O reconhecimento de que a libido está associado à qualidade do relacionamento e a outras experiências interpessoais importantes tem despertado interesse em identificar os correlatos e as causas desse aspecto da resposta sexual humana. A maioria dos pesquisadores tem se concentrado em estudar fatores individuais, incluindo processos hormonais. A ideia deste artigo é explorar a relação entre um evento de vida feminino mediado por diverso hormônios – a gravidez – e o desejo sexual.
A gravidez, para muitas muitas mulheres, é considerada um momento mágico. Gerar um ser é uma ocasião única. Nesse período, a cada dia que passa, o organismo sofre uma série de alterações emocionais, físicas e hormonais, que preparam o corpo para o desenvolvimento do feto e para o parto.
A libido pode diminuir durante a gravidez?
A maioria dos estudos nessa área é retrospectiva, ou seja, realizados com os pesquisadores perguntando a amostras de mulheres em diferentes momentos após o parto para lembrar seus níveis de desejo sexual durante um ou mais trimestres da gravidez. Um padrão bastante confiável emerge, com a maioria das mulheres relatando, retrospectivamente, que experimentam uma diminuição moderada no desejo sexual durante o primeiro trimestre, seguida por outra diminuição durante o segundo trimestre (com algumas exceções) e, em seguida, um declínio maior no interesse sexual durante o terceiro trimestre.
Em um dos primeiros estudos documentados nesta área (1), em 1950, questionários sobre “como estava a sua libido” foram distribuídos a mulheres casadas que haviam dado à luz recentemente seu primeiro filho. Aproximadamente 27% das mulheres relataram ter experimentado menos “desejo sexual” (em comparação com os níveis pré-gravidez) durante o primeiro trimestre; essa proporção aumentou para 43,4% e 79,1% no segundo e terceiro trimestres, respectivamente. Setenta anos depois, em 2020, num estudo com o mesmo objetivo de avaliar o desejo sexual de mulheres antes, durante os 3 trimestres de gestação e após o parto, revelaram o mesmo padrão (2).
Por que a libido pode diminuir durante a gravidez?
É natural que o ritmo e a frequência sexual sejam impactados durante a gestação. Isso acontece por uma série de motivos. Há, inclusive, a crença de que o sexo pode prejudicar o feto. Assim, os parceiros acabam se distanciando. A insegurança no início da gravidez e o medo de aborto espontâneo também estão ligados ao baixo desejo sexual.
No primeiro trimestre, as alterações hormonais são as culpadas pelo baixo desejo sexual. Uma montanha russa de hormônios ocorre para preparar o corpo da mulher para o desenvolvimento do feto. Além disso, esses hormônios são causadores de sintomas como enjoo, sensação de cansaço e dor de cabeça. Acontece, ainda, um sono incontrolável. Outros sintomas que prejudicam o desejo nessa fase são as mudanças de humor e dor nas mamas.
Essa série de fatores colocam a vontade de fazer sexo em segundo plano, tornando completamente normal que as mulheres sintam diminuição no desejo sexual. A falta de desejo causa, também, incômodo durante ao sexo, uma vez que ocorre diminuição da lubrificação vaginal e a hipersensibilidade nos seios.
Durante o segundo semestre, a atividade hormonal tende a se estabilizar e o casal pode se sentir mais seguro em relação ao sexo. Assim, é comum que, no meio da gravidez, o desejo seja restabelecido. Muitas mulheres relatam, inclusive, o aumento do apetite sexual nesse período. Isso acontece porque, além de estar mais segura em relação à gravidez, sintomas indesejados, como enjoo, já não se manifestam. Além disso, por causa do volume do útero, a vagina fica mais irrigada, deixando a mulher mais sensível e receptiva.
A diminuição do desejo sexual pode voltar no final da gravidez. Ocorre cansaço físico e mental e, por causa do peso e do tamanho da barriga, a mulher pode ter dificuldade de encontrar uma posição confortável. O fator psicológico também interfere muito nessa fase. A ansiedade e a tensão em relação à proximidade do parto contribuem para que a vontade de fazer sexo seja reduzida.
O que fazer?
O fato de que grande parte do período de gestação está associado a uma diminuição do desejo sexual pode ser perturbador para muitas mulheres e seus (suas) parceiros (as). Portanto, é importante que mulheres grávidas, seus parceiros e seus profissionais de saúde reconheçam alguns padrões comuns. Primeiro, as mudanças na resposta sexual são comuns durante a gravidez. Na verdade, a diminuição do desejo sexual é tão comum a ponto de constituir uma parte normativa do processo de gestação. Segundo, essas mudanças sexuais são, em grande parte, resultado de eventos físicos (como níveis elevados de hormônios, alterações no corpo, etc.) e psicológicos associados à gravidez. Portanto, a diminuição do desejo sexual não necessariamente reflete problemas no relacionamento ou na vida sexual do casal. Terceiro, as mudanças sexuais que ocorrem durante a gravidez geralmente não são permanentes. A maioria das mulheres relata um retorno aos níveis de desejo sexual pré-gravidez em algum momento após o parto. Assim, casais com um relacionamento sexual saudável antes da gravidez provavelmente retornarão a esse estado após o parto.
Quanto ao sexo, é hora de o casal diversificar. Será possível experimentar posições que sejam confortáveis, usar lubrificante e brincadeiras com sexo oral e masturbação. Tudo para que a mulher sinta desejo e esteja confortável.
Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!