Todos / Dra Aline Rangel

39791347_l-1200x800.jpg

12 de janeiro de 2021 Dra Aline RangelTodos

As variações no humor fazem parte da vida de todo ser humano. As pessoas não vivem sempre felizes ou sempre tristes. O humor flutua conforme as situações vão acontecendo. No entanto, uma alteração brusca de humor que ocorre repetidas vezes pode sinalizar que algo não vai tão bem no corpo e na mente do indivíduo.

Algumas instabilidades comportamentais repentinas podem indicar problemas graves, incluindo doenças mentais. 

Contratempos durante o dia

Uma causa comum e menos preocupante da alteração brusca de humor é a existência de contratempos ao longo do dia. Quando algo não sai conforme o planejado, quando o trânsito está surpreendentemente caótico, quando o ônibus está cheio ou quando as coisas não dão certo no trabalho, essa mudança é natural, embora possa trazer problemas para as relações interpessoais.

Hormônios por trás da alteração brusca de humor

As mudanças e desequilíbrios hormonais, especialmente em mulheres, podem provocar alterações bruscas no humor. Isso ocorre porque os hormônios estão intimamente relacionados com as emoções. Quando os níveis hormonais oscilam, é bem provável que haja um impacto efetivo sobre o estado de espírito. É o que ocorre, por exemplo, na tensão pré-menstrual (TPM), menopausa e gravidez.

Transtorno bipolar

O transtorno bipolar é uma das causas mais comuns de alterações do humor. Caracterizada pela montanha-russa de atitudes e sentimentos, a bipolaridade atinge mais de 4 milhões de brasileiros. A doença é marcada pelo humor que muda repentinamente da água para o vinho, apresenta-se como uma euforia ou irritação patológica e pode alternar estados de normalidade ou com episódios de depressão, entretanto, estes estados de “elevação” do humor são sustentados, duram dias a semanas. Alguns raros pacientes com transtorno bipolar são chamados de “cicladores rápidos”. Infelizmente observamos muitas pessoas sendo vistas por familiares, amigos e até profissionais da saúde como “fulano é bipolar” somente baseado na impressão de  que “oscilou de um polo a outro”.

Ataques de pânico

A pessoa está bem e de uma hora para outra o comportamento dela começa a mudar. Ela pode estar vivendo um episódio de ataque de pânico, um dos tipos de transtorno de ansiedade que produzem crises inesperadas de medo e desespero, ainda que não exista nenhuma ameaça real.

Alguém que estava feliz e tranquilo, por exemplo, pode começar a sofrer temores repentinos, sensação de perigo, sentimento de indiferença, temor de perder o controle, dormência nos membros, tontura, desmaio, taquicardia, impaciência, irritabilidade, desconforto, calafrios, náuseas, dores abdominais, dores no peito, tristeza, etc. Vale destacar que nos ataques de pânico há mudanças no humor, mas também há alterações físicas.

Dependência química

Outro fator causador de alterações no humor é a dependência química, uma doença mental com desdobramentos físicos. Os dependentes químicos não conseguem controlar o uso da substância, o que em médio e longo prazos prejudica a vida emocional e a saúde psíquica do indivíduo. Com isso, o corpo sofre drásticas reações metabólicas, as quais interferem no humor e nos padrões comportamentais.

Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável ou Borderline 

Como o próprio nome da Classificação Internacional das Doenças (CID 10) sugere, é caracterizado pela tendência a agir de modo imprevisível e impulsivo, sem consideração pela consequência, apresentando um humor imprevisível e instávell. Em geral, a pessoa apresenta uma tendência a ter acessos de raiva e incapacidade de controlar o comportamento impulsivo. Os comportamentos explosivos e os conflito com os outros, aparecem particularmente quando os atos impulsivos são contrariados ou censurados.

 

Viu que não há apenas uma possibilidade de diagnóstico para a alteração brusca de humor? Elas podem ser sinais de vários problemas, graves ou não. O ideal é buscar auxílio especialiado para identificar as reais causas das variações de estado de espírito e, assim, encontrar o melhor tratamento.

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre esse assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!

 



8 de janeiro de 2021 Todos

O coronavírus virou nosso mundo de cabeça para baixo.

Muitas empresas que normalmente exigem a presença pessoal estão fechadas e não podem operar. Todos estão cientes de que, na maioria dos lugares do país, no momento, você não pode fazer coisas como comer fora em um restaurante ou ir a uma consulta médica não essencial., reforçados por um último mês e projeções que não estão otimistas sobre a possibilidade de aproximação, inclusive numa consulta médica de um Psiquiatra.

Você pode pensar que a consulta médica e psicoterapia seriam interrompidos da mesma forma, porque normalmente é feita em um consultório, mas, felizmente, nossa linha de trabalho é adequada para se mover on-line quando necessário.

Desde que a quarentena por coronavírus se tornou mais generalizada, logo nos seus primeiros 3 meses, terapeutas e profissionais da saúde mental fizeram uma mudança notável e rápida em todo o setor, para fornecer serviços de telemedicina on-line via videochat, em vez de se reunir pessoalmente, conforme orientações dos seus Conselhos de Classe.

Conheço vários colegas terapeutas com escritórios em várias cidades do Brasil e do mundo que, por vários anos, ofereceram terapia on-line para clientes que, por várias razões, não podiam comparecer pessoalmente ao consultório. O motivo mais comum é de pessoas que moram longe e não conseguem encontrar serviços de saúde mental próximo a ele, mas também tem sido uma ótima opção para clientes que ficam em casa devido a problemas de ansiedade, TOC ou depressão.

Comprometimento com a necessidade de afastamento pessoal

Agora, é claro, devido à necessidade de distanciamento social durante o surto de coronavírus, a maioria dos pacientes precisaram migrar para a consulta on-line. De todos os colegas profissionais de saúde mental  com que conversei no último ano, todos fizeram uma transição rápida para oferecer terapia a todos os seus pacientes on-line e o feedback foi maravilhoso.

Esta é uma ótima notícia, pois significa que, se você precisar de ajuda com ansiedade, depressão ou qualquer problema de saúde mental, ainda poderá obtê-lo de praticamente qualquer terapeuta, apesar do distanciamento.  Dado o aumento óbvio e compreensível da ansiedade em todo o país, acho importante que as pessoas ainda possam ter acesso a coisas que possam ajudá-las com ansiedade e estresse, como a consulta psiquiátrica e outras  terapias se destinam a fazê-lo. Mas o espaço presencial com todos os cuidados sanitários recomendados será sempre garantido a qualquer um que me procurar e não tiver história de COVID recente nem contato próximo com alguém que esteja sintomático.

Pacientes em crise, em surto psicótico, com ameaça de ferir a si ou a outra pessoa não são indicados para este tipo de atendimento. Estamos capacitados para cuidar presencialmente, seguindo as orientações do Ministério da Saúde.

Mas fora dessa limitação, a grande maioria das sessões pode ser conduzida normalmente.

Procure ajuda para o seu sofrimento

Se você ou um ente querido está sofrendo com problemas de saúde mental, sejam por causa do surto de coronavírus ou não, encorajo você a não deixar que a quarentena o impeçam de obter ajuda.

Nosso compromisso como profissionais da saúde mental é com a vida e seu bem-estar!

Quer saber mais sobre atendimento online? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!



2 de janeiro de 2021 Todos

Não há como negar as facilidades trazidas pelos aparelhos eletrônicos: com eles, é possível conversar com pessoas do outro lado do mundo, enviar mensagens, assistir filmes, vídeos, jogar e até mesmo trabalhar. Mas, apesar das facilidades, o uso sem controle desses aparelhos pode gerar a chamada nomofobia.

O termo nomofobia (uma abreviação, do inglês, para no-mobile phobia) foi criado no Reino Unido para descrever a angústia de estar sem o telefone celular ou aparelhos eletrônicos disponíveis. Na realidade, esse neologismo atualmente tem sido muito utilizado para descrever a dependência — também conhecida como uso problemático ou compulsão — desses aparelhos. No Brasil, a nomofobia ainda é um tema relativamente novo, mas Coreia do Sul, Japão e China já consideram essa dependência um problema de saúde pública e têm centros de reabilitação.

Segundo relatório da ONU sobre economia da informação, o Brasil é o quarto país do mundo em número de usuários na Internet. O informe “Economia da Informação 2017: digitalização, comércio e desenvolvimento”, da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), mostra que as atividades principais dos brasileiros se relacionam à comunicação (85%), como o envio de mensagens pelo WhatsApp, e o uso de redes sociais como Facebook, Instagram ou Snapchat (77%). Ou seja, com base nos relatórios, a nomofobia pode se tornar ainda mais frequente no Brasil.

Sintomas da nomofobia

Além da total dependência dos aparelhos móveis, pacientes com nomofobia apresentam sintomas físicos e emocionais comparáveis aos da dependência química. Os principais são:

  • Sintomas emocionais: angústia, ansiedade, irritabilidade, medo, estresse, crises de pânico, tristeza, solidão, depressão.
  • Sintomas físicos: falta de ar, tontura, tremores, náuseas, dor no peito, aceleração da frequência cardíaca, dor de cabeça, enxaqueca.

Algumas atitudes no dia a dia também podem indicar a nomofobia:

  • manter o celular ligado 24 horas por dia e dormir com o celular embaixo do travesseiro;
  • carregar consigo mais de uma bateria, carregadores ou aparelhos reserva;
  • conferir repetidamente as chamadas, os e-mails e as mensagens de aplicativos;
  • checar a bateria a todo momento;
  • sentir desconforto quando está em um local sem sinal;
  • deixar de fazer atividades que gosta para ficar no celular;
  • diminuir a produtividade no trabalho, devido às redes;
  • diminuir a vida social e o contato com a família para ficar com o celular.

O diagnóstico da doença deve ser feito por um psiquiatra, psicólogo ou psicoterapeuta, que analisa os sintomas identificando as causas e sua relação com outros problemas, como depressão, ansiedade e transtornos psiquiátricos.

A terapia é o tratamento indicado para reduzir essa dependência do celular. O psicólogo cognitivo-comportamental é capaz de compreender a raiz desse vício e aconselhar uma mudança nos hábitos de consumo do aparelho. Já os medicamentos são utilizados apenas em casos mais avançados, quando a nomofobia evolui para depressão e crises de ansiedade mais graves, mas a automedicação não é recomendada.

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho como psiquiatra em São Paulo!



1 de janeiro de 2021 Todos

Explicando os conceitos de ansiedade e insônia

Não. Sim. Pode ser… Mas o que é bom para a ansiedade também é bom para insônia. Será? A ansiedade noturna é sinônimo de “ansiedade que aparece à noite”. Nossa, Aline, eu não poderia morrer sem esta “grande definição”. Desculpa, amigx, mas é isto mesmo: a ansiedade noturna é a ansiedade que ocorre à noite. Ela está associada à insônia? Muitas vezes. A falta de sono pode gerá-la? Não tenho dúvidas.

Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha?

Essa é a pergunta de $1,000,000,000 – quem veio primeiro: a ansiedade ou a insônia? Vou deixar de lado este paradoxo da Teoria da Evolução e voltar para o tema que com certeza te trouxe a este texto:

Por que a ansiedade vem no período noturno?

  • “À noite todos os gatos são pardos?” (Anônimo)
  • “(…) Eu faço samba e amor a noite inteira / Não tenho a quem prestar satisfação (…) ? (Chico Buarque)
  • “(…) Minha cabeça é pior / Durante a noite / Porque ela fala mais alto / E tem muitas certezas (…) ? (Clarisse Falcão)

– Eu luto contra ou fujo da ansiedade noturna?

Primeiro, a ansiedade é o famoso estado de “luta e fuga”. Este definição da ansiedade foi originariamente descrito pelo fisiologista  Walter_Bradford_Cannonnon  em 1927.

Longos anos depois, em 1995, Arthur S. P. Jansen, Arthur D. Loewy e colegas publicaram, na prestigiada revista científica Science, o artigo “Central Command Neurons of the Sympathetic Nervous System: Basis of the Fight-or-Flight Response.

O grupo de pesquisa acima pôde investigar e estudar a partir (re)evolução técnica do último século e descrever os complexos mecanismos envolvidos no “lutar ou fugir”. “Lutar” ou “fugir” não escolhas tão elaboradas quanto de fato poderiam ser. Sim, podemos treinar estes impulsos.

Como resultado, nos dias atuais, está bastante claro estruturas como sistema nervoso central, autônomo, neurônios, neurotransmissores, etc e a regulação que promovem em vários órgãos, músculos, glândulas, etc, etc, etc..

– Eu sofro com ansiedade noturna!

Infelizmente sofrer é tudo aquilo que é sentido como desagradável físico e emocionalmente.

E, acrescento, é:

  1. sentir dor física ou moral; padecer.”s. a dor da dúvida”;
  2. ter, sentir os sintomas.”s. de asma”;
  3. ser acometido de doença (em algum órgão).”s. do coração”;
  4. experimentar com resignação e paciência; suportar, tolerar, aguentar”; sofre injúrias e cala-se”‘
  5. não evitar ou criar impedimento para; admitir, aceitar.”falou num tom que não sofria réplica”;
  6. passar por, experimentar.”o texto sofreu várias alterações”;
  7. ter danos ou prejuízos; decair, degradar, perder.”com a falta de chuva, a agricultura sofre”.

Todas as afirmativas acima são verdadeiras sobre ansiedade noturna

Escolher o que se faz à noite, por que se faz e para que se faz qualquer coisa no período noturno, além de entender por que nos sentimos ansiosos em resposta a essas escolhas são questões importante de estar claras para qualquer pessoa… na maioria das vezes, eu acho.

Do contrário, não ter domínio, possibilidade de escolha ou capacidade de tomar outro caminho nas ruminações emocionais ou rotinas que nos geram ansiedade, gera “freezing”, congelamentoe, etc.

E o que fazer então com a Ansiedade é a Insônia?

Isto bem definido, “desligar para uma uma noite de sono” e colocar prática e tentar colocá-las em ação torna o trabalho difícil e um trabalho mais fluido.

Ainda quer saber mais sobre tratamentos / hábitos e intervenções no tratamento da ansiedade noturna e distúrbios do sono? Dá uma olhada aqui no Blog!

#tamojunto



22 de outubro de 2020 AnsiedadeTodos

Provas, competitividade, apresentações em público, mudanças hormonais, aprovação social, bullying… esses e outros desafios surgem durante a fase escolar. A ansiedade, que atinge níveis quase epidêmicos no Brasil, pode ser desencadeada por fatores biológicos, emocionais e, claro, ambientais. A escola, portanto, pode ser um espaço gerador de estresse e ansiedade para o adolescente. Como lidar com a ansiedade no ambiente escolar em adolescentes e encorajar esses jovens a manter a saúde mental em um momento tão intenso da vida?

O perigo da ansiedade na adolescência

A ansiedade faz parte da experiência humana. Todos nós a experimentamos de tempos em tempos, dependendo da situação: antes de entrevistas de emprego, apresentações e eventos importantes, por exemplo. Porém, quando se manifesta em nível elevado, muito intenso e recorrente, é o momento de ligar o alerta.

Os transtornos de ansiedade podem ser muito danosos na fase escolar. É o período em que o jovem está descobrindo seu lugar no mundo, assim como descobrindo a si mesmo. É uma fase também muito caracterizada por uma pressão vinda de pais, professores e, sobretudo, colegas.

O adolescente comumente busca a aceitação em grupos, o que pode levá-lo a abrir mão de suas próprias vontades para se sentir incluído. Aqueles que se recusam a fazê-lo, assim como aqueles que fogem de um padrão estético ou de comportamento, geralmente são deixados de lado. Como consequência, passam a ser alvos de bullying, piadas e chacota, contribuindo para o aumento de ansiedade e minando, aos poucos, sua autoestima, confiança e bem-estar. Esses são os jovens que, no futuro, tendem a manifestar problemas psicológicos.

Como identificar ansiedade nos adolescentes?

Segundo dados levantado pelo PISA (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), os jovens brasileiros estão entre os mais ansiosos e estressados antes de provas.

Psicologicamente falando, a ansiedade moderada pode ser funcional. Esse sentimento leva o jovem a se dedicar aos estudos. Se fosse pela ausência total de ansiedade, o adolescente não se importaria tanto em se preparar. A ansiedade elevada, por outro lado, pode interferir na concentração e no sono, levá-lo ao isolamento, causar irritabilidade e fazê-lo se sentir incapaz diante de avaliações.

  • Fique de olho em alguns sinais:
  • Falta de vontade de frequentar a escola;
  • Dificuldade de concentração;
  • Retraimento social e dificuldade de interagir com outras pessoas, mesmo que fora do ambiente escolar;
  • Pensamentos negativos;
  • Sintomas psicossomáticos, como fadiga, distúrbios do sono, dores gastrointestinais, tontura, entre outros – para saber mais sobre este tema, clique aqui;
  • Estado de alerta constante e preocupação excessiva.

Como é o tratamento?

Assim como outros transtornos psíquicos, a ansiedade pode ser aliviada com o acompanhamento de um especialista como o psiquiatra. É recomendado buscar o apoio do profissional pois há diferentes tipos de ansiedade, e por isso ela precisa ser devidamente identificada e diagnosticada.

Há sintomas que sugerem transtorno de ansiedade social, em que o indivíduo sente dificuldade e desconforto quando precisa interagir com outras pessoas; outros sintomas indicam TOC (transtorno obsessivo compulsivo), caracterizado por ações e pensamentos repetitivos que passam a prejudicar a vida do paciente; o TAG (transtorno de ansiedade generalizada) causa extrema angústia e preocupação desproporcional à gravidade das situações, entre outros.

Os transtornos tratados por psiquiatras nunca são preto no branco. Tudo é sempre muito cinzento, e por isso os tratamentos variam muito. Podem incluir sessões de psicoterapia regulares e, em alguns casos, medicamentos.

De qualquer forma, é importante buscar tratamento o mais cedo possível. Conte comigo caso tenha alguma dúvida sobre esse ou outros assuntos. Lembre-se de que a saúde mental é parte integrante da saúde do indivíduo e necessária para que todas as áreas da vida possam fluir em harmonia. Abração!



15 de outubro de 2020 Todos

Você já reparou em como você lida com a sua própria companhia? Chegar em casa e não ter ninguém lá além de você mesmo. Nenhuma voz além da sua própria ou daquela que sai da TV. Esse é o dia a dia de muitas pessoas que vivem sozinhas. Claro que, na maioria dos casos, há sempre amigos ou familiares para quem possam ligar, conversar e marcar um passeio. Há quem imagine um cenário como esse e pense em liberdade. Há quem pense em solidão. E aí vem o medo de que essa rotina se prolongue ao longo dos anos e que, já na terceira idade, tenha de enfrentar uma vida isolada e solitária. Você tem esse medo de envelhecer sozinho? De onde será que ele vem?

Casamento: um sonho de gerações passadas

Algumas décadas atrás, o sonho de todo homem era ter um emprego estável com o qual poderia ganhar dinheiro suficiente para prover para sua família e aproveitar a vida com ela. À mulher bastava o desejo de encontrar esse homem, com quem se casaria e teria filhos. Hoje em dia, as coisas estão muito diferentes.

Muitas pessoas hoje em dia não almejam construir uma família como era a tradição de antigamente. Alguns preferem investir toda sua energia na carreira ou em outras áreas da vida, deixando os relacionamentos amorosos em segundo ou até mesmo em terceiro plano. Conhecer alguém que priorize a autonomia e esteja solteiro aos 30, 40 ou 50 anos, portanto, é mais comum do que se imagina.

Por outro lado, muitos ainda nutrem o sonho de trocar alianças e votos e têm pavor de imaginar uma velhice solitária. Mas será mesmo que casamento e filhos fornece algum tipo de garantia contra a solidão?

Separação e viuvez

Não apenas a quantidade de solteiros está aumentando, mas também a de divórcios. O período de isolamento social provocado pelo coronavírus foi um catalisador de separações no Brasil e no mundo. E não me entenda mal, pois sei que ninguém começa nenhum relacionamento pensando no término. Ao iniciar uma vida a dois, a esperança é de que seja uma relação frutífera, duradoura e muito feliz. Há, porém, sempre a possibilidade de não dar certo, e é importante manter o pé no chão quanto a isso. E lembre-se de que há pessoas que se sentem sozinhas mesmo estando dentro de um casamento, assim como há pessoas solteiras que estão sempre cercados de pessoas queridas, sejam amigos ou familiares.

Mesmo que esse casamento seja, de fato, um grande sucesso, há o momento em que a morte separa o casal. É um momento difícil. A perda do companheiro ou companheira que esteve ao seu lado durante tantos anos representa um divisor de águas, sobretudo na terceira idade. Como será daqui pra frente? A solidão será a nova realidade? Perguntas como essas são comuns nesse momento, mas antes de tentar se reorganizar, é preciso viver o luto para, posteriormente, seguir em frente, sozinho ou não.

O apoio dos filhos

Muitos encontram nos filhos a esperança de ter vínculos, acolhimento e companhia na terceira idade. Ao tornar-se pai ou mãe, é muito comum que os desejos individuais sejam projetados nos filhos, mas ao crescerem, eles terão suas próprias vontades, valores, sonhos e vidas. Pode surgir uma oportunidade profissional em outro estado ou país e o filho acabar morando longe dos pais, pode acontecer de o relacionamento ser conflituoso. Pode acontecer muita coisa fora do nosso controle. E embora muitos pais idosos possam, sim, contar com a presença dos filhos, nada é garantido, assim como no casamento.

Solitude x solidão

O anseio de estar cercado de pessoas é natural. Nossos ancestrais precisavam viver com outras pessoas para que pudessem sobreviver, e essa necessidade nos acompanha até hoje. Pode ser que venha daí o medo de viver sozinho e isolado. E embora a ideia de viver só possa parecer aterrorizante, é necessário aprender a lidar com isso, pois, em muitos momentos da vida, nos encontramos na companhia apenas de nós mesmos. E a maneira de encarar isso depende de cada um.

Se você não sente medo de estar sozinho, sabe aproveitar a sua própria companhia e é até mesmo capaz de encontrar prazer nisso, você não vive em solidão, mas em solitude. É saber conviver bem com o silêncio, com a quietude e com seus próprios pensamentos. A solitude representa uma oportunidade de mergulhar em si mesmo e buscar autoconhecimento, entender melhor seus hábitos, comportamentos, crenças e conjuntos de valores.

A solidão, por sua vez, tem uma conotação negativa. Algumas pessoas sentem um vazio ao se encontrarem sozinhas, mesmo que seja por poucas horas ou poucos dias. Essa tolerância ao isolamento é individual, pois depende da quantidade de conexão que cada um precisa. E quando falo em conexão, me refiro a uma conexão real, de olho no olho, e não de “conexão” em mídias sociais.

Mas pense comigo: mesmo que você se divorcie e que seu filho vá morar em outro país, lembre-se de que estar sozinho não precisa ser um estado permanente. Ainda haverá amigos com quem você poderá conversar e sair e haverá, também, muitos grupos sociais dos quais você poderá fazer parte para conhecer novas pessoas. A solidão não precisa ser regra na sua vida, mesmo que você não compartilhe seus dias com nenhuma parceira ou parceiro amoroso. Então confira algumas dicas para transformar solidão em solitude:

  • Faça de você mesmo a sua melhor companhia e leve-se para “encontros” consigo mesmo: jantares, caminhadas e passeios.
  • Invista tempo em um hobby que você já tem ou crie novos.
  • Realize atividades que podem ser feitas sozinho: meditação, exercícios físicos, pintura, ioga.
  • Abrace, de fato, a solitude e tenha em mente de que esse não é um estado permanente.
  • Quando estiver sozinho, aproveite para fazer o que você gosta de fazer quando não tem ninguém olhando: dance zumba, cante, fale sozinho.



25 de setembro de 2020 DepressãoTodos

Tristeza, irritação e desânimo fazem parte da vida de todos. Inclusive das crianças e dos adolescentes. Ficar separado dos pais, mudança de rotina, cobranças na escola… tudo isso pode gerar uma certa ansiedade nos mais jovens. O problema é quando esses sentimentos se tornam habituais. Aos poucos, nota-se algumas alterações no humor, na alimentação e no sono. Nota-se, também, que as atividades que proporcionavam prazer deixam de ser atrativas e que, eventualmente, a criança ou adolescente apresenta retraimento social. São sintomas clínicos típicos da depressão. Muitos acreditam que o transtorno depressivo não aflige os mais jovens, porém, ele não é restrito a uma faixa etária. O que fazer diante de um diagnóstico de depressão em uma criança ou adolescente? O tratamento é similar?

Como identificar sintomas depressivos em crianças e adolescentes?

Quando uma criança ou adolescente apresenta algum sintoma característico da depressão, em geral não é dada muita atenção de início. Muitos pais notam mudança, mas acreditam ser uma fase, o que acaba resultando em um diagnóstico tardio, quando os sintomas já estão mais intensos. O que também agrava a situação é o fato de que, dependendo da idade, a criança ou adolescente ainda não possui recursos para reconhecer que está deprimido, pois ainda não tem um nível de consciência que permita nomear suas emoções, cabendo ao adulto fazer isso por ele. Por isso, é preciso ficar atento aos sinais apresentados.

Depressão infantil

A depressão infantil pode causar medo constante de ficar sozinho, sobretudo durante a noite, momento no qual a criança pode relatar pesadelos e, consequentemente, incapacidade de manter horas prolongadas de sono. A infância deve ser uma fase de exploração e lazer. Ao notar que a criança passa a evitar atividades lúdicas e recreativas e prefere ficar quietinha o tempo todo, por muitos dias ou até semanas, é o momento de ligar o alerta e considerar o acompanhamento de um profissional.

Durante a infância é comum que os sintomas se apresentem também de forma psicossomática. Em suma, a criança pode sentir queimação no estômago, falta de ar e outras reações no corpo. Já falei sobre as doenças psicossomáticas aqui no blog. Depois de terminar esta leitura, você pode começar a ler mais sobre a psicossomatização clicando aqui.

Depressão na adolescência

A adolescência, por sua vez, é um momento crítico no desenvolvimento pois apresenta uma série de desafios para o jovem. É nessa fase que acontecem mudanças nos hormônios e no corpo. Variações de humor são mais recorrentes, assim como forte pressão para ser aceito socialmente em grupos de amigos ou se encaixar em padrões pré-estabelecidos – sobretudo para as meninas, motivo pela qual elas são mais vulneráveis a apresentar alguns sintomas depressivos. Alguns dos mais comuns nas meninas são o isolamento, tristeza intensa, choro sem motivo aparente, baixa autoestima. Os meninos não costumam lidar com os sentimentos da mesma mesma maneira que as meninas, por isso, além dos mesmos sintomas, podem externalizar as emoções por meio de um comportamento agressivo, demonstrar irritabilidade e entrar em conflitos.

Adolescentes costumam ser um pouco mais inconsequentes e impulsivos e, por isso, podem recorrer ao álcool ou a outras drogas em busca de alívio a curto prazo ao sofrimento que sentem. Em alguns casos, podem considerar suicídio como alternativa, motivo pelo qual o diagnóstico precoce é fundamental.

Seja na infância ou na adolescência, em ambos os casos a escola será uma das mais importantes aliadas para os pais ou responsáveis. Ao notar mudanças comportamentais que possivelmente estão ligadas aos sintomas depressivos, é interessante recorrer à escola para obter mais informações sobre o comportamento da criança ou adolescente. Seu desempenho vem caindo ao longo das últimas semanas? Apresenta retraimento social e prefere se manter isolado dos demais? Está com dificuldade de aprendizado? Esses são outros sintomas importantes que podem facilitar a identificação. Diante de sinais como esse, a experiência de um profissional como o psiquiatra é primordial para realizar o diagnóstico e oferecer o tratamento mais indicado para o caso.

Como funciona o tratamento?

Felizmente os pacientes mais novos costumam responder bem ao tratamento. Desde 2005 presto serviços voltados ao adolescente e já atendi mais de mil jovens entre onze e dezessete anos. Ouvi muitas histórias e relatos e não há como afirmar que isso ou aquilo causa a depressão, pois cada pessoa tem um histórico e uma experiência de vida. Alguns pacientes relatam bullying, perdas e luto na família. Outras falam sobre mudança de casa ou de escola, família desestruturada, dificuldade em se aceitar. Há também a questão genética. Pesquisas afirmam que muitas pessoas possuem predisposição para o transtorno depressivo e pode “herdá-lo” de seus antecedentes, assim como acontece com a hipertensão, a diabetes, etc.

É importante ressaltar que, individualmente, nenhuma dessas causas define se o paciente apresenta um quadro depressivo ou não. Não é assim tão preto no branco. A depressão possui uma área muito cinzenta, afinal, as determinantes são variadas, assim como os sintomas, a intensidade, a frequência etc. Nem sempre os medicamentos são necessários no tratamento, mas quando são, a resposta é muito positiva. Muitas vezes mais positivas do que em adultos, fazendo com que o tratamento seja um pouco mais breve.

Eu sei que é muito doloroso ver um filho, um sobrinho ou um neto com depressão. Já acompanhei famílias enfrentando juntas esse transtorno, seja na infância ou na adolescência. Em alguns casos, há preconceito e/ou culpa por parte dos pais. Minha sugestão é: não se prenda a esses sentimentos e busque ajuda. Durante todos esses anos vi jovens com crises suicidas, crises de ansiedade, surtos psicóticos, comportamentos autolesivos… como disse, os sintomas são variados. Há algo, porém, que é comum: quando há apoio e compreensão da parte da família, a resposta ao tratamento é ainda mais rápida. Nesse momento, a união e o suporte familiar são mais do que pilares para uma recuperação efetiva. São uma prova de amor.

Quer saber mais? Estou à disposição para solucionar qualquer dúvida que você possa ter e ficarei muito feliz em responder aos seus comentários sobre este assunto. Leia outros artigos e conheça mais do meu trabalho aqui no meu blog. Abração. Tamo junto!



20 de agosto de 2020 Todos

Platão e Aristóteles já se perguntavam qual era a relação entre a mente e corpo antes mesmo do nascimento de Cristo. A discussão seguiu ao longo dos séculos, e deu origem à teoria do dualismo cartesiano, vinda do pensamento do filósofo René Descartes, para quem o corpo e a mente representavam partes separadas e individuais. Será mesmo? O contrário também vem sendo discutido há milhares de anos e o pensamento de que mente e corpo coexistem e interagem em um só organismo foi desenvolvido por Baruch Espinoza, outro filósofo, cuja teoria ganha força a cada dia. Essa relação é tão natural que vemos, em nós mesmos, exemplos da conexão entre corpo e mente todos os dias.

Compreender essa relação é necessária para entendermos o funcionamento do nosso próprio organismo. O ditado “mente sã, corpo são”, portanto, é uma realidade, assim como o contrário também é verdadeiro. Se a mente não está saudável, o corpo pode acabar sofrendo com as consequências, dando origem a doenças psicossomáticas. Já ouviu falar delas?

Como a relação corpo-mente funciona?

Imagine a seguinte situação: dentro de dois minutos você fará uma apresentação importante para os diretores da empresa mostrando os resultados obtidos no último projeto que você e seu time desenvolveram. É uma apresentação importante e que poderá definir os rumos da sua área. Como você se sente em um momento como esse? Essa sensação gera algum efeito físico no seu corpo? Como já mencionei neste outro texto, o medo de falar em público é um dos mais presentes na população, e os “sintomas” mais comuns são mãos trêmulas, sudorese, boca seca… essas são reações fisiológicas vindas do estresse que mostram com clareza a “conversa” entre o corpo e a mente.

Outras situações em que essa relação é evidenciada:

  • Ver uma pessoa à distância e, mesmo sem poder ouvi-la, saber que ela está brava pela forma como seu “corpo fala”;
  • Sentir um frio na barriga quando está prestes a fazer algo que há muito tempo é esperado;
  • Sentir dor de cabeça após um dia de trabalho repleto de pressão e estresse.

Em uma de suas mais renomadas obras, a médica, autora e consultora Eva Selhub afirma que a medicina já não vê mais o corpo e a mente como entidades separadas, mas como uma unidade funcional, assim como afirmava o filósofo Espinoza. Por esse motivo, a mente e as emoções influenciam o corpo, assim como o corpo influencia a mente e as emoções.

Sua linguagem corporal molda seu estado de espírito

A maneira como nos posicionamos e gesticulamos afetam a maneira como somos percebidos por outras pessoas, mas não somente. Uma série de estudos e pesquisas mostram que a linguagem corporal possui efeitos também na forma como nos sentimos. Mais uma evidência de que o corpo está, a todo tempo, se relacionando como nossas mentes e emoções.

Tome como exemplo a “pose do super-homem”. Uma postura ereta, com peito estufado e mãos na cintura. Mantê-la durante um tempo pode fazer a diferença entre o sucesso ou o fracasso, já que é tida como impulsionadora de segurança e autoconfiança. Por sua vez, a pose de braços cruzados, embora seja percebida como uma barreira ou como uma postura defensiva, pode dar um gás na disciplina e na persistência.

Essas são pequenas dicas de como utilizar a conexão corpo-mente a seu favor. Essa relação, porém, pode representar certos perigos.

Doenças psicossomáticas

É comum encontrar pacientes que se queixam de dores em certa região do corpo e, mesmo após uma vasta bateria de exames clínicos, nenhum problema é identificado. Muito possivelmente trata-se de um caso psicossomático.

A psicossomatização é a reação física para um problema emocional. Ou seja, a causa da dor é oriunda de uma questão mental em vez de um ferimento, inflamação ou infecção. Pode acontecer devido a forte estresse, preocupação ou tristeza, manifestando sintomas físicos como queimação no estômago, falta de ar ou dor no peito, por exemplo.

Há um estigma muito grande quanto a doenças psicossomáticas, pois tende-se a crer que é um exagero ou invenção do paciente, já que “não se vê” a doença. No entanto, a psicossomatização provoca dor e incômodo, mesmo fisicamente estando aparentemente tudo bem. Portanto, exige atenção tanto quanto qualquer outro tipo de problema. A atuação de um psiquiatra é fundamental para identificar as causas da doença, oferecer um diagnóstico e um tratamento adequado.

É importante investir sempre em prevenção e evitar a necessidade de um tratamento. Estresse faz parte do dia a dia, eu sei. Estamos a todo tempo preocupados com questões familiares ou sendo pressionados nas empresas, seja por chefes, clientes ou por metas desafiadoras. De qualquer forma é preciso desacelerar e buscar alternativas para uma vida saudável e equilibrada. Veja algumas ideias que você pode aplicar facilmente:

  • Utilize aplicativos a seu favor. Busque um app de meditação guiada que ajude você a se conectar consigo mesmo, nem que seja durante 10 ou 15 minutos por dia;
  • A correria faz a gente negligenciar nossa alimentação. Busque sempre manter uma dieta balanceada e saudável;
  • Crie um espaço relaxante para dormir à noite;
  • Faça atividades físicas regularmente, mesmo que durante 15 minutos por dia;
  • Psicoterapia é uma excelente ferramenta para aliviar um pouco da carga emocional e buscar soluções para as dúvidas do dia a dia;
  • Dedique-se a seus hobbies e nem por um momento sinta culpa por não estar sendo produtivo. Tá tudo bem!


12 de agosto de 2020 Todos

Meses de distanciamento social, como esses últimos que vivemos, podem representar uma fase difícil até mesmo para os mais caseiros e reservados. Diante de um cenário de pandemia e mortes causadas pelo coronavírus, no entanto, é importante fazer sacrifícios para evitar que a doença se espalhe. Bares, restaurantes, clubes e lojas estão voltando a abrir aos poucos e seguindo medidas de segurança, mas ainda encontram dificuldades em bater as metas do mês, afinal, muitas pessoas ainda seguem firmes na quarentena e preferem se manter em isolamento dentro de casa. Outras, porém, não abrem mão de desopilar e reencontrar seus amigos depois de tanto tempo distanciados. Em qual desses times você está jogando? Você já parou pra pensar o que leva a esses comportamentos distintos? O que acontece com a mente humana quando adotamos isolamento social?

 

Efeitos colaterais do isolamento social

Nós somos criaturas sociais. Vivemos nossa vida inteira fazendo parte de comunidades: grupos de amigos, times de trabalho, núcleos familiares. Temos o hábito de sair, encontrar outras pessoas, interagir, cooperar e criar novos vínculos. A partir do momento em que somos forçosamente lançados a um cenário de isolamento para conter a disseminação de um vírus, ocorre uma forte ruptura. Mesmo assim, continuamos sociais. Afinal, mesmo com o distanciamento físico, seguimos fazendo parte de uma sociedade e ainda se faz necessário interagir com outras pessoas para que a vida siga, seja no mercado, na farmácia, no hospital. Muitos serviços, como esses considerados essenciais, funcionam normalmente e mostram que as comunidades nunca são totalmente dissolvidas, apesar do isolamento.

Em um momento como o atual, hábitos devem ser repensados, certos comportamentos devem ser suspendidos e novos cuidados devem ser tomados, afinal, há uma série de efeitos colaterais causados pelo isolamento social. Como você tem se sentido ao longo desses últimos meses? Perceba que estamos desde março ouvindo falar dos riscos de contrair o coronavírus e da crescente quantidade de mortes causadas por ele. Até uma vacina eficaz ser criada, a tendência é de que as notícias continuem não animando muito. Portanto, a ansiedade, que já era bastante comum na sociedade mesmo antes da eclosão do COVID-19, tende a aumentar ainda mais. São comuns pensamentos como “será que vai acontecer comigo?”, “será que já aconteceu?” ou “se eu for ali, será que serei contagiado?”. Você passou ou está passando por isso?

A solidão e o isolamento social prolongado podem dar origem, também, a problemas de saúde física, como uma maior taxa de mortalidade e um maior risco de doença arterial coronariana, conforme sugere um estudo conduzido na Universidade de York, uma das principais do Reino Unido. Em curto prazo, o isolamento pode, além da ansiedade, gerar comportamentos depressivos e elevar os níveis de produção de cortisol, popularmente conhecido como hormônio do estresse.

 

É possível evitar esses efeitos?

Pode parecer assustador pensar em ser acometido por uma doença arterial quando está tentando fugir de uma doença causada por vírus. Mas lembre-se de que essa é apenas uma possível consequência de um isolamento excessivamente prolongado. De qualquer forma é importante perceber como o afastamento de pessoas tem, sim, uma série de desdobramentos que colocam em xeque nosso bem-estar físico e mental. E mesmo os efeitos de curto prazo – ansiedade e estresse – podem e devem ser combatidos.

Manter o corpo ativo enquanto está isolado pode parecer difícil pois as academias, embora já estejam abertas, ainda representam alguns riscos, assim como parques, praças e outros locais com concentração de pessoas. É possível, no entanto, evitar o sedentarismo com ou até mesmo sem nenhum equipamento, como pular corda, fazer flexões, abdominais, burpees e outros. São alternativas para manter-se saudável física e mentalmente e rebater o estresse causado pelo aumento de cortisol.

Outras medidas também podem ser adotadas para não entrar em uma espiral de preocupação, medo e ansiedade. A própria Organização Mundial da Saúde recomenda controlar o acesso a notícias, por exemplo. É muito importante se manter informado acerca dos últimos acontecimentos, mas há limites. Consumir muitas notícias pode ser fonte de angústia pois, como expliquei anteriormente, as informações que vemos e lemos ainda não são muito boas. Há quem busque manter a saúde mental em dia por meio da meditação, ioga e outras práticas de mindfulness. O acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra também é bem-vindo. Há, ainda, quem esteja relaxando um pouco a quarentena e busque um respiro encontrando amigos em casa, em bares e restaurantes, apesar dos riscos. Você tem seguido o isolamento à risca ou tem furado a quarentena? De qualquer forma, é interessante pensar o que leva a esses dois comportamentos. Por que algumas pessoas insistem em se expor ao risco?

 

Por que algumas pessoas furam a quarentena?

Centros comerciais, restaurantes, bares, praias… reportagens vêm mostrando uma crescente circulação de pessoas em espaços públicos, mesmo com o número de mortes causadas pelo coronavírus já terem ultrapassado a incrível marca de 100 mil.

É muito preocupante, eu entendo. A questão central, no entanto, é que ainda não há perspectiva de mudança ou melhora, indicando que o isolamento social se estenderá por muitos meses ainda. No início da pandemia, as taxas de isolamento eram maiores e foram caindo ao longo dos meses, embora o risco ainda esteja circulando no ar. Essa transgressão é um comportamento biológico. Como já expliquei neste texto sobre o medo da morte, herdamos dos nossos ancestrais o ímpeto de lutar ou de fugir de um perigo iminente. No início da pandemia, nós fugimos e buscamos abrigo dentro de nossas casas. Fomos preparados para cenários como esse, desde que não sejam tão duradouros como uma pandemia, pois o cérebro humano é incapaz de permanecer em estado de alerta por tanto tempo, pois isso gera um desgaste e um sofrimento mental conforme as semanas passam. A esse fenômeno damos o nome de “falência adaptativa”. Soma-se isso ao fato de que enfrentamos um inimigo invisível e temos a tempestade perfeita: um aumento no número de pessoas que furam a quarentena para promover encontros com amigos ou participar de festas.

Temos um conflito muito grande. Por um lado, precisamos da conexão social e não suportamos nos manter isolados por muito tempo. Por outro, é preciso se preservar para evitar ser contagiado e, consequentemente, contagiar outras pessoas. O que fazer? Bem, a escolha é individual. Cada um conhece suas próprias necessidades, assim como conhece os riscos aos quais se expõe. Se a intensa solidão, ansiedade e busca por prazer for maior que a vontade de estar seguro em casa, é provável que haverá transgressão. Embora a medida mais eficaz para combater a disseminação do COVID-19 seja o isolamento, o próprio governo, na busca por uma retomada econômica, estimula que as pessoas voltem a adotar alguns hábitos de consumo. O importante, então, é a redução de danos. Seguir estritamente as medidas de distanciamento, o uso adequado de máscaras e a higienização constante das mãos.

Se você está no time daqueles que estão inclinados a furar a quarentena para se reencontrar com amigos, pense duas vezes. Nossa cultura é extremamente calorosa, e o contato social faz muita falta, eu sei. Mas dê preferência à segurança, tanto à sua quanto a dos outros. Se, mesmo assim, o ímpeto de sair de casa acabar dominando você, atente-se sempre às medidas de prevenção e opte por lugares abertos, com baixíssima concentração de pessoas. Se você é do time dos isolados e prefere se manter em casa, você provavelmente se sente impotente ao ver as cenas das praias lotadas, bares cheios de clientes e centros comerciais bombando. Entendo a sua preocupação. É como ver o coronavírus em ação, certo? Em todo caso, saiba que você está fazendo tudo o que está ao seu alcance para preservar você, sua família e a sociedade. Evite se revoltar e constranger aqueles que acabam saindo de casa. Isso não irá eliminar o comportamento transgressor, irá apenas levar as pessoas a fazerem isso escondido. No fim das contas, se pararmos pra pensar, não há times, pois estamos em uma só torcida: que em breve seja descoberta e distribuída uma vacina eficaz. Tamo junto!



5 de agosto de 2020 Todos

Pouco se fala sobre a morte em nossa cultura e pouco se sabe sobre ela. Afinal, como é morrer? O que há além da morte? Quando ou como irá acontecer? Essas perguntas, que seguem sem respostas, podem dar origem à angústia, preocupação e ansiedade, tornando comum o medo de morrer. É um medo instintivo, assim como todos os outros. Naturalmente buscamos evitar a morte e fazemos o possível para que isso não aconteça. A única certeza, no entanto, é de que a morte acontecerá. É inevitável. E é justamente por isso que fazer as pazes com esse medo é importante para encararmos com naturalidade o processo da morte, tanto a nossa como a de outros.

 

O que é o medo

Na época em que o homem vivia em cavernas e precisava caçar para se alimentar, o sentimento de medo era o que garantia sua sobrevivência. Imagine que, em suas caminhadas pelas florestas, ele notasse um arbusto que se mexia. Ali atrás poderia estar um coelho que seria seu almoço ou uma onça que faria dele sua refeição. O medo era um gatilho que gerava uma reação instintiva de atacar ou defender. Herdamos esse instinto. O medo é, então, importante por acender um alerta capaz de gerar proteção a uma potencial ameaça, que pode ser real – como a onça atrás do arbusto – ou pode ser consequência de uma experiência vivida anteriormente – como o medo de dirigir por ter se envolvido em um acidente durante a infância. Nesse caso, o acompanhamento de um profissional da saúde mental é bem-vindo para neutralizar o trauma adquirido pela vivência. O medo pode, ainda, estar presente apenas na nossa mente, como acontece com grande parte deles. Isso porque muitos dos medos são criações inconscientes para evitar situações que podem nos expor ao julgamento, à rejeição, ao fracasso e a tantos outros desconfortos que não queremos vivenciar.

Esse último tipo de medo, que possui uma raiz mais profunda e muitas vezes inconsciente, é um sentimento que está sempre projetado no futuro, pois é fruto de algo que desejamos impedir, causando sofrimento por algo que não está enraizado na realidade, mas dentro de nós mesmos. Vamos tomar como exemplo o medo de falar em público, um dos mais comuns na população, que pode estar atrelado ao medo de não ser aceito pelos ouvintes e não atender suas expectativas, gerando críticas. O medo de se relacionar amorosamente pode ser, na verdade, reflexo do medo de ser abandonado. O grande problema é que medos como esses tendem a ser obstáculos para uma vida realmente plena e uma série de oportunidades podem ser perdidas se não soubermos lidar com eles de maneira producente, além de gerarem uma série de sentimentos que colocam em xeque o nosso bem-estar. Com o medo da morte acontece a mesma coisa. Vamos conferir quais são as possíveis raízes por trás desse medo?

 

Encontrando a raiz do medo da morte

O desconhecido pode ser aterrorizante, eu sei. Esse é um dos principais fatores que tornam a ideia da morte tão assustadora, mas não é o único. De onde vem o seu medo? Já parou para pensar sobre isso? Essa reflexão é bem-vinda pois todo medo só pode ser superado aprofundando-se nos gatilhos que geram a sensação de ameaça.

É comum que pais e mães temam a morte por se preocuparem com seus filhos. É o seu caso? Muitos dizem que passam a adotar atitudes mais prudentes após se tornarem pais, pois o medo, na realidade, é de que deixem seus filhos sem provento ou proteção. Isso acontece sobretudo quando a criança ainda está na infância, mas pode perdurar por toda sua vida. Dessa forma, o filho passaria a viver sozinho no mundo sem alguém que o ame na mesma proporção que a mãe ou o pai. Esse sentimento pode se manifestar também em um medo de adoecer e deixar os filhos sem cuidado, mesmo que por um tempo. Há variações: o filho que tem medo de morrer e causar sofrimento aos pais, ou a esposa que teme a morte para não deixar o marido sozinho ou vice-versa. De qualquer forma, o medo é infligir luto e tristeza ao outro.

Há também o medo de não viver uma vida realmente satisfatória ou de chegar ao leito de morte sem ter deixado um legado. O medo, nesse caso, é da vida. É de não ter a oportunidade de viver bem, de não ter conquistado ou aproveitado o suficiente.

Muitos dizem que não temem a morte em si, mas a morte trágica ou a morte dolorosa. É o que acontece com você? O medo aí está mais atrelado à dor e ao sofrimento físico e emocional. Essa possivelmente seja uma variedade de medo que aflige a todos, pois é também natural que evitemos passar por experiências dolorosas. É isso que motiva muitas pessoas a acordar 6h da manhã para ir à academia e correr em uma esteira. Ou a se colocar nu frente a um médico para um exame constrangedor. Queremos viver com qualidade, saúde e energia e torcemos sempre para que a nossa experiência de morte seja tranquila e em paz. Muitas vezes, apenas o pensamento de uma morte terrível já é suficiente para provocar ansiedade ou angústia. É o seu caso?

Culturalmente não temos o hábito de tratar sobre a morte. Quando alguém traz esse assunto à tona é comum que seja interrompido. A própria palavra “morte” já é vista como sombria e tenebrosa, mas seja qual for a fonte do medo, é importante relembrar que a morte faz parte do processo de viver. É a conclusão de todos os nossos projetos humanos e o encerramento de todas as nossas relações. Pode parecer difícil encarar essa finitude, eu sei. Eu entendo. No entanto, essa é a realidade e, mais cedo ou mais tarde, todos teremos de enfrentá-la, o que torna esse diálogo ainda mais necessário.

 

Como superar o medo da morte

Eu entendo o medo de deixar um filho, afinal também sou mãe. E por mais que a morte seja um tabu, é importante tratar do assunto com as crianças. Engana-se quem pensa que elas não sabem absolutamente nada sobre o assunto, pois a morte é retratada em filmes, livros e desenhos, muitas vezes de forma simbólica e muitas vezes explicitamente, como em O Rei Leão, Up – Altas Aventuras ou Viva – A Vida é uma Festa.

Muitos imaginam que a coragem é o oposto do medo, mas na realidade é a fé. E assim como é necessário falar sobre a morte, é também necessário nutrir a crença de que tudo ocorrerá bem. Veja, por mais que busquemos agir sempre com cuidado e prudência, nem tudo está sob nosso controle. Se evitamos voar de avião por medo de acontecer um acidente, o medo nos faz fugir e faz com que deixemos de aproveitar uma viagem. Se tivermos a crença de que tudo ocorrerá bem no voo, nós encaramos. E é essa fé que devemos nutrir para podermos lidar com o medo de maneira saudável. Fé de que iremos e voltaremos em segurança do trabalho, de que não seremos vítima de violência na rua e de que, no fim do dia, estaremos mais uma vez ao lado daqueles que amamos, seja um filho, uma mãe, um pai, ou um parceiro amoroso.

Entendo também o medo de não viver uma vida plenamente satisfatória. Estamos a todo o tempo em contato com conteúdos que podem nos trazer a sensação de que estamos perdendo o melhor da vida, seja por meio de mídias sociais, filmes e outros formatos que nos expõem a uma vida glamurosa e repleta de experiências que parecem não fazer parte da nossa realidade. É preciso tomar o controle de nossa própria vida e fazer escolhas conscientes que nos permitam viver o melhor agora ao invés de se preocupar com o futuro de uma trajetória que pode levar décadas para se concretizar. Esteja consciente da sua finitude, mas viva o momento presente de maneira que suas ações tenham um significado pessoal para você. Cerque-se de pessoas que tornem sua vida mais colorida. Estipule objetivos que sejam importantes para você. Se seu sonho é conhecer alguma ilha na província da Indonésia, planeje-se para isso. Se seu sonho é abrir uma empresa, estude para isso. Trace metas realistas e entre em ação para que você esteja a cada dia mais próximo dessas conquistas. E então, quando se aproximar o momento da sua morte, você terá a plena certeza de que viveu exatamente da maneira como você queria.

Ninguém sabe o que acontece após a morte, e possivelmente ninguém jamais saberá, mesmo assim é possível aliviar o peso da possibilidade de morte – seja a sua própria ou a de terceiros – por meio de suas crenças pessoais ou sua espiritualidade. Mesmo que você não acredite em vida espiritual ou em vida após a morte e ache que ela seja o ponto final de qualquer ciclo, essa também é uma crença. Ao chegar no fim da vida, lembre-se de que você terá cumprido seu propósito por aqui. Você, sem dúvida alguma, terá impactado pelo menos uma vida e feito a diferença na trajetória de alguém. Você será lembrado. E isso é suficiente para ter vivido com significado.

Bronnie Ware é uma enfermeira da Austrália que acompanha pacientes que estão nas últimas semanas de suas vidas. Ela se tornou conhecida por registrar conversas com essas pessoas em seus leitos de morte e elencou alguns dos principais arrependimentos no livro Antes de Partir. Um dos mais comuns era justamente o desejo de ter aproveitado a vida do jeito que almejavam e não da maneira como os outros queriam. Então não espere para se arrepender disso quando já não houver mais tempo. Viva o hoje, viva da maneira que você deseja e como te faz feliz. Esteja presente na vida das pessoas que você ama e diga como se sente em relação a elas. Quando for o momento de se despedir da sua vida, você não levará consigo esse tipo de sentimento. E então, seguramente, você chegará lá com um único pesar: o de não poder retornar para viver sua boa vida toda novamente, mas com a certeza de que você viveu e valorizou cada instante.




NEWSLETTER








    Sobre



    Médica graduada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Residência em Psiquiatria no Instituto de Psiquiatria Universidade Federal do Rio de Janeiro.


    Contato


    São Paulo – SP

    Rua Cubatão, 86 – 405 – Paraíso


    WhatsApp


    E-mail

                  aline@apsiquiatra.com.br

    Nosso material tem caráter meramente informativo e não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico, autotratamento ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte o seu médico.

    Copyright © 2023 – Todos os direitos reservados

    Política de Privacidade

    × Agende sua consulta