ciúmes patológico / Dra Aline Rangel

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28 de julho de 2023 Todos

O ciúme é considerado um sentimento normal e até mesmo saudável para o relacionamento. Ainda que complexo, o sentimento afeta pessoas de todas as idades. Estudos indicam que até bebês sentem ciúme em determinadas situações, como no período de nascimento de um irmão. Esse sentimento cumpre um papel importante no amadurecimento emocional, pois faz parte do processo de formação e manutenção dos vínculos afetivos. Porém, o ciúme em excesso pode ser considerado uma doença, o chamado ciúme patológico.

O ciúme é considerado normal quando transitório e baseado em fatos reais. Quando é algo imaginário, sem controle e acompanhado de um desejo obsessivo de controle total sobre os sentimentos e comportamentos do outro, ele pode ser considerado um ciúme patológico.

Esse sentimento possivelmente tem origem nas inseguranças do indivíduo, nos sentimentos de não ser amado e em um estado ansioso de necessidade de estar no controle e sentir-se seguro. A ocorrência deste distúrbio pode estar ligada a diferentes fatores ​​que incluem dependência de substâncias alcoólicas e não alcoólicas, distúrbios cerebrais orgânicos, transtornos psicóticos, transtornos de personalidade ou qualquer transtorno mental.

Sintomas do ciúme patológico

O ciúme pode ser considerado patológico quando ultrapassa a barreira da boa convivência. Quando fatos e acontecimentos deixam o indivíduo mais preocupado e até mesmo paranoico. Normalmente, pacientes com ciúme patológico apresentam:

  • Exclusividade no relacionamento: um dos parceiros considera que ele ou ela tem o outro indivíduo como uma propriedade exclusiva, e que esta propriedade é uma necessidade para preservar o relacionamento.  
  • Opinião autoritária: eles se recusam a mudar de opinião mesmo quando confrontados com informações contraditórias e tendem a acusar seu parceiro de infidelidade com vários indivíduos.
  • Necessidade de controle: necessidade de controlar tudo, saber de tudo, querer dominar tudo que o parceiro faz ou vive, não deixando espaço para sua vida pessoal, desejos e afinidades.
  • Ansiedade: essa característica está possivelmente associada à insegurança e baixa estima.
  • Alterações nas relações interpessoais: o paciente pode ser tão sociável quanto antissocial. Tudo depende do que irá lhe trazer mais segurança. Se for necessário criar vínculos fictícios com outras pessoas, apenas para se manter perto dele, assim o fará. Da mesma forma poderá fazer uso de um comportamento antissocial apenas parar lhe afastar de situações (pessoas) que representam ameaça.

Outros sintomas comuns são: sensibilidade extrema; sentimento de inferioridade, insegurança, baixa autoestima, humilhação e vergonha; raiva excessiva; culpa e remorso; medo de perder o parceiro; grande preocupação com os relacionamentos anteriores e amizades do parceiro.

É importante ressaltar que esses são os principais sintomas, outros podem também acometer um indivíduo com ciúme patológico. Somente um médico poderá avaliar as atitudes, o estado emocional de cada indivíduo e as suas consequências.

Tratamento ciúme patológico

A melhor maneira de lidar com o ciúme patológico é por meio de um acompanhamento profissional. Em um primeiro momento, é preciso paciência para conversar com o paciente e conseguir encaminhá-lo para o tratamento mais adequado. Nem sempre ele consegue assumir que está com um ciúme patológico e precisa de ajuda.

É indicado um acompanhamento terapêutico, que ajudará o paciente a reconhecer o seu problema, ressignificar o ciúme patológico, encontrar suas reais causas e como lidar com ele de maneira saudável, reaprendendo a se relacionar de forma mais saudável ou treinando habilidades para lidar com possíveis gatilhos emocionais e situações da vida social. Em algumas situações de muita impulsividade e desregulação emocional, o paciente se beneficiará do uso de psicotrópicos.

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!


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23 de julho de 2023 Todos

Uma pesquisa da Associação Americana de Psiquiatria (APA)  revela que cerca de 2,7% da população mundial sofre de Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) – também conhecido como Síndrome do Hulk. O TEI é um distúrbio que gera comportamentos agressivos, com acessos de raiva descontrolada e agressões desmedidas motivadas por situações corriqueiras. A pessoa com esse transtorno de impulso costuma ter não apenas a saúde mental afetada, mas, principalmente, sua vida social.

Esse transtorno pode acarretar uma série de problemas, tanto para quem tem a doença, quanto para as pessoas que convivem com ela. A pessoa com TEI, geralmente, apresenta pouca tolerância à frustração, desenvolvendo uma inaptidão para gerenciar a raiva e a hostilidade, tornando-se instável afetivamente. A instabilidade emocional é muito presente em relacionamentos como de um namoro ou conjugal e não é incomum se apresentar como ciúmes patológico.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) , para cada três pacientes homens, uma paciente mulher tem o TEI. O transtorno atinge 3,1% da população no Brasil. Os estudos realizados pela APA apontam que as pessoas que sofrem da Síndrome do Hulk e possuem outros distúrbios mentais, como ansiedade e depressão, têm pelo menos quatro vezes mais prevalência em possuir a doença.

Como diagnosticar um TEI de um ataque de raiva

O diagnóstico do TEI é feito com base ao histórico do paciente e de relatos de familiares sobre sua conduta em situações diárias. É importante lembrar que o transtorno só se comprova quando há repetição dos comportamentos agressivos por certo tempo – o que indica se tratar de uma enfermidade crônica.

A principal característica de uma pessoa com esse tipo de transtorno é a tendência para a impulsividade sem medir as consequências das suas atitudes agressivas, além de serem instáveis afetivamenteÉ importante reforçar que toda essa agressividade não acontece de forma premeditada, ou seja, as pessoas não conseguem conter essas explosões de fúria.

Nas explosões leves podem ocorrer ameaças, xingamentos, gestos obscenos, ofensas, gritos, imprudências no trânsito, ataque de objetos e agressões físicas sem lesão corporal.  Para ser caracterizado como um transtorno, essas reações precisam ter uma frequência média de duas vezes por semana, em um período, mínimo, de três meses.  Já nos casos severos, podem ocorrer destruição de propriedades e patrimônios e ataque físicos mais sérios, com lesão corporal. Caso esses episódios ocorram mais três vezes durante o período de um ano, já pode ser considerado um quadro de transtorno.

Normalmente, as pessoas que possuem essa doença não conseguem avaliar as consequências de seus atos para si e para os outros. As crises podem ocorrer de forma mais grave, caso o indivíduo seja criticado ou impedido de agir durante as explosões de agressividade. Outra característica muito comum a esses pacientes é que logo após esses ataques, seja leve ou severo, aparecem sentimentos de arrependimento, vergonha, culpa e ou tristeza. É muito comum observar comportamentos auto-lesivos ou extremamente destrutivos contra si mesmo após um acesso de raiva. Essa experiência de sofrimento genuíno é que caracteriza o TEI e, ao mesmo tempo, dificulta tanto o diagnóstico e tratamento desta condição. 

Qualquer forma de binarismo, costuma ser tóxica, excludente e reducionista mas com o TEI não é diferente. Assim como em outros transtornos psiquiátricos, onde o hedonismo, narcisismo patológico e condições atribuídas ao caráter (como compulsão sexual, dependência química e não-química, entre outros) geram confusão sobre como diferenciar o que é doença versus o que “cafajestagem”, é comum observar que, quem tem o transtorno e precisa de ajuda, tem dificuldade em buscar tratamento e aqueles que são “cafajestes de natureza” podem se justificar em diagnósticos mal feitos por profissionais pouco experientes neste tema.

Sintomas mais comuns no transtorno explosivo intermitente

  • Agressões físicas e sem justificativa ou razão;
  • Surtos de raiva repentinos;
  • Pressão e batimentos cardíacos descontrolados;
  • Arremesso de objetos durante a crise;
  • Sudorese e tremores pelo corpo;
  • Falta de paciência e irritabilidade;
  • Falta de controle sobre as próprias ações;
  • Culpa após o ataque.

Como tratar o transtorno explosivo intermitente

Ainda há muito que se pesquisar sobre este transtorno e abordagens terapêuticas eficazes. Algumas experiências, no entanto, já demonstraram que a forma mais eficiente para o tratamento, até o momento, é a utilização de medicamentos (antidepressivos e estabilizadores do humor principalmente) associado à psicoterapia. Essas intervenções ajudam o paciente a lidar com a agressividade, reduzindo a frequência dos episódios de explosões e diminuindo os prejuízos gerados por eles.

É importante ter clareza de que, para se estabelecer o diagnóstico adequado, os ataques agressivos não devem ser decorrentes de substâncias lícitas ou ilícitas, como álcool, medicamentos ou drogas. Nem mesmo por condições psicológicas, como transtornos depressivos, mania ou exaltação no contexto do transtorno bipolar ou de personalidade ou ainda condições médicas, como traumatismo craniano, doença de Alzheimer, entre outras.

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12 de junho de 2023 Todos

É natural querer passar o máximo de tempo possível com nosso(a) parceiro(a) quando nos apaixonamos e querer estar ciente de todos os aspectos de suas vidas. Muitos consideram uma fase passageira ou veem o ciúme como uma parte normal dos relacionamentos. No entanto, quando esse amor se transforma em obsessão, levando a eventos extremos como controle de todos os passos do(a) parceiro(a), desconfiar sobre o que faz, com quem e onde e uma crença de que está sendo traído(a), isso se torna motivo de preocupação.

Infelizmente, esse fenômeno, conhecido como ciúme patológico, é mais comum do que imaginamos. Ele afeta homens e mulheres em todo o mundo, aprisionando-os em um ciclo de dependência semelhante a um vício. Assim como outros distúrbios comportamentais, os sintomas do ciúme patológico podem se tornar avassaladores e destrutivos, se manifestando como agressão, automutilação ou até mesmo tentativas de suicídio e/ou homicídio.

Diagnóstico e Tratamento

O ciúme patológico é diagnosticado por meio de uma avaliação completa por um especialista que pode diferenciá-lo de outras condições, como o Transtorno de Personalidade Borderline e Transtorno Explosivo Intermitente, por exemplo. Anteriormente, o ciúme patológico era visto apenas como um sintoma, em vez de uma doença distinta.

Apresenta-se de forma heterogênea, tais como ideias obsessivas, prevalentes ou delirantes. Desta forma, ele pode ser explicado por dois modelos de diagnóstico, como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o transtorno delirante. Portanto, uma vez detectado, deve-se identificar o diagnóstico de base. Como o tema pode apresentar uma forte conotação paranóide, a aproximação mais comum seria com transtornos psicóticos, em virtude de alguns pacientes terem boa resposta terapêutica a antipsicóticos e apresentarem uma forte convicção, próxima a um delírio, de que estão sendo traídos. No entanto, apesar de alguns autores ressaltarem a associação desse sintoma com o TOC, são poucos os artigos publicados sobre o tema. Neste caso, a terapêutica mais adequada seriam os inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS) associados à terapia cognitivo-comportamental (TCC), entre outros. Em casos refratários, a associação com doses baixas de antipsicóticos por curto período de tempo poderia ser uma opção

Uma vez diagnosticado, o tratamento deve ser iniciado, com foco na terapia como um recurso indispensável. O terapeuta trabalhará atentamente e pacientemente com o paciente, ajudando-o a reconhecer a perda de controle. Além disso, explorará quaisquer conflitos subjacentes que possam contribuir para o desenvolvimento desses sintomas, como experiências passadas que levaram a uma baixa tolerância à dor e ao sofrimento.

O texto remete a pessoas ciumentas extremamente adoecidas, no contexto do espectros dos transtornos obsessivos compulsivos e até delirantes, mas identificamos, em menor intensidade, em relacionamentos reconhecidos como “normais”. Os relacionamentos devem enriquecer a vida de alguém, em vez de serem uma forma de preencher um vazio. Esteja atento ao que quer de um relacionamento e da representação de uma parceria na sua.

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