoio familiar, uma vez que a maioria não tem filhos e enfrenta rupturas com parentes ao longo da vida. Mesmo em instituições, relatos mostram que o público homossexual mais velho enfrenta resistência e falta de compreensão. Em muitos casos, “retornar ao armário” acaba sendo uma condição para o acolhimento seguro, mesmo que seja sentido como um retrocesso doloroso​.

A solidão e o envelhecimento de pessoas lésbicas e gays

Homens gays frequentemente sentem que envelhecer significa “perder valor” na comunidade, alimentando a insatisfação e baixa autoestima. A falta de modelos positivos de homens homossexuais mais velhos apenas reforça essa perspectiva, e as redes sociais desempenham um papel na perpetuação do “ideal jovem”​. De outra forma, muitas mulheres lésbicas são tratadas como “tias” ou “amigas” por familiares, e suas relações são desconsideradas. Esse apagamento afeta profundamente a saúde mental e a autoestima das mulheres mais velhas, que muitas vezes acabam por internalizar a LGBTfobia e se isolam​.

É comum que muitas pessoas, sobretudo familiares mais próximos, não validem a vida amorosa e a constituição da “família homossexual”. Anula-se a orientação sexual da pessoa. São comuns frases como: ‘Faz tempo que você não traz aquela sua amiga, não é?’, ou ‘aquele amigo que está sempre com você’, desconsiderando o fato de que se trata de uma namorada ou namorado, por exemplo. Uma vez que aos olhos dos outros (família, amigos e/ou colegas de trabalhos, etc) o relacionamento dessa mulher lésbica ou homem gay não é válido, irão exigir que ela tenha toda disponibilidade do mundo para se submeter ao que eles desejarem. Muitos se vêem obrigados a serem os “cuidadores dos idosos” da família por não terem constituído uma “família Doriana”. Mas o mais impressionante disso é que muitas pessoas se veem nesse ‘dever moral’. As mulheres lésbicas, principalmente, tomam para si esta “missão”, muitas vezes por viverem uma vida inteira num conflito chamado homofobia internalizada.

A pressão estética e o medo de perder a juventude

O uso crescente de tratamentos estéticos, como botox e harmonização, entre homens gays reflete o valor desproporcional dado à juventude. Na comunidade lésbica, enquanto a pressão estética é menos intensa, muitas mulheres ainda sofrem ao ver sua identidade ignorada. Quando envelhecem, a expectativa social é de que as lésbicas mais velhas assumam um papel submisso de cuidadora, especialmente para familiares, mesmo que tenham uma vida plena e afetiva com suas parceiras.

Estratégias para enfrentar o etarismo e valorizar o envelhecimento

  1. Busque modelos positivos de idosos LGBTQIA+: Valorizar pessoas homossexuais mais velha s e conhecer histórias de resiliência pode ajudar a desmistificar o envelhecimento e o medo de “perder o valor” com o tempo.
  2. Fortaleça as conexões sociais: Participar de grupos LGBTQIA+ de todas as idades, que valorizem cada fase da vida, ajuda a reduzir o isolamento.
  3. Invista em saúde mental: O apoio psicológico e o apoio mútuo com pessoas que compartilham a mesma dor é fundamental para homens e mulheres que enfrentam o etarismo e a LGBTfobia (externa ou internalizada).
  4. Pratique o Autocuidado e Celebre a Experiência de Vida: Cuidar da saúde física e emocional sem ceder à pressão estética é essencial. Exercícios físicos e uma boa alimentação são maneiras de manter o bem-estar e valorizar o corpo em qualquer idade. Celebrar as conquistas e os desafios superados fortalece a autoestima e ajuda a comunidade LGBTQIA+ a enfrentar o preconceito etário.

Envelhecer é um processo natural, mas pode ser especialmente desafiador para mulheres e homens homossexuais devido ao etarismo e à falta de apoio familiar. Superar esses desafios envolve adotar uma postura de aceitação e criar redes de apoio que valorizem a experiência e a diversidade de vivências.

Se você é uma mulher lésbica ou um homem gay e se identificou com este texto, eu te convido a fazer parte de uma comunidade de mútua ajuda e a compartilhar a sua história. Mande um e-mail para mim e se apresente: aline@apsiquiatra.com.br




NEWSLETTER








    Sobre



    Médica graduada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro.


    Contato


    São Paulo – SP

    Rua Cubatão, 86 – 405 – Paraíso


    WhatsApp


    E-mail

                  aline@apsiquiatra.com.br

    Nosso material tem caráter meramente informativo e não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico, autotratamento ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte o seu médico.

    Copyright © 2023 – Todos os direitos reservados

    Política de Privacidade

    × Agende sua consulta