Desde quando a Aids se tornou mais amplamente conhecida, na década de 80, até os dias atuais, houve uma grande evolução quanto ao tratamento da doença. O Brasil deu um importante passo neste caminho quando, no fim dos anos 90, conseguiu democratizar o acesso aos medicamentos antirretrovirais, ampliando, dessa forma, a expectativa de vida das pessoas que vivem com o vírus HIV (vírus da imunodeficiência humana).
Hoje, com medicação, alimentação adequada e apoio psicológico, o diagnóstico da Aids deixou de ser uma “sentença de morte imediata”. É uma doença crônica. Tudo que a pessoa que vive com o HIV precisa é ter acesso à assistência médica, psicológica e social, conforme suas necessidades e no momento certo. O indivíduo com Aids tem que receber assistência integral, muito além do “coquetel” antirretroviral.
Consequências do vírus HIV sobre o cérebro
Embora a terapia antirretroviral seja um tratamento muito eficiente, o portador do vírus está sujeito a outros problemas de saúde, como os transtornos relacionados à Aids. Alterações neurológicas, por exemplo, podem ocorrer por ação direta do vírus no sistema nervoso central ou em decorrência de outros fatores como doenças oportunistas, entre as quais a neurotoxoplasmose, meningite tuberculosa e neurocriptococose, que atingem o cérebro. Estas patologias causam danos psiquiátricos, cognitivos e motores.
Por estar localizado ao lado do sistema linfoide, o sistema nervoso central tem grande chance de ser atingido pelo vírus HIV. Diversas pesquisas já confirmaram a presença do vírus em tecidos do cérebro e no líquido cefalorraquidiano. O vírus HIV, além abrir as portas do organismo para infecções oportunistas, também destrói células do cérebro e bloqueia o desenvolvimento de novas células-tronco que se transformariam em neurônios.
Ou seja, além de provocar graves lesões no cérebro, o vírus impede a neurogênese, que é o nascimento das células-tronco. Os sintomas desse processo são as alterações do sono, confusão mental, perda de memória, dificuldade para raciocinar e perda da capacidade motora. A ação do HIV no cérebro pode desencadear transtornos ou acentuar transtornos de personalidade, bipolaridade, mania e esquizofrenia.
Fatores de risco das alterações neurológicas
- Infecções oportunistas no sistema nervoso central
- Alterações neurológicas causadas pelo vírus
- Distúrbios psiquiátricos preexistentes
- Uso de álcool e drogas psicoativas
- Estigma social, que leva ao isolamento
Depressão: Um dos poderosos transtornos relacionados à Aids
De todos os transtornos psiquiátricos, a depressão é o problema que é mais prevalente em indivíduos com Aids. A ação do vírus HIV, doenças oportunistas e o estigma social podem desencadear a depressão. E o indivíduo com depressão corre o risco de abandonar o tratamento e até cometer suicídio. Outros transtornos neurológicos também prejudicam a terapia antirretroviral, seja pela falta de adesão ao tratamento ou pelos efeitos causados por interações dos medicamentos.
Como consequência, o vírus acaba se multiplicando ainda mais no cérebro, causando danos à vezes irreversíveis. Estudos mostram que não fazer uso da medicação antirretroviral para conter a carga viral pode resultar em demência, que é um dos transtornos cognitivos mais graves. Portanto, é fundamental que a Aids seja detectada precocemente e que o portador do vírus receba o apoio necessário para iniciar o tratamento e não abandoná-lo no meio do caminho.
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