Imagine-se trabalhando ou em casa lendo um livro ou em qualquer outra situação que requeira certo foco. Nesse momento de concentração, o celular, que está bastante próximo de você, toca para anunciar uma nova mensagem no Instagram. Pronto… é o suficiente para interromper a sua a atenção. O que você faz? Pega o celular e lê a mensagem ou ignora para tentar retomar o foco? Essa é uma situação bastante comum que o celular e as redes sociais incluíram em nossa vida. Hoje a comunicação é muito rápida e prática. Está na ponta dos dedos, literalmente. Isso facilita nossa vida? De certa forma, sim. Mas, como quase tudo na vida, há também contras que merecem atenção, afinal, nesse caso podem acabar afetando tanto a saúde física quanto a mental.
O brasileiro desbloqueia o celular, em média, 78 vezes por dia. São muitas facilidades em um só aparelho, certo? Calculadora, e-mail, mensageiros, cronômetro, câmera fotográfica, relógio… é realmente muito prático ter tudo sempre na mão. Dentre os cinco aplicativos mais utilizados no Brasil durante a quarentena, quatro são redes sociais. Essas plataformas, porém, escondem muitos perigos por trás dos lindos filtros.
A “felicidade” vista nas redes sociais
Passe a reparar em suas timelines e note quantas pessoas ali estão compartilhando sorrisos, momentos de felicidade e lembranças de viagens incríveis e quantas delas estão publicando momentos de maior vulnerabilidade, pedidos de ajuda ou perrengues.
Possivelmente até mesmo o conteúdo que você publica nas suas redes siga nessa linha mais agradável e bem-humorada. E tudo bem. Manter as experiências negativas registradas realmente não deve ser o objetivo de muita gente, eu entendo. A questão é que o que vemos pelas telas dá a todo tempo a impressão de que o mundo a nossa volta é só flores, enquanto nossa vida não é tão interessante ou satisfatória assim. Bem, a verdade é que todas essas pessoas têm muitos problemas para resolver, assim como você. Então acredite: a grama do vizinho nem sempre é mais verde. A diferença é que somente você conhece os seus próprios problemas e a sua luta diária.
Então vai ficar tudo bem enquanto você for capaz de navegar pelas mídias sociais tendo a consciência de que aquilo é apenas um recorte da vida das pessoas e que, portanto, é infundado – e até mesmo injusto – se valer de qualquer comparação com o que se vê ali.
Os perigos das redes sociais
Mas e quando o uso das mídias sociais começa a gerar angústia e ansiedade e servir de gatilho para algumas de suas inseguranças? Uma série de estudos e pesquisas aponta essas redes como responsáveis pelo agravamento de problemas de saúde mental, o que pode soar como um grande paradoxo. Afinal, conexões sociais aliviam o estresse e liberam uma série de hormônios capazes de nos trazer conforto, certo? Certo, mas nesse caso é preciso que ocorra uma socialização com real proximidade, toque e olho no olho. As mídias sociais, por outro lado, podem causar maior sensação de isolamento e solidão, além de seu uso exagerado gerar sintomas de ansiedade e depressão. Veja o porquê:
- Autoestima: como já mencionei, as publicações que vemos nas mídias sociais geram uma visão distorcida e perigosa sobre os padrões de beleza e de sucesso, o que representa uma ameaça à autoestima, sobretudo em grupos mais vulneráveis, como os adolescentes. A jornalista e influenciadora Danae Mercer traz em seu perfil do Instagram uma proposta interessante que vai contra a exposição e a idealização dos corpos perfeitos. Danae mostra seu corpo como realmente é e brinca com as poses e táticas utilizadas por modelos e blogueiras para darem a impressão de barriga chapada ou “bumbum na nuca”. Cada publicação é um lembrete de que o corpo perfeito não faz parte da vida real, e que até mesmo aquela modelo com milhões de seguidores usa iluminação e certos ângulos para criar um efeito ilusório da realidade.
- Cyberbullying: embora a legislação atual já proteja vítimas de bullying no ambiente virtual, muitas pessoas ainda se sentem livres para fazer difamação ou espalhar rumores na seção de comentários. Mais uma vez, isso pode acontecer com todos, porém é no período da adolescência que os casos acontecem com maior frequência, fazendo com que o monitoramento dos pais seja uma necessidade.
- O medo de estar por fora: conhecido como FOMO – fear of missing out –, esse fenômeno traz a sensação de estar perdendo alguma oportunidade ou estar de fora das novidades que acontecem dentro das mídias sociais. Você já fez parte de uma conversa em que todos comentavam sobre o assunto que bombou no final de semana e se sentiu de fora? E aí vem aquela clássica pergunta “Como assim você não ficou sabendo disso?”. Pois é, são situações como essa que impulsionam o FOMO. Isso faz com que queiramos, a todo momento, desbloquear o celular para ver as últimas publicações do feed, responder rapidamente todos os comentários e buscar atualizações constantemente, o que pode acabar gerando um ciclo de ansiedade difícil de superar.
- Tempo de tela: as mídias sociais mais populares são um grande sucesso não por acaso. Valendo-se de uma série de algoritmos, essas plataformas sabem exatamente o que você gosta de ver, conhecem todos os seus hábitos de consumo e fazem o que for necessário para que você permaneça o maior tempo possível navegando nelas. Que atire a primeira pedra quem nunca foi dar só uma olhadinha na rede social e acabou deslizando a timeline por 20, 30, 40 minutos. Embora sejam muito discutidos os perigos para as crianças, uma exposição prolongada à tela também gera diversos efeitos sobre o adulto, como dores de cabeça, perda de sono, visão borrada e olhos secos. Sem contar que a inclinação do pescoço durante o uso de celular gera pressão sobre a cervical, causando muito incômodo físico a longo prazo.
Revendo seus hábitos
Tenha bastante critério ao lidar com as mídias sociais e leve em consideração algumas reflexões.
Pergunte-se o que você busca nessas plataformas. Caso queira registrar seus momentos e se relacionar com seus amigos, colegas e pessoas queridas, faça isso. Claro que nem tudo é negativo nas mídias sociais e ela serve muito bem o propósito de criar e manter vivas as nossas conexões. Repense, no entanto, se a busca pela proximidade digital não está interferindo nas suas relações presenciais. É muito comum encontrar rodas de amigos ou casais que estão fisicamente juntos, mas absortos em seus próprios universos virtuais. Caso desligar-se um pouco do celular esteja sendo um enorme esforço para você ou caso note que está sempre desbloqueando o aparelho mesmo sem um objetivo claro, então reveja seus hábitos de consumo.
Reflita se algo incomoda você nas mídias sociais. Caso sinta-se desconfortável, insuficiente ou incapaz de qualquer maneira enquanto navega na timeline, tome nota, adquira consciência sobre isso e busque eliminar a fonte do desconforto. Deixe de seguir, de visualizar, de consumir. Muitas vezes passamos a acompanhar alguns conteúdos devido aquele medo que comentei mais cedo. Mas pensando bem, o que vale mais? Saber qual o último carro importado aquele cantor sertanejo comprou ou estar bem consigo mesmo? Repare que, no geral, aquilo que nos faz mal é aquilo sem a qual podemos viver tranquilamente.